[unisinos]
O Papa Francisco deu início à celebração mundial católica dos dias que levam à Páscoa
com um chamado na quinta-feira, dia 24 de março, para que as pessoas
“rompam aqueles esquemas estreitos” no sentido serem mais
misericordiosas para com os outros, dizendo aos sacerdotes que por vezes
eles se cegam à vontade de Deus “devido ao excesso de teologias
complicadas”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 24-03-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em uma missa solene na Basílica de São Pedro para a celebração da Quinta-Feira Santa,
o pontífice falou que Jesus combateu não em busca de sua própria
glória, mas para “abrir uma brecha à torrente da misericórdia que deseja
(…) derramar sobre a terra”.
“A Misericórdia do nosso Deus
é infinita e inefável”, disse o papa. “O Senhor prefere ver alguma
coisa desperdiçada antes que faltar uma gota de misericórdia”.
Segundo ele, Deus “prefere que muitas sementes acabem comidas pelas
aves em vez de faltar à sementeira uma única semente, visto que todas
têm a capacidade de dar fruto abundante, ora 30, ora 60, e até mesmo 100
por uma”.
Falando diretamente a milhares de padres que participavam da liturgia, Francisco
acrescentou que Jesus havia chamado para serem os ministros de Deus o
povo pobre, o faminto, o prisioneiro de guerra, pessoas sem futuro, um
resto descartado.
“Nós, como sacerdotes, identifiquemo-nos com aquele povo descartado,
que o Senhor salva”, complementou. “Lembremo-nos de que existem
multidões inumeráveis de pessoas pobres, ignorantes, prisioneiras, que
estão naquela situação porque outros as oprimem”.
Francisco então encorajou os ali presentes a
recordarem que “cada um de nós sabe em que medida tantas vezes somos
cegos, estamos privados da luz maravilhosa da fé, e não porque nos falte
o Evangelho ao alcance da mão, mas por um excesso de teologias
complicadas”.
“Sentimos que a nossa alma morre sedenta de espiritualidade, e não por falta de Água Viva
– que nos limitamos a sorver aos goles – mas por um excesso de
espiritualidades sem compromisso, espiritualidades superficiais”, disse
ele.
O pontífice falava na homilia da Missa do Santo Crisma, celebração
anual realizada na Quinta-Feira Santa durante a qual o papa abençoa os
óleos sacramentais a serem usados ao longo de todo o ano litúrgico.
Geralmente a celebração conta com a presença de muitos sacerdotes.
Durante a missa, o papa leva os ministros presentes a renovarem os seus
votos sacerdotais.
A Quinta-Feira Santa é celebrada pelos cristãos ao redor do mundo
para marcar o dia em que Jesus teve a sua última ceia. Esta celebração
dá início aos três dias que conduzem ao Domingo de Páscoa, conhecido como o Tríduo Pascal.
Francisco vai dar continuidade à celebração à tarde,
dirigindo-se a um centro para refugiados perto de Roma, onde
simbolicamente lavará os pés de refugiados e refugiadas, seguindo o
exemplo de Jesus, quem teria lavado os pés de seus discípulos.
Em uma das únicas mudanças litúrgicas feitas até agora em seu pontificado de três anos, o papa alterou, em janeiro passado, o Direito Canônico
para permitir que os padres lavem os pés tanto de mulheres como de
homens em tais cerimônias, feitas nas igrejas ao redor do mundo na
Quinta-Feira Santa.
Durante a homilia na manhã quinta-feira, o papa novamente salientou a
natureza misericordiosa de Deus. Disse que as pessoas deveriam olhar
para o exemplo divino e sem hesitar em mostrar um excesso de
misericórdia para com os outros.
O pontífice afirmou que, depois de Deus conceder o perdão através de
sua misericórdia, as pessoas são imediatamente restauradas em sua
dignidade: “[Deus] não só perdoa dívidas incalculáveis (...), mas
faz-nos passar diretamente da vergonha mais envergonhada para a
dignidade mais alta, sem qualquer etapa intermédia”.
Em seu discurso dirigido diretamente aos padres, o pontífice falou
que estes às vezes também se sentem “prisioneiros (…) por um mundanismo
virtual que se abre e fecha com um simples clique”.
“Somos oprimidos, não por ameaças e empurrões, como muitas pessoas
pobres, mas pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não
conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos
conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que
aguardam pela voz dos seus pastores”, disse.
Francisco encerrou a homilia mencionando o Ano Jubilar da Misericórdia
atualmente em curso, pedindo a Deus que “nos comprometamos a comunicar a
Misericórdia de Deus a todos os homens, praticando as obras que o
Espírito suscita em cada um para o bem comum de todo o Povo fiel de
Deus”.
Nesse mesmo dia à tarde, o pontífice irá se dirigir ao centro de refugiados,
a 25 quilômetros ao norte de Roma, para celebrar a Missa Vespertina da
Ceia do Senhor com 892 migrantes que pediram asilo na Europa.
Uma vez aí, o papa irá lavar os pés de oito homens e quatro mulheres,
segundo informou o Vaticano. Cinco destas pessoas serão católicas; três
ortodoxas; três muçulmanas; e uma hindu.
O centro de refugiados, em operação desde 2007 e que ajuda refugiados de 25 países diferentes, disse que a visita de Francisco “nos convida a um compromisso renovado em ajudar os migrantes”.
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