Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. (Ef 5, 8-11)
sábado, 4 de março de 2017
Tripé de Cristo-Oxalá da Mangueira não desfila por pressão da Igreja
O tripé "Santo e orixá", da Mangueira, traz de um lado Jesus Cristo em ascensão Foto: Agência O Globo
A Mangueira decidiu ontem à noite não levar para a Avenida no Desfile
das Campeãs, neste sábado, uma das alegorias mais marcantes do
carnaval: o tripé “Santo e orixá”, que trazia de um lado a imagem de
Jesus Cristo e, de outro, a de Oxalá. A Arquidiocese do Rio de Janeiro
externou para a Liga Independente das Escolas de Samba seu incômodo com a
imagem, e a entidade sugeriu à Verde e Rosa que ela não fosse levada
para a Sapucaí. Por regulamento, cada escola tem o direito de não levar
uma alegoria para o Sábado das Campeãs, sem punição. Integrantes
da Arquidiocese visitaram o barracão da Mangueira antes do carnaval,
para entender o enredo “Só com a ajuda do santo”. Como o desfile
trataria da religiosidade do povo brasileiro, a Igreja fez questão de
conhecer o projeto, para saber como seria abordado o tema e de que forma
apareceriam as imagens. Mas o tripé não estava entre as alegorias que
foram apresentadas. — Queremos manter o bom convívio com a Igreja.
Se eles se sentiram desconfortáveis com isso, é natural que a escola
decida não desfilar com ele novamente — diz o presidente da Liesa, Jorge
Castanheira. O elemento alegórico, giratório, trata do
sincretismo religioso, trazendo o Senhor do Bonfim, venerado sob a
imagem do Nosso Senhor Jesus Cristo em ascensão, e Oxalá, orixá
associado à criação do mundo. No desfile, ele veio ladeado pela ala "A
lavagem do Bonfim", que venceu o Estandarte de Ouro. A criação é do
carnavalesco Leandro Vieira, que renovou ontem seu contrato com a
Mangueira para mais um carnaval. Nesta madrugada aconteceu o transporte
das alegorias para o Sambódromo, e o tripé ficou no barracão. —
Lamento essa decisão, porque foi uma das imagens mais bonitas do ano.
Mas os presidentes da Mangueira e da Liesa chegaram a um acordo, para
evitar polêmicas — disse o carnavalesco Leandro Vieira, resignado.
Do outro lado do tripé, aparece Oxalá, orixá associado à criação do mundo Foto: Agência O Globo
O
embate entre Igreja e carnaval é antigo. Em 1989, no caso mais
emblemático, a Beija-Flor foi impedida de levar o Cristo Mendigo de Joãozinho Trinta para a Avenida. Ele desfilou coberto com um plástico
preto, com a inscrição: "Mesmo proibido, olhai por nós". Desde então, a
relação havia melhorado, especialmente após a entrada do Cardeal Dom
Orani Tempesta na Arquidiocese, com diversas imagens de santos passando
pela Avenida.
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