Autor: Anastasios Kioulachoglou
Para começar, vamos a um texto muito conhecido, que é a parábola do semeador, descrita em 3 dos 4 evangelhos. Vamos ler aqui o registro de Lucas:
“Saiu o semeador a semear a sua semente. E quando semeava, uma parte da
semente caiu a beira do caminho; e foi pisada, e as aves do céu a
comeram. Outra caiu sobre pedra; e, nascida, secou-se porque não havia
umidade. E outra caiu no meio dos espinhos; e crescendo com ela os
espinhos, sufocaram-na. Mas outra caiu em boa terra; e, nascida,
produziu fruto, cem por um.” Dizendo ele estas coisas, clamava: “Quem
tem ouvidos para ouvir, ouça...É, pois, esta a parábola: A semente é a
palavra de Deus. Os que estão a beira do caminho são os que ouvem; mas
logo vem o Diabo e tira-lhe do coração a palavra, para que não suceda
que, crendo, sejam salvos. Os que estão sobre a pedra são os que,
ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas estes não têm raiz, apenas
crêem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam. A parte que
caiu entre os espinhos são os que ouviram e, indo seu caminho, são
sufocados pelos cuidados, riquezas, e deleites desta vida e não dão
fruto com perfeição. Mas a que caiu em boa terra são os que, ouvindo a
palavra com coração reto e bom, a retêm e dão fruto com perseverança.”(Lucas 8:5-8, 11-15)
Nós temos nesta parábola, todos resultados possíveis com relação a
semente da Palavra de Deus. Como vemos na primeira situação conforme
descrita na passagem, a Palavra nem mesmo penetrou no coração daqueles
ouvintes. Eles não acreditavam na Palavra. Por outro lado, na segunda e
terceira situação, a Palavra foi recebida no coração dos ouvintes, mas
nenhum deles deu fruto. O por que disto, nós veremos nas seções
seguintes. Por fim, a quarta categoria de solo, ou coração, foi a única
que realmente ouviu e recebeu a Palavra e deu frutos. Neste capítulo,
nosso foco será na segunda e terceira categorias descritas na parábola,
porque muito se relacionam com o tema deste livro.
"As que caíram sobre a pedra"
Quanto a segunda categoria nós lemos:
“As que caíram sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas estes não têm raízes, apenas crêem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam.”
As pessoas inclusas nesta categoria creram? A resposta do Senhor é sim, eles creram. Eles “creram
por um tempo”, Ele disse. Então, notamos imediatamente que fé tem uma
dimensão de tempo. Em outras palavras, o fato de alguém crer não
significa necessariamente que vai continuar crendo até o fim de sua
vida. Pode ser que a pessoa em questão tenha crido, mas “por algum
tempo.” Uma vez que este “tempo” conforme mencionado, tenha se
encerrado, esta pessoa não permanecerá na fé como aconteceu com as
pessoas descritas nesta categoria de acordo com a passagem. Eles
começaram bem, mas depois de “um tempo”, durante o tempo da tentação, ou
perseguição por causa da Palavra (Marcos, 4:7) eles se desviaram.
Muitos exemplos de pessoas que se enquadram nesta categoria vem a
memória: pessoas que ouviram a Palavra, a aceitaram e depois partilharam
a Palavra com seus parentes e amigos, mas foram rejeitados por eles. Ao
invés de permanecer, eles desistiram e abandonaram a fé. Outros que
tiveram um começo brilhante. Então uma tentação se levantou (pode ser
qualquer coisa) e eles desistiram, ficando portanto ofendidos com Deus e
Seu povo, e também partiram. Estas pessoas creram um dia, mas deixaram
de crer. Na verdade a palavra em grego traduzida como “desviar, cair” é
originalmente “aphistemi”, o que significa “ se retirar de algo ou de
alguma coisa; deixar, cair, apostatar (Dicionário Vine). Então
realmente, é possível que pessoas que uma vez creram, abandonem a fé,
apostatem, devido a uma tribulação, ou tentação por causa da Palavra.
Isto é exatamente o que aconteceu com a segunda categoria descrita na
parábola do semeador. Deus foi em um determinado tempo a escolha na vida
dessas pessoas, mas eles O deixaram, abandonaram a fé.
A pergunta crítica que se levanta neste momento é: Se estas pessoas não
se arrependerem e voltarem a fé original, elas ainda assim serão salvas?
Se nós acreditarmos na doutrina que estabelece “uma vez salvo sempre
salvo”, elas serão salvas porque elas haviam crido anteriormente. O
problema no entanto, é que a fé não é algo estático, algo que uma vez
adquirido em algum momento, estará garantido que alguém nunca a deixará.
Diferentemente disto, a fé possui uma dimensão temporal. E quando as
pessoas desistem da fé, acreditando, mas apenas “por um determinado tempo”,
eles desistem do que lhes foi prometido devido a sua fé, que é a
salvação, a vida eterna. Porque verdadeiramente a salvação não é apenas
pela graça, mas “pela graça por meio da fé.” A parte de Deus se refere a
Graça, e a nossa parte se refere a fé. Ambas as condições têm que ser
mantidas, e Deus sempre é fiel quanto a parte que Lhe cabe. Mas seja
quem for que deixe a fé, olhando para trás, deixa para trás tudo que foi
adquirido junto com a fé, incluindo, especificamente a promessa da
salvação. O Novo Testamento tem diversas passagens que deixam isto muito
claro e o propósito deste livro é trazê-las à tona.
Na tentativa de explicar as passagens mencionadas acima, alguns alegam
que as pessoas enquadradas na segunda categoria conforme descritas na
parábola do semeador nunca creram verdadeiramente. Eles defendem a ideia
de que se estes tivessem realmente crido originalmente, nunca teriam
caído e deixado de crer posteriormente. Mas obviamente esta concepção
contradiz o que o próprio Senhor nos diz quando Ele explica esta parte
da parábola. De acordo com Ele: “Os que caíram sobre a pedra são os que,
ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas estes não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam.”
Essas pessoas receberam a Palavra exatamente como eu e você: com
alegria. E eles creram na Palavra. O Senhor não disse que eles fingiram
acreditar, nem disse que fingiram aceitar a Palavra com alegria. Ao
contrário, a fé dessas pessoas eram originalmente genuínas e real.
Contudo, não durava. Ela durou apenas por um determinado tempo (Mateus
13:21). Então foi a duração da fé que foi o problema com essas pessoas e
não se a fé existiu ou não no começo. Porque verdadeiramente eles
creram, MAS apenas “por um tempo.”
Talvez isto possa explicar a agonia de Paulo ao saber sobre a situação
da fé dos Tessalonicenses perseguidos (2 Tessalonicenses 1:4).
Quando
ele lhes diz:
“Pelo que, não podendo mais suportar o cuidado por vós, achamos por bem ficar sozinhos em Atenas, e enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus no evangelho de Cristo, para vos fortalecer e vos exortar acerca da vossa fé; para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmo sabeis que para isto fomos destinados; pois, quando estávamos ainda convosco, de antemão vos declarávamos que havíamos de padecer tribulações, como sucedeu, e vós o sabeis. Por isso também, não podendo eu esperar mais, mandei saber da vossa fé, receando que o tentador vos tivesse tentado, e o nosso trabalho se houvesse tornado inútil. Mas agora que Timóteo acaba de regressar do vosso meio, trazendo-nos boas notícias da vossa fé e do vosso amor, dizendo que sempre nos tendes em afetuosa lembrança, anelando ver-nos assim como nós também a vós; por isso, irmãos, em toda a nossa necessidade e tribulação, ficamos consolados acerca de vós, pela vossa fé, porque agora vivemos, se estais firmes no Senhor.”(1 Tessalonicenses 3:1-8)
“Pelo que, não podendo mais suportar o cuidado por vós, achamos por bem ficar sozinhos em Atenas, e enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus no evangelho de Cristo, para vos fortalecer e vos exortar acerca da vossa fé; para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmo sabeis que para isto fomos destinados; pois, quando estávamos ainda convosco, de antemão vos declarávamos que havíamos de padecer tribulações, como sucedeu, e vós o sabeis. Por isso também, não podendo eu esperar mais, mandei saber da vossa fé, receando que o tentador vos tivesse tentado, e o nosso trabalho se houvesse tornado inútil. Mas agora que Timóteo acaba de regressar do vosso meio, trazendo-nos boas notícias da vossa fé e do vosso amor, dizendo que sempre nos tendes em afetuosa lembrança, anelando ver-nos assim como nós também a vós; por isso, irmãos, em toda a nossa necessidade e tribulação, ficamos consolados acerca de vós, pela vossa fé, porque agora vivemos, se estais firmes no Senhor.”(1 Tessalonicenses 3:1-8)
Duas vezes em apenas algumas linhas Paulo fala de sua agonia. Ele sabia
que os cristãos estavam sob perseguição e ele estava ávido em saber como
estava a fé deles. Eles estavam firmes na fé? Quais eram as novidades
sobre a fé deles? Boas ou ruins? Esta era a questão e Paulo esperava de
Timóteo uma resposta. Portanto, fé não é algo imutável; alguma coisa
que uma vez adquirida por você, está garantido que você a terá para
sempre. Se fosse assim, Paulo não se preocuparia. Ou seja, se fosse
desta forma, uma vez que eles haviam acreditado originalmente, eles
sempre estariam na mesma fé, independentemente das tentações e
perseguições. Mas não é assim. O propósito do tentador, o diabo, é de
tentar a nossa fé, para que nos desviemos de Deus e seu povo, e
finalmente abandonemos a fé. Resumindo, o propósito dele é nos devorar (
1 Pedro 5:8). O fato de termos conseguido nos manter firmes diante da
tribulação, não significa que faremos o mesmo depois de vivenciarmos a
tribulação e a tentação. Temos que decidir. Deus vai nos apoiar e
segurar, mas também temos que nos manter firmes, temos que decidir
ficar com Ele, independentemente de quaisquer circunstâncias. Alguns
fazem isto, mas outros não. Aqueles que não o fazem, caem, e se desviam
da fé. Eles podem não dizer publicamente, mas na verdade eles não se
importam mais. Eu acredito que qualquer um que professe a fé por algum
tempo sabe de alguns exemplos parecido. Mas, passemos agora para a
terceira categoria da Parábola do semeador.
↠Continua
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