segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A via purificativa (Ascese)

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Autor: Prof. VICTOR HUGO NASCIMENTO



“Purifiquemo-nos de toda mancha da carne e do espírito. E levemos a termo a nossa santificação no temor de Deus”. (2Cor 7,1)

Após estudarmos a estrutural espiritual do ser humano, passamos a considerar as etapas da caminhada que levam à meta suprema ou à união com Deus tão íntima quanto possível. Os mestres costumam assinalar três fases da vida espiritual:

  1. A via purificativa: etapa na qual o cristão procura combater tudo o que seja incoerência e imperfeição; realiza a purificação do coração;
  2. A via iluminativa: Deus se revela mais intimamente, pois a pureza de coração proporciona amizade com Deus;
  3. A via unitiva: a intimidade com Deus que se revela, vai chegando ao seu ponto mais alto possível em cada criatura; antecipam-se assim as alegrias do céu.

Compreende-se que essas três etapas não são estanques, de modo que o discípulo ficaria só numa etapa de cada vez. Analisemos a via purificativa.

A Via purificativa

Também é chamada Ascese (grego: áskesis=exercício), que na linguagem cristã designa as práticas de autodomínio a que se deve subordinar o cristão para estar em condições de dizer ‘não’ quando acometido por uma tentação.
Em resumo: O pecado original obscureceu o intelecto humano, dificultando-lhe conhecer a Deus e ao próprio homem. Muitos são cegos aos valores espirituais. A vontade humana tende a fechar-se no egoísmo ou na cobiça dos próprios interesses. O ser humano é assim levado à tendência por sua vez desregradas no campo da sensualidade, do amor próprio, do orgulho, etc.

Em consequência impõe-se a necessidade de libertar o coração dos afetos desregrados. Este movimento de purificação abre espaço para a graça divina, que nos vai alimentando a confiança em Cristo.

O pecado mortal

O primeiro obstáculo que a via purificativa combate, é o pecado. Pode-se dizer que o pecado é um ‘não’ a Deus. Pode ser dito em matéria grave ou matéria leve.
Para que um pecado seja grave ou mortal, requer-se o preenchimento destas condições: a) matéria grave; b) conhecimento de causa; c) vontade deliberada.

O AT mostra-nos alguns casos de pecados graves com relação à adoração dos ídolos em lugar do Senhor (rouba-se a glória de Deus): Jr 2,11s; bem como por ingratidão a Deus: Is 5,4 .

É necessário que o pecador se converta quanto antes e busque a confissão sacramental, pois o pecado tende a insensibilizar amis e mais o pecador frente aos valores espirituais; amortece a consciência e endurece o coração. Reconhecer o próprio pecado não é desonra para o pecador, mas engrandecimento. Diz Santo Ambrósio: “Pecar é comum a todos os homens, mas arrepender-se é próprio dos santos”.

O pecado venial

O pecado leve é dito “pecado venial” porque mais facilmente se pode obter a respectiva vênia ou o perdão mediante um ato de contrição ou de caridade. Não é um pecado propriamente dito por faltar-lhe os elementos acima citados, mas não deixam de ser desastrosos; devem ser eliminados os “pecadinhos” da maledicência, da impaciência, da preguiça...

Há uma distinção entre o “sentir” e o “consentir”. Aquele é indeliberado: é o mau pensamento ou o mau desejo que aflora à mente sem ser provocado e por isso não é pecaminoso. Ao contrário, consentir supõe adesão da mente à proposta à proposta inconveniente e, por isto, é pecaminoso. A persistência do pecado ainda que leve, as recaídas sucessivas, ainda que involuntárias, são humilhantes; a incoerência envergonha a quem tem amor a si e a Deus.

As imperfeições

É um ato bom cometido com certa negligência; o ato não é pecaminoso, mas é considerado falho ou imperfeito.
Assim, age com imperfeição aquele que cumpre o dever, ficando quite com a lei, mas não se interessa pelo bom resultado da sua atividade. A pessoa faz o bem, mas não o faz tão perfeitamente quanto é capaz; tal pessoa não realiza todo o bem que ela poderia realizar. Tais cristãos têm atos tíbios, mornos.

Ora tal atitude, se é consciente e voluntária, é grave: significa aceitar a mediocridade como padrão; significa aceitar a desordem ou a desarmonia em relação ao plano de Deus, que nos quer santos.

Tais imperfeições podem ser remediadas evitando a superficialidade de conduta; é necessário fazer com pleno empenho o que nos compete fazer. Outra forma de contornar essa situação de apatia é unindo as realidades espirituais (amar a Deus e percebê-Lo) às coisas simples e pequenas de cada dia.

As provações

“Feliz o homem que suporta com paciência a provação. Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que o amam” (Tg 1,12)

Um auxílio para a purificação do coração, segundo a Providência divina, são as provações e tentações.
As provações são distintas das tentações, visto que não são indução ao pecado, mas são testes aos quais o cristão é submetido para ser corroborada a sua fé e exercitar o seu amor. Exemplo forte é o de Abraão, a quem o Senhor pediu a imolação do seu único filho (Gn 22,1-9), o mesmo ocorreu com Jó.

Caso o cristão, acometido por luto, decepção, fracasso, injustiça, etc. consiga encarar tais realidades não como castigo (de Deus), encontra aí ocasião de crescimento espiritual; caso contrário, deve buscar arrepender-se humildemente e despojar-se de qualquer presunção, entregando-se mais conscientemente à graça de Deus.

A tentação

“Deus faz concorrer todas as coisas para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28)

Chama-se “tentação” o aliciamento ao pecado ou a indução para violar a lei de Deus. Ela pode provir da própria natureza humana ferida pelo pecado original como também do ambiente em que vive o cristão ou de Satanás. Deve-se lembrar, no entanto que, “o demônio é um cão acorrentado, que pode latir muito, fazendo grande barulho, mas só morde a quem chega perto dele”. (S. Agostinho)
Deus permite que sejamos tentados porque isto contribui para o nosso amadurecimento. Não permite que sejamos tentados acima de nossas forças, mas antes faz que a tentação redunde em nosso proveito, como escreve Paulo em 1 Cor 10,13.

O cristão diante da tentação deve lembrar-se que não está só na hora do perigo ou na luta contra o pecado. Cristo quis ser tentado, como verdadeiro homem que era (Mt 4,1-11) e conquistou-nos a graça de vencer as tentações.

Recomendam-se medidas de cautela como: guardar os olhares, ouvidos, memória, fantasia; não ser curioso; evitar não só conversas de má índole, mas também as fúteis e superficiais; fugir de ocasiões próximas de pecado tais como ambientes, localidades, horários; evitar a ociosidade vazia; ter um diretor espiritual para ajuda na superação das dificuldades; simplesmente desprezar as más sugestões e voltar a atenção para Cristo (oração, livro espiritual, cantos espirituais).

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