Uma pequena cela de um monge,
transformada em monumental basílica, é hoje o santuário mais visitado da
Europa Central. Peregrinos recorrem à milagrosa imagem de Nossa Senhora
desse santuário da Áustria.
Foi no
ano de 1157 que o abade Otker, do mosteiro beneditino de São Lamberto,
enviou Magno, um de seus monges, para pregar num dos rincões de sua
vasta jurisdição. Magno preparou-se para a missão. Havia ainda naquelas
longínquas plagas muitos pagãos, ao longo dos sombrios vales entre altas
montanhas. Magno temia o desamparo, uma vez em missão.
Surgindo
dificuldades, com quem se aconselharia? A quem pediria socorro? Por
isso levou, com licença superior, uma pequena imagem de Nossa Senhora,
talhada em madeira de tília.
O milagre de Mariazell
Aproximando-se
o Natal, dirigiu-se Magno a um povoado, onde desejava pregar “aos que
viviam em cego paganismo” e dar também assistência espiritual aos
cristãos. A aldeia ficava mais longe do que ele pensava. Viajava o santo
religioso vários dias, sem viva alma encontrar.
Estaria
perdido? O rumo que havia tomado era correto? Seus mantimentos chegavam
ao fim. Impossível retornar ao ponto de partida, onde deixara
conhecidos. Não havia estradas nem caminhos batidos, naquele tempo. Numa
senda pedregosa escurecida pela floresta, íngreme subida estreita e
perigosa.
Uma grande pedra, desprendida do alto, barrava-lhe o caminho. Impossível movê-la. Magno não tinha a quem pedir ajuda.
Voltou-se então fervorosamente a Nossa Senhora, através da pequena imagem que levava.
Em
oração, viu de repente o grande bloco fender-se, deixando-lhe livre a
passagem. Nesse lugar, no penhasco de Sigismundberg, não muito longe de
Mariazell, se encontra hoje uma capela, chamada “Origem de Mariazell”.
Uma
vez em seu destino, Magno narrou a todos o acontecido. Curiosos, uns e
outros começam a se aproximar da imagem, que convidava à confiança. Aos
poucos pedem graças, e são concedidos em abundância. Multiplicam-se os
fiéis. Magno coloca respeitosamente a imagem sobre um tronco de árvore e
começa a construir uma cela (termo que designa, nos mosteiros e
conventos, o pequeno quarto dos religiosos), que serviria ao mesmo tempo
de capela para sua Protetora e de abrigo para ele.
Nessa
cela, ambos começam a prodigalizar benefícios a quem pedia: ele dá
assistência espiritual, conforme a ordem recebida de seu superior; Ela
faz milagres. Assim, a cela do monge, onde estava a pequena imagem,
tornou-se procurada por crescente número de fiéis. A “Cella Mariae”,
Mariazell (Cela de Maria, em português), deu nome ao lugar.
Multidões
passaram a visitá-lo. Uma igreja foi construída por volta de 1200,
oferecida pelo conde Henrique de Mähren e sua esposa, assim honrando a
milagrosa estátua após cura de grave doença.
Essa
igreja transformou-se em basílica, que é o santuário mais visitado da
Europa Central. Nela se encontra, sob o altar principal, aquele tronco
cortado por Magno, primeiro altar da imagem..
E
a pequena Maria, atraindo ainda hoje peregrinos de todas as nações que
outrora pertenceram ao Império Austro-húngaro, tem hoje o título de
Magna Mater Austriae, Magna Domina Hungarorum, Alma Mater Gentium
Slavorum (Grande Mãe da Áustria, Rainha dos Húngaros e Senhora dos Povos
Eslavos).
Não só orações foram ali atendidas, mas também inúmeras curas de doenças do corpo e da alma. Não faltaram conversões.
Na
basílica se vêem incontáveis ex-votos, quadros retratando milagres,
presentes feitos ao santuário em agradecimento de favores
extraordinários e de curas obtidas pela intercessão da Mãe de Deus. O
livro “Mariazell”, de Iolanthe Habwander, narra alguns fatos
impressionantes ali acontecidos.
O
Padre Anton Maria Schwartz, fundador da ordem dos Calasantinos, recebeu
ali uma graça notável. Corria o ano de 1907 quando ele foi rezar junto à
imagem milagrosa, suplicando-lhe o atendimento de um grande anseio.
Desejava comprar, em Viena, uma casa apropriada à sua comunidade
nascente, mas faltavam-lhe recursos.
Terminando
a celebração de uma Missa solene na histórica capela, foi para a
sacristia. Uma senhora de grande distinção veio até ele, e disse ter
recebido, em oração junto à imagem, a inspiração de auxiliar os
Calasantinos.
“Como posso ajudá-lo?”,
perguntou ao Pe. Schwartz. Ao que ele respondeu: “A senhora certamente
não me pode ajudar, pois necessito nada menos que 150.000 Coroas”. Ao
que ela respondeu: “Está bem. O senhor terá a quantia desejada!”. Ela
manteve a promessa. Em agradecimento pelo atendimento extraordinário do
pedido, a casa comprada recebeu o nome de “Casa da Imaculada”.
Um
ruidoso exorcismo, feito em 1370, é lembrado por um quadro posto na
basílica e por figuras sobre o portal principal. Ele consta como sendo o
primeiro grande milagre. Tratava-se de uma mãe que, tendo matado seu
filho, tornara-se possessa.
Luta contra o comunismo
Quando
o Padre Petrus Pavlicek fundou a Cruzada do Rosário e da Reparação,
pedindo a libertação da Áustria do jugo comunista, foi em torno de
Mariazell que ele reagrupou seus fiéis.
Sua
Cruzada teve um resultado inteiramente milagroso. Os russos deixaram o
país pouco depois, em 1954 (vide artigo em Catolicismo de maio/1998).
O
grande Cardeal Mindszenty, arcebispo príncipe e primaz da Hungria,
perseguido pelo regime comunista e verdadeiro mártir de nosso tempo,
desejou ser enterrado em Mariazell, e de fato teve lá sua primeira
sepultura, em 1975, atualmente muito visitada.
Nestes tempos de impiedade, o fluxo dos peregrinos não é mais como nos tempos da monarquia austro-húngara.
Mas
incontáveis são os que ainda para lá se dirigem a pé, solitários ou em
família. Há peregrinações femininas, estudantis, de motociclistas, de
diferentes paróquias, e muitas outras.
Até
mesmo — o que faz parte da confusão de nossos dias — uma ministra
socialista foi a pé, pagando promessa. Principal santuário da Europa
Central, Mariazell recebe anualmente um milhão de visitantes, peregrinos
em sua maioria.
A atmosfera desse
lugar santo, propícia ao contato com Nossa Senhora, é certamente devida à
influência dos beneditinos, constante através dos séculos, desde os
dias de sua fundação. No recolhido silêncio, sente-se que a Senhora dos
Corações tem muito a dizer às almas. Cada um sente-se olhado por Ela.
Ela nos vê, ouve, socorre.
A Festa de
Nossa Senhora de Mariazell é celebrada no dia 13 de setembro de cada
ano. Celebrações especiais também ocorrem em Mariazell no dia 15 de
agosto (Festa da Assunção de Nossa Senhora) e no dia 8 de setembro
(Natividade de Nossa Senhora).
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