Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. (Ef 5, 8-11)
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
A verdadeira santidade é força de alma e não moleza sentimental
A Igreja ensina que a verdadeira e plena
santidade é o heroísmo da virtude. A honra dos altares não é concedida
às almas hipersensíveis, fracas, que fogem dos pensamentos profundos, do
sofrimento pungente, da luta, da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo
enfim. Lembrada da palavra de seu Divino Fundador, “o Reino dos Céus é
dos violentos”, a Igreja só canoniza os que em vida combateram
autenticamente o bom combate, arrancando o próprio olho ou cortando o
próprio pé quando causava escândalo, e sacrificando tudo para seguir tão
somente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Na realidade, a santificação
implica no maior dos heroísmos, pois supõe não só a resolução firme e
séria de sacrificar a vida se preciso for, para conservar a fidelidade a
Jesus Cristo, mas ainda a de viver na terra uma existência prolongada,
se tal aprouver a Deus, renunciando a todo o momento ao que se tem de
mais caro, para se apegar tão somente à vontade divina.
Certa
iconografia infelizmente muito em uso, apresenta os Santos sob aspecto
bem diverso: criaturas moles, sentimentais, sem personalidade nem força
de caráter, incapazes de ideias sérias, sólidas, coerentes, almas
levadas apenas por suas emoções, e, pois, totalmente inadequadas para as
grandes lutas que a vida terrena traz sempre consigo.
* * *
A
figura de Santa Terezinha do Menino Jesus foi especialmente deformada
pela má iconografia. Rosas, sorrisos, sentimentalismo inconsistente,
vida suave, despreocupada, ossos de açúcar cândi e sangue de mel, eis a ideia que nos dão da grande, da incomparável Santinha.
Como
tudo isto difere do espírito vasto e profundo como o firmamento,
rutilante e ardente como o sol, e entretanto tão humilde, tão filial,
com que se toma contacto quando se lê a “Histoire d’une Ame”.
* * *
Nossos dois clichês apresentam por assim
dizer duas “Terezinhas” diversas e até opostas uma à outra. A primeira
nada tem de heroico: é a Terezinha insignificante, superficial,
almiscarada, da iconografia romântica e sentimental. A segunda é a
Terezinha autentica, fotografada a 7 de Junho de 1897, pouco
antes de sua morte, que ocorreu a 30 de Setembro do mesmo ano. A
fisionomia está marcada pela paz profunda das grandes e irrevogáveis
renúncias. Os traços têm uma nitidez, uma força, uma harmonia que só as
almas de uma lógica de ferro possuem. O olhar fala de dores tremendas,
experimentadas no que a alma tem de mais recôndito, mas ao mesmo tempo
deixa ver o fogo, o alento de um coração heroico, resolvido a ir por
diante custe o que custar. Contemplando esta fisionomia forte e
profunda, como só a graça de Deus pode tornar a alma humana, pensa-se em
outra Face: a do Santo Sudário de Turim, que nenhum homem poderia
imaginar, e talvez nenhum ouse descrever. Entre a Face do Senhor Morto,
que é de uma paz, uma força, uma profundidade e uma dor que as palavras
humanas não conseguem exprimir, e a face de Santa Terezinha, há uma
semelhança imponderável mas imensamente real. E o que há de estranhável
em que a Santa Face tenha impresso algo de Si no rosto e na alma daquela
que em religião se chamou precisamente Tereza do Menino Jesus e da
Sagrada Face?
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