Neste texto vamos falar das posições do corpo na
liturgia, enfocando em especial a Missa, com todo o simbolismo que
confere as posições para cada momento da celebração. A linguagem
religiosa distingue-se pelo fato de ser uma linguagem onde participa o
homem todo. o homem todo é um ser religioso.
Sem dúvida a palavra é a forma mais comum do homem
se comunicar. Além da palavra, no entanto, ele faz uso freqüente de
gestos e atitudes do corpo. É o que acontece também na Liturgia.
Importante é que numa assembléia esta linguagem se faça de modo que seja
uma expressão comum. Que haja certa unidade. Para que essa linguagem
possa realmente ser uma expressão de fé de toda a comunidade convem
conhecer o significado dos principais gestos que ocorrem na Liturgia.
1 – Inclinações
Temos as inclinações de cabeça e do corpo. São fundamentalmente gestos de reverencia e de respeito. Inclinamos a cabeça na hora quando ocorrem os nomes de Jesus e de Maria e do Santo do dia. O sacerdote inclina a cabeça na hora em que profere as palavras deu graças da consagração.
A inclinação do corpo é outro gesto de reverencia, de
humildade, de devoção e de saudação. Ocorre na saudação do altar,
quando sobre ele não estiver o Santíssimo Sacramento, na oração após ter
colocado as oferendas sobre o altar, pedindo a Deus de coração contrito
e humilde que estejamos acolhidos pelo Senhor; durante a Oração
Eucarística I quando pede humildemente que a oferta seja levada a
presença de Deus.
2 – Gestos com as mãos
O homem ao falar costuma fazer gestos com as mãos,
procurando desta forma comunicar melhor a sua mensagem. Muitas vezes,
mesmo não acompanhados de palavras eles são mais eloqüentes do que as
próprias palavras. As mãos falam. Expressam os sentimentos mais
diversos. Vejamos alguns gestos. Comecemos com o juntar as mãos ou de
ter as mãos unidas. O gesto litúrgico das mãos unidas é o de ter juntas
as palmas das mãos. A forma de ter as mãos juntas entrelaçando os dedos ,
pertencem a devoção particular. È a posição do Celebrante, quando não
profere orações estritamente presidenciais. Convém também aos fieis,
sobretudo quando se aproximam da Santa Comunhão e aos acólitos a serviço
do altar. Expressa recolhimento, devoção, oração. Duas mãos unidas
simbolizam já por si só a atitude do homem em oração.
Mãos elevadas ou estendidas – é o
gesto típico do Celebrante nas orações presidenciais como as Orações
Coleta, os Prefácios e Orações Eucarísticas. Expressa atitude de louvor,
de invocação. È a posição do orante, moderador entre Deus e os homens. A
Igreja primitiva em sua arte apresenta muitas vezes esta figura nas
catacumbas, uma mulher de braços elevados em oração. pode significar a
Virgem consagrada, a Igreja em oração e toda a humanidade em oração. Ora
na Santa Missa e na Liturgia em geral o Sacerdote representa toda a
humanidade. As alturas simbolizam o divino, o sagrado, o próprio de
Deus: o Celebrante ao mesmo tempo eleva as preces, os louvores e invoca
os auxílios divinos, englobando as orações de toda a assembléia.
Impor as mãos – Um gesto bastante freqüente. É sinal de bênção e de reconciliação, de transmissão do dom do Espírito Santo.
Dar as mãos – Sinal de saudação
fraterna, de unidade, de compromisso sagrado. Os noivos dão as mãos em
sinal de consentimento, de união e de compromisso sagrado e apoio mútuo.
O professando na Profissão Perpétua costuma proferir a formula de
profissão nas mãos de seu superior. Um gesto de acolhimento e de
compromisso. O mesmo faz o Diácono no dia de sua ordenação presbiteral
quando promete obediência a seu Bispo. O costume que se esta
introduzindo em nossas Assembléias de os fiéis darem as mãos na hora do
Pai Nosso é algo de novo em matéria de gestos litúrgicos. As vezes se
tem a impressão de brinquedos de roda. Parece que o gesto adiquire maior
significação quando, ao se darem as mãos, os fiéis também as elevem até
a altura dos ombros. O tempo dirá se tal gesto realmente se há de
firmar na Liturgia. Temos ainda o abraço na saudação da paz, abraço que
deveria manter sua nobre sobriedade do rito, sem cair na efusão de
sentimentos subjetivos exagerados. Devemos perguntar-nos até que ponto
este gesto de reconciliação e comunhão fraterna leva a assembléia a
preparar-se para uma devota Comunhão sacramental.
3 – Elevar os olhos ao céu
É um gesto que também ocorre na primeira oração
eucarística. Em momentos solenes de intensa expressão religiosa. Jesus
eleva os olhos ao céu, expressando sua intima comunhão com o Pai. O homem
é chamado a contemplar a Deus face a face. A Liturgia é de certo modo
em antegozo dessa contemplação de Deus.
4 – O ósculo ou o beijo
Sinal de reverencia, de comunhão de amor. Na Liturgia
ele ocorre sempre que se quer expressar uma atitude de saudação e afeto
ao Cristo. Ora, se ele esta presente nos símbolos do altar, do Deus dos
Evangelhos, na pessoa do cristão, quando em comunhão de vida com
Cristo. Daí a saudação do altar no inicio e no fim do encontro da
Assembléia eucarística; o beijo do Livro dos Evangelhos após a sua
proclamação, o beijo na saudação da paz, onde o gesto for usual.
Compreende-se também o sentido profundo do ósculo nupcial após o gesto
do consentimento ou do rito das alianças. Enfim, o beijar a cruz em
sinal de respeito, de amor, de gratidão na Liturgia da Sexta feira
santa.
5 - O sopro
Na Liturgia antiga anterior a reforma conciliar este
gesto era mais freqüente. Hoje ele permanece na bênção dos óleos de
Quinta feira santa. O sopro simboliza a força, a ação do Espírito de
Deus. Aquele sopro que fez o homem um ser vivente, o sopro que na
História Sagrada representa a presença ativa de Deus, o sopro do Cristo
ressuscitado a transmitir o Espírito do perdão e da paz. O Espírito da
vida nova. O gesto expressa, portanto, uma consagração, a transmissão
da força de Deus. Quando se usa o óleo nos Sacramentos, sua eficácia não
está na unção em si, mas na ação do Espírito Santo.
6 – A genuflexão
Por excelência é um ato de adoração na Liturgia
Latina. Por isso ela é feita diante do Santíssimo Sacramento e da cruz
em certas ocasiões. A genuflexão diante da cruz não quer significar a
cruz em si, mas o que ela representa, isto é, Jesus Cristo, nosso Deus,
no mistério de sua morte e ressurreição. Até a reforma conciliar havia
dois tipos de genuflexão, a simples e a dupla, isto é, com um só ou com
os dois joelhos. Hoje permanece apenas a simples. A dupla foi abolida,
mesmo diante do Santíssimo Sacramento exposto, conforme se lê na
Instrução sobre o Culto Eucarístico fora da Missa.
7 – A Prostração
Um dos gestos corporais mais significativos na
liturgia latina é a prostração. Ocorre nas ordenações de Bispos,
Presbíteros e Diáconos, bem como na profissão perpétua dos religiosos.
Trata-se de um momento solene na vocação do homem para o serviço da
Igreja pelo ministério ou para a busca da caridade perfeita como
religioso. Toda a Liturgia da Palavra da respectiva celebração evoca o
ideal da vocação ao ministério ou da vocação religiosa. Vem depois do
diálogo e o confronto com o ideal na homilia. Diante disso o vocacionado
sente todo o peso e a responsabilidade de sua vocação diante de Deus e
da Igreja. Tem consciência da sua fragilidade, de sua pequenez e
incapacidade de corresponder à vocação por suas próprias forças.
Consciente de tudo isso ele se prostra diante da força de Deus onipotente
e bom, enquanto toda a assembléia se une em prece, rezando a Ladainha
de todos os Santos. Invoca-se a misericórdia de Deus uno e trino, a
Igreja se une aos Santos do Céu, intercedendo pelos ordenandos e
professandos. Somente com auxílio da graça de Deus, somente através de
Jesus Cristo e pela intercessão da Virgem Maria e dos Santos e com as
preces da comunidade eclesial a garantir o seu apoio, os ministros de
Deus e os religiosos poderão levar a bom termo a sua vocação. Onde for
conveniente, em vez da prostação, os candidatos permanecerão ajoelhados.
Percebemos, no entanto, que no caso, a prostação se apresenta como um
gesto muito mais eloqüente do que permanecer de joelhos.
Temos ainda a prostação no início da celebração da
Morte do Senhor na Sexta feira da Paixão. Neste dia, a Igreja como que
não encontra palavras para iniciar a celebração. A Assembléia permanece
em profundo silencio, enquanto os Ministros se prostam diante do altar. È
um silencio que fala da dor, de profundo respeito e temor diante do
Mistério da Paixão do Senhor. Também aqui o ficar de joelhos tiraria
muito da eloqüência do rito.
8 – O andar
Existem modos de andar. O andar litúrgico não é mera
finalidade de locomoção de um lugar para outro. É antes um andar
significativo, respeitoso, composto. Por isso, diz a Instrução do Missal
Romano: “ Entre os gestos incluem-se os movimentos do sacerdote que se
aproxima do altar, da apresentação das oferendas e da aproximação dos
fieis para receberem a comunhão. Convém que tais ações sejam realizadas
com dignidade, enquanto se executam cantos apropriados, segundo as
normas estabelecidas para cada uma (n. 22). Nada de agitação, de
correria. Trata-se de um povo que caminha. Sobretudo na hora da
comunhão a assembléia vive a realidade de um povo peregrino que se
aproxima das fontes da salvação para prosseguir sua caminhada pelo
deserto até à Terra Prometida.
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