Por Pe. Nuno Tovar de Lemos
"Deus-energia", "Deus-universo", "Deus-polícia"... Às vezes, além de incompleta, a nossa ideia de Deus é equivocada
“Deus”. Quando dizemos esta palavra temos alguma
ideia na cabeça, uma “imagem” de Deus. Claro que qualquer ideia que
tivermos de Deus, por melhor que ela seja, será sempre incompleta: Deus é
sempre muito maior que a nossa cabeça. Mas, por vezes, além de
incompleta, a ideia que temos de Deus está distorcida.
Aqui vão algumas dessas imagens distorcidas de Deus:
1 – Deus-energia
Algumas pessoas pensam que Deus é uma “energia positiva”, talvez a energia do amor.
De fato, Deus dá muita energia a quantos dele se aproximam. Mas a
energia não é Deus. A energia é impessoal e Deus é pessoal. Ou seja:
Deus é um Alguém que nos conhece e com quem podemos falar e ter uma
relação de amizade. Ninguém fala com a energia elétrica (a não ser num
hospital psiquiátrico).
2 – Deus-universo
Algumas pessoas pensam que Deus é o conjunto do universo.
De fato, o universo reflete um pouco de quem é Deus. Mas Deus não é o
universo: Deus é o criador do universo. O universo reflete quem é Deus
tanto quanto uma obra de arte reflete a personalidade do artista que a
criou. Uma coisa é o quadro que representa a Mona Lisa e outra é
Leonardo Da Vinci, o autor do quadro.
3 – Deus das marionetes
Algumas pessoas pensam que Deus é como um manipulador de marionetes.
As marionetes seríamos nós! Ou seja: pensam que o nosso destino está
traçado e controlado por Deus.
Mas não é assim: Deus dá e respeita a liberdade que deu ao mundo e a
cada um de nós. Está sempre conosco, mas não nos controla, nem mesmo
quando nós decidimos negá-Lo ou não Lhe dar importância.
4 – Deus-polícia
Algumas pessoas pensam que Deus anda atrás de nós como um policial,
para ter a certeza de que é cumprida a lei (a ordem moral, os
mandamentos).
De fato, Deus está sempre atrás de nós, mas não por causa de lei: é
porque Ele nos ama! Ele anda atrás de nós como um rapaz apaixonado anda
atrás da moça por quem se apaixonou. Não está interessado em que a lei
seja mantida: Deus está interessado em nós porque nos ama. Se nos dá
mandamentos é para nos indicar o caminho da nossa verdadeira felicidade.
Essa é a única coisa que lhe interessa.
5 – Deus-companhia-de-seguros
Algumas pessoas esperam que a sua fé funcione como um seguro: se
tiverem “as contas em dia” com Deus ficarão protegidas dos perigos e
problemas que mais temem (a doença, o fim do namoro ou casamento etc).
De fato, uma boa relação com Deus nos dá força e um sentimento grande
de “abrigo”, mas não nos protege das dificuldades da vida. Mais: uma
relação séria com Deus nos desafia e nos convida a ir mais longe na
maneira de estarmos na vida. Por vezes, até nos leva a enfrentar riscos
que não teríamos sem Ele (como aconteceu aos primeiros cristãos no circo
de Roma).
6 – Deus-relojoeiro
Algumas pessoas pensam que – há muito, muito tempo – Deus criou o
mundo e depois ficou simplesmente a observar, como um relojoeiro depois
de ter acabado de fabricar um relógio ao qual já deu corda…
De fato, o mundo tem a sua autonomia, mas Deus não Se limita a
observar: está sempre presente e ativo, encontrando mil e uma maneiras
discretas de nos bater à porta para intervir na nossa vida. Ou seja:
continua a nos criar, tal como um pai cria um filho, falando-nos e
dando-nos continuamente oportunidades e meios de crescimento.
7 – Deus “Pequeno Príncipe”
Algumas pessoas associam Deus ao lado adolescente da vida: às emoções
fortes, à poesia, à intimidade, à música, ao “pôr-do-sol”… É um Deus
que só está presente nos “momentos mágicos”.
De fato, há momentos “mágicos” e poéticos na vida de quem tem fé. Mas
também há momentos duros. E Deus continua a estar presente. O mesmo
Deus que criou o pôr-do-sol também deu a Sua vida por nós numa cruz.
Deus se revela na poesia, mas também está presente nos momentos duros,
inspirando-nos fidelidade e capacidade de superação de nós mesmos.
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Adaptado ao português brasileiro a partir de texto original do pe. Nuno Tovar de Lemos, sacerdote jesuíta português, via Senza Pagare
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