domingo, 13 de agosto de 2017

As coisas últimas, à luz da fé: uma leitura cristã do pós-morte

[domtotal]
Por Felipe Magalhães Francisco*

A fé cristã não comporta a ideia de reencarnação, mas poucos conhecem de fato o que crê a Igreja sobre o pós-morte.


A insegurança no que toca o pós-morte é uma questão pulsante em todas as religiões. (Divulgação/ Pixabay)

Das contribuições que as religiões oferecem à humanidade, destacam-se as tentativas de respostas a respeito dos questionamentos fundamentais da pessoa humana. Entre esses questionamentos, a insegurança no que toca o pós-morte é uma questão pulsante em todas as religiões. Todas as tentativas de resposta, no entanto, são sempre penúltimas: nesse mistério que nos ultrapassa, o do pós-morte, só a esperança, fruto da fé, pode acalentar, pois fugimos do campo das certezas. É certo, nisso tudo, que as religiões buscam agregar significado às vidas humanas, refletindo e jogando luz sobre esses temas que sempre vão inquietar todas as pessoas.
O Brasil é um país fortemente marcado pelo sincretismo religioso. Esse sincretismo também se manifesta, de forma curiosa, nas inquietações e perspectivas humanas sobre o pós-morte. Nas estatísticas, percebemos que a imensa maioria da população brasileira se define como cristã, mas o específico e singular da fé cristã, que é a fé na Ressurreição de Jesus, que alcança também a nós, não é compreendida de maneira profunda, tal como como o credo cristão a compreende. Há uma reunião de elementos de distintas tradições religiosas, muitas vezes inconciliáveis teologicamente, que permeiam o imaginário popular.
Basta percebermos que, popularmente, muitos traços da fé espírita estão presentes no cotidiano das pessoas que se assumem cristãs, ainda que essas pessoas ignorem que essas compreensões são inconciliáveis com a fé cristã. Cristianismo e espiritismo podem se aproximar de muitas formas, fecundamente no diálogo, mas as suas respectivas compreensões da Ressurreição e Reencarnação marcam as singularidades dessas duas religiões, manifestando compreensões completamente distintas sobre o além-vida. Esse é apenas um exemplo de como essas questões acerca do pós-morte são elaboradas pelas pessoas, na tentativa de encontrar uma resposta alentadora sobre esses temas fundamentais. Nesta matéria especial, trazemos uma tentativa de colaborar nessa compreensão, à luz da fé cristã.
No primeiro artigo, No fim, começo!, o Ms. Rodrigo Ladeira propõe uma leitura a respeito da escatologia cristã, na perspectiva do amor. No artigo, o autor lança um olhar sobre a possibilidade de uma nova compreensão a respeito do tempo, a partir da encarnação do Filho de Deus, que é a irrupção da eternidade em nosso tempo. Dessa maneira, a escatologia cristã se ocupa de refletir a respeito das interpelações que o amor de Deus faz à liberdade humana, como proposta de mergulho profundo na eternidade do amor, o qual, desde já, deixa marcas em nossa história concreta.
Em seguida, no segundo artigo, Céu, inferno e purgatório à luz do mistério pascal, o Dr. Geraldo De Mori, SJ, faz uma análise teológica dos chamados novíssimos: céu, inferno e purgatório, à luz daquilo que o próprio mistério pascal de Cristo nos revela. Para isso, o autor mostra a evolução no processo de compreensão a respeito do pós-morte na Sagrada Escritura e na história do Cristianismo, culminando numa reflexão teológica dos novíssimos, na perspectiva de Jesus, o Filho de Deus.
Analisando uma das passagens bíblicas, no Novo Testamento, mais contundentes a respeito da escatologia, a Dr. Aíla Pinheiro Andrade, NJ, no terceiro e último artigo, Um novo mundo vem aí, estejamos vigilantes!, propõe uma leitura do chamado discurso escatológico de Jesus, presente no capítulo 25 do Evangelho de Mateus. Passando pelas três parábolas que compõem o capítulo, a autora reflete sobre a importância da vigilância, segundo aquilo que o próprio Jesus nos inspira: preparando-nos, existencialmente, para o definitivo encontro.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). 

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