Por Dom João Carlos Petrini*
Sobre a pastoral ele recomenda acompanhar, discernir e integrar a fragilidade das pessoas.
Título, traduzido em português como 'A Alegria do Amor' já indica a chave de leitura do Papa Francisco. |
A Exortação Apostólica Pós Sinodal
Amoris Laetitia é o documento que o Papa Francisco elaborou após os dois
Sínodos que ele convocou em 2014 e em 2015 para pensar a família no
contexto do mundo contemporâneo.
O título, traduzido em português como “A Alegria do Amor” já indica a chave de leitura do Papa Francisco: ele fala do amor como fonte de alegria e de realização humana, especialmente quando é vivido segundo o desígnio de Deus, como relação entre um homem e uma mulher que constituem uma família fundada no matrimônio e aberta para gerar filhos e educá-los, com o compromisso de viver um amor que se doa e que tem a característica de ser único e exclusivo.
O Papa não se limita a anunciar o evangelho da família, a boa nova que é constituída pela família, ele enfrenta com realismo e coragem as situações de sofrimento, de rupturas que provocam feridas nos diversos membros da família. Sua intenção é, de um lado, fazer com que os jovens, que manifestam um forte desejo de família, tenham entusiasmo para formar uma família que pode proporcionar a alegria de que fala o título. De outro lado, ele quer dizer que ninguém deve sentir-se excluído do amor de Deus, do abraço de ternura e da misericórdia que Deu quer dar a todos os seus filhos, especialmente os que estão marcados por grandes sofrimentos.
O Sínodo de outubro passado do qual tive a graça de participar, consistiu em três semanas de intenso trabalho feito em assembleia pelos quase 200 padres sinodais vindos do mundo inteiro, cada um tendo a possibilidade de apresentar algum aspecto da família. O Papa Francisco esteve presente em todas as Assembleias, menos uma em que ele encontrava o povo na Praça de São Pedro. Além dessas Assembleias, uma boa parte do trabalho foi feita em grupos linguísticos.
Cada um dos dois Sínodos terminou com a elaboração de uma relação final que foi entregue ao Papa, como primeiro material para ele elaborar a Exortação. De fato, a Amoris Laetítia faz muitíssimas referências a essas relações.
A Exortação apresenta uma continuidade e uma inovação. A continuidade é com a doutrina católica a respeito do Matrimônio e da Família. O próprio Papa repete em diversos lugares que a doutrina permanece intocada, porque nos seus aspectos mais importantes vem diretamente de Jesus. Por isso, ele reafirma a necessidade de anunciar a boa notícia da família segundo o desígnio de Deus como o melhor caminho para viver o amor também nos dias atuais. Assim, no n. 330, a Exortação nos diz: “Não se devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canônico, aplicável a todos os casos. É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares.”
A grande inovação está na postura da ação pastoral, isto é, no convite a acolher todas as pessoas sem condenar quem por circunstâncias diversas não conseguiu viver bem a realidade de sua família e chegou a romper os vínculos através do divórcio e a criar uma segunda união.
Nesse sentido o Papa recomenda acompanhar, discernir e integrar a fragilidade das pessoas. O tema do acompanhamento é particularmente querido pelo Papa e retorna em muitos seus textos. Na Exortação, recomenda acompanhar as famílias de recém-casados, nos primeiros anos de sua caminhada, que não se vejam sozinhos quando devem enfrentar situações adversas que podem constituir grandes problemas. O convite a acompanhar retorna quando o Papa fala das pessoas divorciadas que realizaram uma segunda união de tipo familiar, para que não se sintam excluídas da comunhão eclesial. Elas podem ser acompanhadas num caminho de conversão e de discernimento para compreender melhor sua situação. Devem ser levadas em conta as diversas circunstâncias que podem atenuar a responsabilidade de cada um, buscando a integração. A palavra integração é o contrário de exclusão. O Papa afirma: “Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia imerecida, incondicional e gratuita” (297).
A Exortação, retomando a relação final do Sínodo, afirma: “Os batizados que são divorciados e recasados devem ser integrados mais intensamente nas comunidades cristãs, de várias maneiras possíveis, evitando todas as ocasiões de escândalo” (299).
Alguns leem a insistência do Papa na integração como uma abertura para que recebam a eucaristia, mas em momento nenhum ele apresenta esta possibilidade de maneira explícita. Tratando-se de matéria tão importante não parece legítimo atribuir ao texto, por dedução, o que ele não traz e fazer dizer ao Papa o que ele mesmo não quis ou não pôde afirmar explicitamente. Esta observação nada retira da grandeza da proposta de Papa Francisco, na linha da misericórdia como a característica de Deus e como a marca da Igreja dos nossos tempos. Este acolhimento que busca integração no caminho da orientação pastoral é a grande novidade da Exortação, que pelo resto permanece no horizonte da grande doutrina católica relativa ao matrimônio e à família.
CNBB, 11-05-2016.
O título, traduzido em português como “A Alegria do Amor” já indica a chave de leitura do Papa Francisco: ele fala do amor como fonte de alegria e de realização humana, especialmente quando é vivido segundo o desígnio de Deus, como relação entre um homem e uma mulher que constituem uma família fundada no matrimônio e aberta para gerar filhos e educá-los, com o compromisso de viver um amor que se doa e que tem a característica de ser único e exclusivo.
O Papa não se limita a anunciar o evangelho da família, a boa nova que é constituída pela família, ele enfrenta com realismo e coragem as situações de sofrimento, de rupturas que provocam feridas nos diversos membros da família. Sua intenção é, de um lado, fazer com que os jovens, que manifestam um forte desejo de família, tenham entusiasmo para formar uma família que pode proporcionar a alegria de que fala o título. De outro lado, ele quer dizer que ninguém deve sentir-se excluído do amor de Deus, do abraço de ternura e da misericórdia que Deu quer dar a todos os seus filhos, especialmente os que estão marcados por grandes sofrimentos.
O Sínodo de outubro passado do qual tive a graça de participar, consistiu em três semanas de intenso trabalho feito em assembleia pelos quase 200 padres sinodais vindos do mundo inteiro, cada um tendo a possibilidade de apresentar algum aspecto da família. O Papa Francisco esteve presente em todas as Assembleias, menos uma em que ele encontrava o povo na Praça de São Pedro. Além dessas Assembleias, uma boa parte do trabalho foi feita em grupos linguísticos.
Cada um dos dois Sínodos terminou com a elaboração de uma relação final que foi entregue ao Papa, como primeiro material para ele elaborar a Exortação. De fato, a Amoris Laetítia faz muitíssimas referências a essas relações.
A Exortação apresenta uma continuidade e uma inovação. A continuidade é com a doutrina católica a respeito do Matrimônio e da Família. O próprio Papa repete em diversos lugares que a doutrina permanece intocada, porque nos seus aspectos mais importantes vem diretamente de Jesus. Por isso, ele reafirma a necessidade de anunciar a boa notícia da família segundo o desígnio de Deus como o melhor caminho para viver o amor também nos dias atuais. Assim, no n. 330, a Exortação nos diz: “Não se devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canônico, aplicável a todos os casos. É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares.”
A grande inovação está na postura da ação pastoral, isto é, no convite a acolher todas as pessoas sem condenar quem por circunstâncias diversas não conseguiu viver bem a realidade de sua família e chegou a romper os vínculos através do divórcio e a criar uma segunda união.
Nesse sentido o Papa recomenda acompanhar, discernir e integrar a fragilidade das pessoas. O tema do acompanhamento é particularmente querido pelo Papa e retorna em muitos seus textos. Na Exortação, recomenda acompanhar as famílias de recém-casados, nos primeiros anos de sua caminhada, que não se vejam sozinhos quando devem enfrentar situações adversas que podem constituir grandes problemas. O convite a acompanhar retorna quando o Papa fala das pessoas divorciadas que realizaram uma segunda união de tipo familiar, para que não se sintam excluídas da comunhão eclesial. Elas podem ser acompanhadas num caminho de conversão e de discernimento para compreender melhor sua situação. Devem ser levadas em conta as diversas circunstâncias que podem atenuar a responsabilidade de cada um, buscando a integração. A palavra integração é o contrário de exclusão. O Papa afirma: “Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia imerecida, incondicional e gratuita” (297).
A Exortação, retomando a relação final do Sínodo, afirma: “Os batizados que são divorciados e recasados devem ser integrados mais intensamente nas comunidades cristãs, de várias maneiras possíveis, evitando todas as ocasiões de escândalo” (299).
Alguns leem a insistência do Papa na integração como uma abertura para que recebam a eucaristia, mas em momento nenhum ele apresenta esta possibilidade de maneira explícita. Tratando-se de matéria tão importante não parece legítimo atribuir ao texto, por dedução, o que ele não traz e fazer dizer ao Papa o que ele mesmo não quis ou não pôde afirmar explicitamente. Esta observação nada retira da grandeza da proposta de Papa Francisco, na linha da misericórdia como a característica de Deus e como a marca da Igreja dos nossos tempos. Este acolhimento que busca integração no caminho da orientação pastoral é a grande novidade da Exortação, que pelo resto permanece no horizonte da grande doutrina católica relativa ao matrimônio e à família.
CNBB, 11-05-2016.
*Dom João Carlos Petrini: Bispo de Camaçari (BA).
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