O entendimento da ordenação hoje é diferente do entendimento da Igreja primitiva, ou o do século X, ou mesmo da Idade Média.
Portanto, não há qualquer razão pela qual esse desenvolvimento na
compreensão teológica não possa continuar hoje, e todos os ministérios
ordenados não possam ser abertos às mulheres.
A opinião é do historiador e escritor australiano Paul Collins, mestre em Teologia pela Harvard University e doutor em história pela Australian National University. Foi padre católico durante 33 anos. O artigo foi publicado no sítio John Menadue – Pearls and Irritations, 17-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A Via di Santa Prassede é uma ruela perto da imponente Basílica de Santa Maria Maior, a igreja favorita do Papa Francisco em Roma. Mas há um edifício histórico muito significativo logo nas proximidades: a Basílica de Santa Praxedes, na viela que leva o nome da igreja. Ela foi construída por um papa odiado, Pascal I (817-824). Seria bom que Francisco, à luz da sua decisão de criar uma comissão para estudar a possibilidade de existência de diaconisas, dê um pulo na Santa Praxedes da próxima vez que ele estiver na área. Ele vai achá-la muito esclarecedora.
A Santa Praxedes é famosa pelos seus mosaicos deslumbrantes sobre o altar-mor e na pequena capela extraordinária de Zeno.
Na luneta norte da capela, há quatro mulheres que, ao estilo bizantino,
olham diretamente para você. A ligeiramente mais alta é Maria, com o véu azul. Ela está rodeada pelas irmãs Praxedes (à qual a igreja é dedicada) e Prudenciana.
Mas é a primeira mulher que se destaca. Ela tem um incomum nimbus
(auréola) retangular em torno da sua cabeça, que significa que ela
ainda estava viva quando o mosaico foi criado. Uma inscrição em letras
douradas a identifica como "Theodo[ra] Episcopa", "Teodora, a bispa". Ela era mãe de Pascal I, mas não é por isso que ela era chamada de episcopa.
Episcopa significa "bispa",
"presbítera" ou "anciã". Isso sugere que ela exerceu uma autoridade na
Igreja equivalente à dos homens que tinham o mesmo título. O problema
está em reconectar exatamente o que esses títulos significavam na época e
que função Teodora cumpria.
Isso nos leva às diaconisas, um status muito mais humilde do que o de episcopa. O Papa Francisco recentemente participou de uma sessão de perguntas e respostas de improviso com 900 líderes de congregações religiosas femininas, durante a qual ele se comprometeu a estabelecer uma comissão para estudar as diaconisas.
Ele admitiu que o papel das diaconisas na Igreja primitiva "era um
pouco obscura" e perguntou a si mesmo: "Elas tinham a ordenação ou
não?". Membros do Vaticano ficaram furiosos ou tremendo, ou as duas
coisas, com essa última indiscrição papal!
As diaconisas remontam à Igreja do Novo Testamento. Paulo chama Febe de "uma diaconisa da Igreja de Cencreia" (Romanos 16, 1), e as evidências da existência de mulheres diáconos na Igreja primitiva são esmagadoras. O Instituto de Pesquisa Católica Wijngaards, do Reino Unido, fez uma enorme quantidade de trabalhos sobre esse assunto (www.wijngaardsinstitute.com/can-women-be-priests), e o seu fundador, John Wijngaards, tem diversos livros sobre o tema. Cipriano Vagaggini e Phyllis Zagano também fizeram muita pesquisa nessa área.
Fica claro, a partir de recentes
trabalhos históricos, que o significado da ordenação mudou. Por exemplo,
a evidência é esmagadora de que até o século X as mulheres atuavam em
papéis que agora estão confinados aos padres do sexo masculino. Gary Macy mostrou de forma conclusiva que abadessas do sexo feminino eram ordenadas ao seu papel e exerciam funções sacerdotais. Macy diz
que, de acordo com o entendimento da época, as abadessas "eram tão
verdadeiramente ordenadas quanto qualquer bispo, padre ou diácono".
A implicação disso é que o significado
da ordenação mudou. Se assim for, então, ele pode mudar de novo. Então, a
carta apostólica Ordinatio sacerdotalis, de João Paulo II,
de 1994, que afirma que a Igreja não tem autoridade para ordenar
mulheres ao sacerdócio, não pode ser chamada de "infalível", apesar de
ter sido reforçado pelo então cardeal Ratzinger que esse ensinamento tinha sido "proposto infalivelmente pelo magistério ordinário".
Não há nenhuma referência na Ordinatio sacerdotalis às diaconisas, o que leva Phyllis Zagano
a argumentar que "a restauração das mulheres ao diaconato ordenado
torna-se menos complicada", porque é "um regulamento, não uma doutrina".
Eu não concordo muito com isso. O Catecismo da Igreja Católica diz de forma inequívoca: "Hoje, a palavra ordinatio
é reservada ao ato sacramental que integra na ordem dos bispos, dos
presbíteros e dos diáconos" (n. 1.538). Assim, a ordenação ao diaconato,
na compreensão contemporânea, é uma ordenação sacramental. Mas Zagano está certa de que não há nenhuma referência a mulheres diáconos na Ordinatio sacerdotalis. Por quê?
A Comissão Teológica Internacional, instituída pela Congregação para a Doutrina da Fé de Ratzinger, tentou responder a essa questão e, depois de seis anos de deliberação, em 2002, "aprovou um documento inconclusivo", que, diz Zagano,
argumentou que "diáconos do sexo masculino e feminino tinham papéis
diferentes na Igreja primitiva" e que "o sacerdócio e o diaconato são
ministérios separados e distintos".
A Comissão Teológica Internacional
foi confrontada com provas irrefutáveis da existência de diaconisas na
Igreja primitiva, que não podiam ser conciliadas com os ensinamentos do Catecismo
sobre a ordenação. Então, eles disseram que as diaconisas não eram
ordenadas no sentido contemporâneo. Mas o problema é que os diáconos do
sexo masculino (assim como padres e bispos) na Igreja primitiva também
não eram ordenados no sentido contemporâneo. Era por isso que a Igreja
romana do século IX podia felizmente chamar Teodora de episcopa.
Para os reacionários vaticano de hoje,
essa é uma terrível lata de vermes que, se for aberta, poderá levar para
qualquer lugar, até mesmo ao questionamento da exclusão das mulheres,
por parte da Ordinatio sacerdotalis, em relação ao sacerdócio. Para Gerhard Müller, atual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, as diaconisas são a "ladeira escorregadia" que pode, no fim, levar às mulheres bispas.
O que pessoas como Müller
não conseguem pensar é a noção de desenvolvimento teológico. O
entendimento da ordenação hoje é diferente do entendimento da Igreja
primitiva, ou o do século X, ou mesmo da Idade Média.
Portanto, não há qualquer razão pela qual esse desenvolvimento na
compreensão teológica não possa continuar hoje, e todos os ministérios
ordenados não possam ser abertos às mulheres.
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jbpsverdade: Deus não muda, e a Sua doutrina também, Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre será o mesmo. São Paulo escreve aos Gálatas o seguinte: De fato, não há dois (evangelhos): há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas,
ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um
evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado! É,
porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso
tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos
homens, não seria servo de Cristo. Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo. (Gl 1, 7-12), não existe dois evangelhos, não existe duas doutrina, o que Cristo determinou, homem nenhum pode mudar, inclusive o Papa.
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