Por Ivan Rafael de Oliveira
“Falai-lhes das misericórdias infinitas de Deus”,
foi uma recomendação dada por São Francisco Xavier para atender em
confissão a pecadores habituados ao vício. Já para as pregações,
exortava esse santo jesuíta em sua epístola:
“Moderai sempre as vossas observações pela doçura da voz, benevolência no olhar, escolha de expressões, e que um sorriso amável acompanhe as vossas palavras; além disso, fazei ver que um sentimento de caridade é o que unicamente vos inspira”.
“Moderai sempre as vossas observações pela doçura da voz, benevolência no olhar, escolha de expressões, e que um sorriso amável acompanhe as vossas palavras; além disso, fazei ver que um sentimento de caridade é o que unicamente vos inspira”.
Pregar a misericórdia de Deus e a caridade
para com os pecadores em nada é novidade para a Igreja fundada por Jesus
Cristo, para a Igreja que cultua a Santíssima Virgem, que é Mãe de Misericórdia.
Mas numa época em que outras virtudes e predicados de Deus são
omitidos, essas palavras, tomadas isoladamente, bem podem causar
equívocos de interpretação.
Uma pessoa que exercitasse apenas uma parte de seu corpo, deixando o
resto definhar, acabaria por prejudicar e perder o corpo inteiro. Com
isso em vista, a Igreja sempre pregou as verdades inteiras, sem esconder
dos fiéis as obrigações que cada qual deve cumprir para salvar sua
alma.
As belas palavras acima citadas, dirigidas a um jesuíta que partia em
missão, longe de perderem o espírito apostólico, aumentam ainda em
fecundidade quando lemos outros princípios contidos na mesma carta do
grande apóstolo das Índias, São Francisco Xavier.
Aconselhando o melhor modo de converter as almas através da pregação, escreveu o Apóstolo das Índias: “Fazei (nas pregações) sobressair
a majestade infinita de Deus e a enormidade do pecado que o ultraja.
Imprimi nos espíritos a crença da aterradora sentença que será fulminada
contra os réprobos no dia do julgamento final”.
“Apresentai com todos os recursos da eloquência, os suplícios
eternos para os que forem condenados. Falai, finalmente, da morte e da
morte súbita aos que vivem na indiferença e no [esquecimento] da sua
salvação, com uma consciência carregada de crimes”.
“A todas essas considerações, acrescentai a da paixão e morte do
Salvador dos homens, mas fazei-o de uma maneira tocante, patética,
própria para excitar nos corações uma viva dor dos pecados cometidos, e a
comovê-los até as lágrimas. Eis aí o que eu desejo que exponhais e
torneis bem claro nos vossos sermões”.
São Francisco bem sabia que “a repreensão é de si mesma desagradável e amarga”, mas não hesita em advertir: “Encontrareis
cristãos que não creem na presença real de Jesus Cristo no Santíssimo
Sacramento do Altar. Esta incredulidade vem do afastamento dos
sacramentos ou do seu contato habitual com os pagãos, maometanos e
heréticos; outras vezes pelo escândalo que dão outros cristãos, e,
digo-o com grande pesar e vergonha, pelos Padres cuja vida desonra o seu
ministério! O povo, vendo-os subir ao altar sem preparação e sem
respeito, supõe que eles próprios não têm fé na presença de Jesus Cristo
no sacrifício da missa”.
Muitos hoje alegariam que tal linguagem já não está mais conforme o
espírito moderno, e que as pessoas do século XXI não entendem mais essa
forma de “radicalismo”. Mas essa linguagem seria, por acaso, conforme o
espírito pagão da Índia do século XVI? Teria a decadência moderna ido
tão fundo, que os próprios católicos de hoje estariam menos receptíveis à
lei de Deus que os hindus de São Francisco?
Esse célebre santo jesuíta bem poderia hoje ser acusado de querer
transformar o púlpito em um lugar de torturas. Mas os milhares de almas
que, graças ao apostolado de São Francisco Xavier, hoje cantam as
glórias eternas de Deus, saberiam defendê-lo.
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Todas as citações do artigo
procedem da carta de São Francisco Xavier ao Padre Gaspar Barzeu,
escrita em Goa, em 1549. Fonte: São Francisco Xavier, Apóstolo das
índias, autor J. M. S. Daurignac, editora Livraria Apostolado da
Imprensa, 1959, quinta edição.
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