[unisinos]
Há algum tempo, parece possível notar que a lógica do et-et está sendo substituída na nossa Igreja por uma lógica diferente: a do non solum, sed etiam, ou seja, do "não só, mas também". Poderia parecer que, no fim das contas, não há diferenças, mas não é bem assim.
A análise é do jornalista e escritor italiano Aldo Maria Valli, em artigo publicado no seu sítio pessoal, 28-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Nós, cristãos, sabemos, ou deveríamos saber: a nossa fé traz como insígnia o et-et, não o aut-aut. Não somos exclusivistas. Deus é uno e trino. É Pai e Filho e Espírito Santo. Jesus
é Deus e homem, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Para o cristão, o
homem é carne e espírito, corpo e alma. O cristão gosta de integrar,
incluir, não erguer barreiras. Com a encarnação, Deus se fez homem. A
própria Igreja vive sob a insígnia do et-et. É a Igreja de oração e de ação, de grandes ascetas e grandes trabalhadores, de contemplação e de missão. Ora et labora, não ora aut labora.
A Igreja tem os pregadores e os confessores, os monges e as monjas de
clausura e os padres das ruas. A Igreja acolhe a todos: pobres e ricos,
cultos e incultos, jovens e velhos.
Há algum tempo, porém, parece possível notar que a lógica do et-et está sendo substituída na nossa Igreja por uma lógica diferente: a do non solum, sed etiam, ou seja, do "não só, mas também". Poderia parecer que, no fim das contas, não há diferenças, mas não é bem assim.
Pensemos na Amoris laetitia, na qual a
lógica do "mas também" se encontra um pouco por toda parte. Muitas
vezes, dando origem a afirmações singulares. Tomemos, por exemplo, o
ponto 308, onde se diz: "Os pastores, que propõem aos fiéis o ideal
pleno do Evangelho e a doutrina da Igreja, devem ajudá-los também a
assumir a lógica da compaixão pelas pessoas frágeis e evitar
perseguições ou juízos demasiado duros e impacientes". Devemos deduzir a
partir daí que o modo mais eficaz de ser compassivo não é exatamente o
de propor o ideal pleno do Evangelho?
Além disso, em relação à vexata quaestio acerca da comunhão
aos divorciados recasados, qual é a conclusão? Depois de ler e reler o
texto várias vezes, a resposta é: comunhão sim, mas também não. Ou:
comunhão não, mas também sim. No documento, com efeito, ambas as
conclusões são legitimadas. Leva a isso a lógica do caso a caso, filha,
por sua vez, da ética da situação. Devo-me considerar um pecador? Sim,
mas também não. Não, mas também sim. Depende.
Os sintomas da lógica do "mas também" surgem aqui e ali, em ocasiões diversas, mas são cada vez mais frequentes.
Sigo uma ordem aleatória.
Primeiro exemplo. Quando o Papa Francisco se dirigiu em visita à igreja luterana de Roma e foi perguntado se um católico e um luterano podem participar da comunhão, Bergoglio,
através de uma longa resposta de improviso, disse substancialmente:
não, mas também sim, é preciso ver caso a caso, porque "é um problema ao
qual cada um deve responder".
Segundo exemplo. Quando, na Sala de Imprensa vaticana, o cardeal Schönborn, comentando a Amoris laetitia, disse que a proibição de comungar para os divorciados recasados não foi revogada, mas, através da via caritatis indicada por Francisco, "também se pode dar a ajuda dos sacramentos em certos casos", na prática, ele disse: não, mas também sim; sim, mas também não.
Terceiro exemplo. Quando Francisco, participando de um vídeo sobre o diálogo inter-religioso
(em que aparecem um muçulmano, um budista, um judeu e um padre
católico) disse que as pessoas "encontram a Deus de modos diversos" e,
"nessa multidão, só há uma certeza para nós: somos todos filhos de
Deus", aqueles que, eventualmente, quisessem ter outra certeza de uma
certa densidade (qual é a verdadeira fé?) poderiam chegar à conclusão de
que é a nossa, mas também a dos outros.
Quarto exemplo. Quando eminentes expoentes da Cúria Romana nos dizem que a Igreja, depois da renúncia de Bento XVI, tem, sim, um único papa legítimo, mas, com efeito, tem dois sucessores de Pedro,
ambos vivos e ambos plenamente papas, vê-se também aí a obra da lógica
do "mas também": temos um papa, mas também dois. E se alguém,
inoportunamente, defendesse que ambos não podem ser plenamente papas, a
resposta estaria assegurada: por que não? Um é papa, mas o outro também.
Paro com os exemplos e vou direto ao ponto. Atenção: os católicos são
pluralistas e não gostam da uniformidade. Desde o início, as
comunidades cristãs nascem sob a insígnia da inculturação da fé e,
portanto, são multiformes. Tanto que, ainda hoje, temos ritos diversos. A
Igreja se incultura no Ocidente e no Oriente, no Norte e no Sul, em qualquer contexto.
Como católica, é importante repetir, ela se dirige a todos e acolhe a
todos: não seleciona a priori com base no censo ou no conhecimento.
Caso contrário, seria sectária, não católica. E até aqui estamos
plenamente na lógica et-et.
A lógica do "mas também", no entanto, é outra coisa. É a pretensão de
manter unidos os opostos ou qualquer coisa que não pode ficar unida, ou
só pode estar às custas de forçações.
Há uma diferença profunda entre a lógica do et-et e a do "mas também". Se o et-et une, o "mas também" principalmente justifica. Se o et-et respeita
a complexidade e a remete à unidade, o "mas também" procura superar a
complexidade através de algum atalho lógico e ético. Onde o et-et une, o "mas também" banaliza. Enquanto o et-et aponta para a verdade, o "mas também" põe-se a serviço da utilidade.
Alguém poderá dizer: desculpe-me, mas o que há de mal na Igreja do
"mas também? É tão bonito poder dizer sim, mas também não; não, mas
também sim. É humano. Somos criaturas complexas, portanto, por que ir em
busca de impossíveis respostas claras e unívocas? É tão bonito e bom
não julgar e tomar a realidade como ela é, ou seja, complicada e
contraditória. Por que devemos submeter as pessoas a duras provas? Não é
melhor suavizar as bordas e justificar?".
Eis o que há de mal: que a Igreja do "mas também" desposa exatamente a lógica do mundo, não a do Evangelho de Jesus
E, de fato, recebe os aplausos do mundo. Mas nós sabemos que isso não é
um bom sinal. O cristão, quando é coerente, é perseguido pelo mundo,
não aplaudido.
Por outro lado, enquanto desperta os entusiasmos dos ateus e dos
laicistas, que encontram aí confirmações e justificações, a lógica do
"mas também" deixa perplexos aqueles que estão em busca da fé. Aqueles
que buscam a Verdade com V maiúsculo não querem atalhos e palavras
ambivalentes. Têm desejo de indicações de sentido.
O deslizamento da lógica do et-et à do non solum, sed etiam
ocorre todos os dias, de modo talvez imperceptível, mas inexorável. E
envolve pessoas muito dignas e muito boas, convencidas nos seus corações
de estarem a serviço do Evangelho. Mais do que culpadas, são vítimas.
Porque a lógica do "mas também" está no ar que respiramos.
Ser homens e mulheres do et-et significa não ser ambíguos e não deixar espaço para a confusão. A lógica do et-et desemboca na inclusão, não na confusão. Jesus, exemplo do et-et e não do aut-aut,
recomendou que o nosso falar seja "sim, sim, não, não". A confusão e a
duplicidade são especialidades do diabo, que, desse modo, persegue o seu
objetivo: separar.
Pessoalmente, justamente porque eu sei que, assim como todos, respiro
a cada dia o ar impregnado da lógica do "mas também", para tentar estar
em guarda, eu uso um truque simples: todas as vezes em que, em uma
argumentação, eu encontro sintomas de "mas também", eu deixo que uma
campainha toque na minha cabeça e no meu coração. Aí, eu digo a mim
mesmo, há algo que não está certo. Aí o subjetivismo está à espreita. E
quando o subjetivismo, além disso, como o lobo da fábula, se traveste e
usa a veste da consciência moral e, para se justificar, diz com voz
suave: "Mas eu, em consciência...", a campainha toca ainda mais alto. E
me vem à mente o cardeal Newman, para o qual a consciência não era o atalho para a ética da situação, mas o vigário original de Cristo.
Ouçamos, a respeito, as cristalinas palavras de Bento XVI
(20 de dezembro de 2010): "No pensamento moderno, a palavra
'consciência' significa que, em matéria de moral e de religião, a
dimensão subjetiva, o indivíduo, é a última instância da decisão. A
concepção que Newman tem da consciência é
diametralmente oposta. Para ele, 'consciência' significa a capacidade de
verdade do homem: a capacidade de reconhecer precisamente nos âmbitos
decisivos da sua existência – religião e moral – uma verdade, 'a'
verdade. A consciência, a capacidade do homem de reconhecer a verdade,
impõe-lhe, com isso, ao mesmo tempo, o dever de se encaminhar para a
verdade, de buscá-la e de se submeter a ela, onde quer que ele a
encontre. Consciência é a capacidade de verdade e obediência em relação à
verdade, que se mostra ao homem que busca com o coração aberto. O
caminho das conversões de Newman é um caminho da consciência, um caminho
não da subjetividade que se afirma, mas, justamente ao contrário, da
obediência rumo à verdade, que, passo a passo, se abria para ele".
Isso explica porque, na famosa Carta ao Duque de Norfolk, Newman
escreveu que, caso ele tivesse que levar a religião a um brinde,
certamente brindaria ao papa, mas, primeiro, à consciência e, depois, ao
papa. Ou seja: primeiro à busca da verdade, depois à autoridade.
Pois bem: consciência é capacidade de verdade. Quando a consciência
do cristão abandona o caminho estreito e impérvio dessa busca e se
encaminha ao longo das avenidas do "mas também" (iluminados pelos meios
de comunicação e gratificantes, mas sem saída), eu tenho a impressão de
que ele corre fortemente o risco de se perder. E de acabar diretamente
na toca do lobo.
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