[abim]
Por Revista Catolicismo, Nº 788, Agosto/2016
Não é preciso
dizer como vai adiantado o processo de autodemolição da Igreja, referido
pelo Papa Paulo VI. A “fumaça de Satanás”, que o mesmo Pontífice
constatou ter penetrado no templo de Deus, vai sufocando os católicos do
mundo inteiro.
Sob a designação de “progressismo”, esse processo infernal demole a
cada dia uma parte da Igreja: um costume milenar que é contrariado, um
aspecto capital da liturgia que é substituído, a moral que é
conspurcada, uma prática diplomática que conduz à derrota do bem, uma
doutrina que é silenciada hoje para ser negada amanhã, e assim por
diante.
Recentemente, não foi uma parte da muralha que caiu; tomou corpo uma
investida que busca abalar a própria noção da indivisibilidade da
Cátedra de Pedro, questionando a palavra unitiva de Nosso Senhor: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
“Não prevalecerão”! É absolutamente certo, como certa é a
palavra de Deus. Mas até onde podem ser abaladas as noções fundamentais
do Papado, antes que uma intervenção divina ponha cobro a tantos
desvarios e pecados?
Para resumir, transcrevemos o rápido apanhado feito a respeito do tema pelo professor e historiador italiano Roberto de Mattei:
“De acordo com o arcebispo Gänswein, a renúncia do Papa
teólogo introduziu na Igreja Católica a nova instituição do ‘Papa
emérito’, transformando o conceito de munus petrinum (ministério
petrino): ‘Antes e depois de sua renúncia, Bento entendeu e ainda
entende seu dever como uma participação em tal ministério petrino. Ele
deixou o trono pontifício e, entretanto, não abandonou absolutamente
esse ministério. Em vez disso, integrou o ofício pessoal com uma
dimensão colegial e sinodal, quase um ministério em comum [...]. Desde a
eleição de seu sucessor Francisco, em 13 de março de 2013, não há
portanto dois Papas, mas de fato um ministério expandido [allargatto] —
com um membro ativo e um membro contemplativo. É por isso que Bento XVI
não renunciou nem ao seu nome, nem à batina branca. Por isso o
tratamento correto que se lhe aplica ainda hoje é Santidade; é também
por isso que ele não se retirou para um mosteiro isolado, mas permaneceu
dentro do Vaticano — como se tivesse dado apenas um passo de lado para
abrir espaço ao seu sucessor e a uma nova etapa na história do papado’.
“Este arrazoado tem um caráter perturbador, demonstrando
por si só como estamos não ‘além’, mas mais do que nunca ‘dentro’ da
crise da Igreja. O Papado não é um ministério que pode ser ‘expandido’,
porque é um ‘cargo’ concedido pessoalmente por Jesus Cristo a um único
Vigário e a um único sucessor de Pedro. [...] O discurso de Mons.
Gänswein, que não se entende aonde quer chegar, sugere uma Igreja
bicéfala e acrescenta confusão a uma situação já demasiadamente confusa”
(“A crise da Igreja à luz do Segredo de Fátima”, in “Corrispondenza
Romana”, 25-5-16).
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