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Por Flávia Gomes*
O pentecostalismo parece inaugurar uma nova maneira de entender e se apropriar do texto sagrado.
Observa-se que no culto pentecostal o sermão nem sempre é o ponto culminante como acontece na liturgia cristã tradicional. (Divulgação/ Pixabay) |
O Pentecostalismo tem sido alvo de
constantes estudos devido ao seu crescimento e paradigma. Esse novo modo
de ser cristão implica num discurso que manifesta abruptos rompimentos
com a mensagem protestante clássica de onde origina a vertente
pentecostal. As distinções entre o protestantismo histórico e
pentecostalismo se acentuam quando se passa para o campo da hermenêutica
bíblica pela ausência de contextualização da passagem bíblica em sua
aplicação cotidiana no discurso pentecostal.
Desse modo, o uso do texto sagrado é responsável por uma linha divisória de grupos que conformam ainda um mesmo seguimento.
O pentecostalismo parece inaugurar uma
nova maneira de entender e se apropriar do texto sagrado. Sua teologia
central, marcadamente formulada pela ênfase na prosperidade, exorcismo e
cura, é baseada numa leitura bíblica que se ajuste a esse discurso
utilitarista, pois a causa dos problemas dos fiéis é apontada a partir
de referências bíblicas em que um texto é lido e comentado como
explicação da causa dos males e da oferta de saídas. Haja vista a queda
da antiga mensagem da cruz no pentecostalismo, pois o discurso teológico
que pregava o sofrimento do cristão caiu por terra, ocorrendo o
soterramento de tal mensagem.
Os pentecostais são um seguimento do
cristianismo que adota uma interpretação e uma prática marcadas pelo que
consideram ser a experiência do Espírito Santo. Tem como
características atuais a centralidade na experiência emocional, o culto
de louvor efervesceste, a tendência à leitura literalista dos textos
bíblicos e a prática do exorcismo.
Observa-se que no culto pentecostal o
sermão nem sempre é o ponto culminante como acontece na liturgia cristã
tradicional. Coloca-se a dúvida da possibilidade de falar em sermão
quando é evidente que toda a liturgia parece ter a mesma ênfase, a mesma
força doutrinária e catequética. A palavra vai para além de um sermão,
complementando-se nos demais atos do culto, significando mais do que uma
exegese do texto bíblico, pois muitas vezes é usada como pretexto para
frisar o compromisso do dízimo, da evangelização ou de normas de conduta
dos crentes. De qualquer forma, a pregação é um ponto importante cujo
tema central é a luta contra o mal através da santificação pessoal.
A afirmação do poder de Deus encontra na
leitura literalista do texto bíblico a fundamentação incontestável. A
linguagem é simples e direta, afirmadora dos poderes divinos. A pregação
é vivencial, pois une episódios bíblicos a circunstâncias nas quais os
fiéis se encontram.
A experiência religiosa pentecostal se dá
numa dinâmica atemporal em que as narrativas bíblicas tornam-se
realidade assim como encontram escritas no texto. Não há, para estes,
necessidade de mediações explicativas para os textos bíblicos. Há um
passado que interpreta o presente e um presente que reinterpreta o
passado a partir de suas condições. No pentecostalismo, aliado à
interpretação literalista está presente, também, elementos da crendice
popular, o que assegura ainda a criação de um contexto sobrenatural.
Dessa forma faz-se uma ligação direta com o
tempo das origens, com o evento de Pentecostes, com os milagres de
Jesus, com os dons do Espírito Santo. Os fatos do passado, narrados nos
textos bíblicos, tornam-se, imediatamente, realidade vivenciada pelo
fiel. O texto bíblico é, antes de tudo, um elo que liga as origens da fé
cristã, o tempo da salvação ao hoje do fiel. O Pentecostalismo torna
indistinto o ontem do hoje vivenciando suas origens na lógica estrita do
tempo mítico.
Para o pentecostal, o texto bíblico tem
uma função mais prática que teórica e não uma referência escrita de uma
experiência do passado que exige interpretação para ser compreendida e
explicada. Para que possa exercer tal função, é fundamental, portanto,
que o texto seja conservado em sua literalidade, pois o estudo pode
impedir esse processo ao distinguir as temporalidades de ontem e de
hoje, por meio do estudo da história e da cultura, da língua e do gênero
literário da época em que o texto foi escrito.
Nesse contexto os textos bíblicos não são
referências escritas do passado, para os pentecostais, mas sim
narrativas imitadas em todos os momentos. Ser pentecostal é sair da
prisão da precariedade do tempo profano do mundo.
No pentecostalismo a Bíblia é referenciada como um objeto de poder,
enfatizando o uso mágico da mesma a qual se torna muito mais um oráculo a
ser consultado, do que a regra de fé e prática. Esse uso da Bíblia como
um símbolo faz com que a presença da ação mediada de Deus não seja
totalmente iconoclasta, pois a Bíblia é usada como objeto heirofânico
(que manifesta o sagrado), que não apenas contém uma mensagem escrita,
mas, que emana também força e proteção.
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