Alguns animais se utilizam de disfarces
para se arremessarem melhor contra a presa. É o caso, por exemplo, do
leopardo ao escolher sua vítima; da cobra, cuja coloração furta-cor
serve ao mesmo tempo de camuflagem e atração; do camaleão, do latim stellio,
lagarto, que muda de cor para passar despercebido. Eles parecem ter
inspirado os legisladores na tipificação de crimes praticados por
estelionatários.
Ser racional, o
homem vai além: vê, julga e age em consequência para fazer o bem ou o
mal. O ideólogo do mal, por exemplo, opera com facilidade e está sempre
aprimorando suas abordagens a fim de inocular mais eficazmente o seu
ideário. Assim como um réptil muda a cor da pele por mero instinto, os
difusores do mal se transmutam ao utilizar linguagem capciosa e
envolvente para iludir incautos e fazer prosélitos e simpatizantes.
É
o que podemos constatar ao analisarmos a metamorfose do comunismo e
suas influências nocivas nos ambientes, costumes e instituições. Assim,
os agentes revolucionários, tendo por doutrina o igualitarismo e o amor
livre, trabalham ardilosamente para o apodrecimento da sociedade. Ficam
sempre à espreita para golpear um valor que concorre para a sustentação
do mundo no qual vivem.
As suas
metamorfoses táticas visam apenas alcançar seus objetivos, não importa o
campo de atuação. Restrinjo-me ao erro declarado ou larvado que passou a
grassar nos meios católicos por meio da infiltração comunista ou das
ideias comunistizantes da Teologia da Libertação que vem
descaracterizando o povo fiel. Na verdade, ao longo deste último século o
meio religioso foi acossado a se adaptar ao mundo moderno.
Entre
o clero, para não falar de algumas personalidades de destaque até do
episcopado, passou-se a ter uma concepção do comunismo e do socialismo
que nunca correspondeu à realidade. Chega-se a ouvir com certa
frequência que o comunismo morreu, e, portanto, que as condenações
pontifícias de outrora perderam a razão de ser.
Procura-se
justificar o caráter “desprovido” de ideologia de partidos comunistas
quando se ocupam de questões sociais, como os interesses dos
marginalizados e excluídos; das minorias; do “direito” à prática do
aborto e da prostituição; também da erradicação da homofobia e da
propulsão da igualdade de gênero; do apoio às manifestações públicas em
paradas homossexuais; da defesa exacerbada do meio-ambiente…
Convém,
contudo, focalizar que o mundo contemporâneo encontra-se numa fase tal
que pretende tragar, com reformas antinaturais e contrárias à Lei de
Deus, o que ainda resta de ordem, como a família e a propriedade.
Diga-se, aliás, que a Revolução passa da fase propriamente comunista
(igualdade social e econômica) para o campo cultural e místico, a fim de
instaurar o caos social e nas mentes.
Lembremo-nos
que os homens de Igreja, até meados do século passado, tinham uma
posição clara, definida, categórica a respeito da ideologia marxista,
impondo até mesmo penas canônicas ao católico que colaborasse ou
defendesse a ideologia ateia, pois, entre o socialismo e a doutrina
social da Igreja há uma oposição irreconciliável. De lá para cá, vem-se
configurando um distanciamento paulatino de tudo aquilo que ensinaram os
Papas, os Santos e os Doutores da Igreja.
Prova
disto foi a invenção, pelo Pe. Gustavo Gutierrez, da Teologia da
Libertação, a qual quase se identifica com a visão marxista da luta de
classes, dos pobres revoltados em luta contra as desigualdades,
preconizando a vida comunitária sem bens particulares. Ela ataca a
classe mais favorecida e os meios de produção da livre iniciativa para
sacudir mais facilmente o jugo dito “escravagista” dos privilegiados e
implantar uma utópica sociedade igualitária.
Cumpre
notar que os líderes revolucionários fingem desconhecer que o final do
processo de transformação e da consequente consolidação de seus planos
tende para um nivelamento drástico das classes num patamar social
aviltante, porquanto uma minoria desfrutará das benesses que o novo
sistema lhe proporcionaria. É o que ocorre em Cuba há mais de meio
século e agora também visa a acontecer na Venezuela. Algo disso começou a
esgueirar-se no Brasil na era do PT.
Outra
tese revolucionária é a de que só se alcança a dignidade humana através
do estabelecimento da igualdade de todos, ainda que na miséria. Se o
empregado é teoricamente igual ao patrão, este último acaba por se
sentir livre da obrigação moral de lhe prestar assistência e proteção.
Em nome dessa igualdade os empregados são lançados contra as classes
mais favorecidas que os protegiam em sua própria dignidade, nos costumes
e nas suas necessidades.
Por sua
vez, os empregados ficam entregues à própria sorte e passam a explorar
cada vez mais o empregador, ancorados, aliás, em leis favorecedoras da
luta de classes. Esse quadro prenuncia uma profunda desmoralização,
geradora de miséria espiritual e material, com vícios de toda ordem a
devorar os salários e agravar mais e mais a triste situação de um povo
alheio à fé, desguarnecido das leis e desprovido de lares.
Cabe, pois, aludir à advertência do nosso Divino Mestre: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”.
Que tentação? – A de nos deixarmos envolver pelo otimismo sedutor,
produto da propaganda revolucionária, e nos tornarmos cegos, como muitos
homens verdadeiramente cegos, que nada veem através do coração ou do
pensamento, mas só com os olhos do corpo. Se lhes perguntarmos se
Babilônia e Palmira existiram de fato e foram destruídas, eles
responderão que sim, pois podem ver as ruínas de edifícios encobertos
pelas areias do deserto. Mas se lhes dissermos que a sociedade atual
está sendo destruída, não irão nos compreender e rir-se-ão de nós,
porque veem à sua volta os campos cultivados, as casas e cidades
habitadas pelos homens. O que dizer a esses cegos, senão o que o Senhor
disse a outros semelhantes: “Têm olhos e não veem” (Sl. 115, 5 e 135, 16, Delassus, Espírito de Família).
Sob
os auspícios de Nossa Senhora Rainha, cuja festa no calendário
tradicional se celebra no dia 31 de maio, peçamos-Lhe que difunda luzes
para que a nossa sociedade conturbada escape das armadilhas veladas ou
declaradas de seus predadores. Que sua festa nos traga a clareza de
espírito capaz de discernir essas armadilhas e seus encadeamentos, que
nos impedem de agir em conformidade com a nossa fé.
*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ
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