Por Dom Paulo Mendes Peixoto*
Quando realizamos uma boa acolhida, recebemos mais do que doamos.
Quem se doa deve ver o mistério de Deus nas pessoas e saber valorizá-las, porque nelas há dignidade. |
O gesto da hospitalidade supõe a
acolhida. A forma como acolhemos as pessoas, como damos atenção a elas,
pode ser ocasião fundamental para exercitar o mistério do amor escondido
na prática da hospitalidade. Foi por isto que Jesus valorizou mais a
atitude de Maria do que a de Marta. Maria parou para ouvir o Mestre, e
Marta ficou preocupada com as lidas da casa (Lc 10,38-42).
No livro bíblico do Gênesis encontramos também um modelo de acolhida e
de hospitalidade. Abraão é recompensado porque soube acolher bem três
homens enviados pelo Senhor. Eles anunciaram que, mesmo na velhice, sua
esposa, Sara, teria um filho (Gn 18,10). Na hospitalidade está a
generosidade de Deus. No transeunte, no pobre, naquele que bate em
nossas portas, está a presença de Deus.
Quando realizamos uma boa acolhida, recebemos mais do que doamos.
Alias, é mais gratificante doar do que receber. Servindo os mais
necessitados, acontece um aparente esvaziamento, mas isto revela o
mistério da hospitalidade, proporcionando recompensa divina, porque foi
escolha a melhor parte, que ajuda a superar o individualismo e a
praticar o dom da partilha.
Quem se doa deve ver o mistério de Deus nas pessoas e saber
valorizá-las, porque nelas há dignidade, mesmo quando maltrapilhas e
carentes de auxílio. Deus está nos pobres, e isto deve ser visto numa
dimensão de fé comprometida com a vida. Significa que não é fácil ser
hospitaleiro e acolhedor. É mais fácil despachar o pobre que batem em
nossas portas!
Deus se manifesta na vida das pessoas e as confirma na esperança de
ter uma vida melhor, seja aqui na terra, como na glória. Apesar do medo,
do fechamento e do individualismo, encontramos gestos bonitos como
verdadeiros testemunhos de atitudes cristãs. São os exemplos concretos
que arrastam e confirmam as pessoas na prática do bem.
Lembrando Marta do Evangelho, corremos o perigo de muito ativismo, de
fazer muita coisa e não sobrar tempo para o essencial, principalmente
para a escuta da Palavra de Deus e a escuta da voz dos pobres. Os
simples ouvem mais e estão sempre de coração aberto para colocar em
prática o projeto do Reino de Deus. Isto reflete um coração generoso,
simples e sensível.
CNBB 03-07-2016.
*Dom Paulo Mendes Peixoto: Arcebispo de Uberaba.
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