1. UMA PARTE MUTÁVEL E OUTRA IMUTÁVEL.
No conjunto da liturgia, especialmente na
celebração eucarística, se exerce a obra da nossa redenção (SC 2). Tal
conjunto ficou sujeito a um devir ao longo da história. Nele existe uma
parte imutável, porque de instituição divina; mas existem também partes
suscetíveis a mudanças, que podem ou não variar com o decorrer do tempo.
Veremos tais mudanças no devir da história que lentamente deram vida ao
imponente edifício da liturgia na Igreja, a partir da origem divina
estabelecida em Jesus Cristo.
2. JESUS CRISTO, CENTRO DO CULTO CRISTÃO.
Para Cristo tende toda a história da
salvação: “Deus que quer salvar e fazer chegar ao conhecimento da
verdade todos os homens… nos falou por meio do seu Filho na plenitude
dos tempos” (SC 5). Essa é a obra salvífica, realizada na história da
salvação, que se acha no centro de nosso culto, que teve seu prelúdio
nos admiráveis feitos do AT e foi plenificada por Jesus Cristo através
do mistério pascal da sua sagrada paixão, ressurreição e gloriosa
ascensão.
A realização do mistério salvífico da páscoa de Cristo é tarefa verdadeira e específica da liturgia, em adoração e glorificação do Deus vivo e santificação de todos os homens, que se realiza através do sacrifício e dos sacramentos. Nisso podemos afirmar que a liturgia é continuadora da obra de salvação realizada por Cristo. Para que isso se tornasse possível, os apóstolos pregaram e congregaram fiéis para pôr em prática ações cultuais.
A realização do mistério salvífico da páscoa de Cristo é tarefa verdadeira e específica da liturgia, em adoração e glorificação do Deus vivo e santificação de todos os homens, que se realiza através do sacrifício e dos sacramentos. Nisso podemos afirmar que a liturgia é continuadora da obra de salvação realizada por Cristo. Para que isso se tornasse possível, os apóstolos pregaram e congregaram fiéis para pôr em prática ações cultuais.
3. O CULTO NA ÉPOCA DO NOVO TESTAMENTO.
AS PRIMEIRAS FORMAS DE AÇÕES CULTUAIS: Se
deram na época apostólica, muito especificamente nas confissões de fé
no Senhor Jesus ressuscitado. Mas, o fundamento e os pontos de partida
para tais ações devem ser procurados na vida de Jesus antes sua
ressurreição.
Os evangelhos delineiam o âmbito
espiritual e cultual de Jesus: Circuncisão (Lc 2,21); purificação (Lc
2,22); peregrinação anual ao Templo para a páscoa (Lc 2,41); batismo (Mt
3,13); ensino e atividade no culto da sinagoga (Lc 4,14.17-21); intensa
vida de oração (Lc 6,12). Como sabemos ele toma com os discípulos a
ceia pascal, a qual insere a nova ação memorial; defende a pureza do
culto quando expulsa os vendilhões do Templo. Enfim, o evangelho de João
põe nos lábios de Jesus palavras relativas ao verdadeiro culto de Deus :
“Vem a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito
e verdade” (4,23). Vê-se a explícita intuição de ações cultuais: a
ordem de batizar (Mt 28,19) e do encargo de celebrar a ceia (Lc 22,19).
Com a ressurreição e ascensão do Senhor, o
culto a Deus centra-se no crucificado que foi ressuscitado pelo poder
de Deus. A comunidade dos primeiros discípulos é fascinada pela luz
pascal. Enviados eles ministram o batismo, se reúnem para a fração do
pão e oração (At 2), pregam a boa nova da ressurreição; a eucaristia
celebrada em memória do Senhor realiza-se depois de um ensinamento
doutrinal (At 20, 7-11), precisamente no “primeiro dia da semana”; a
vida de oração aos moldes do ensinamento do Senhor se faz com constância
(At 3,1; 16,25); a oração e a unção sobre os enfermos (Tg 5,14-15).
UMA CONCENTRAÇÃO CRISTOLÓGICA NO CULTO:
Com tal liberdade do Espírito, no abandono dos usos cultuais
relacionados as imagens do tempo passado, vai-se delineando em poucas
formas a liturgia do novo povo de Deus : O evento Cristo é a realização
do culto definitivo.
4. A LITURGIA NA IGREJA DOS MÁRTIRES.
Até meados do século II a Igreja nutriu-se
de uma intensa vida espiritual, consolidando-se, foi descobrindo a
originalidade que a distanciava do judaísmo. São tempos que a Igreja
viveu de modo “intra”, onde, somente a partir da metade do século II
vai-se iniciar um período de forte expansão; a Igreja procura impregnar o
mundo com o espírito cristão, diferenciando o cristianismo de uma
seita.
O MARTÍRIO: O poder político vê no
fenômeno religioso, crescente e misterioso, uma ameaça para o Império,
onde, a partir desse enfoque, começa a surgir ondas de perseguições que
porão a prova os seguidores de Cristo. Esses terão que em tribunais
justificar a sua fé com a própria vida. Serão os mártires
(“testemunhas”, em grego) que diante das mais absurdas acusações (serem
acusados de ateus por não terem deuses), aprenderão que a adesão ao
Crucificado impõe duras provas.
As Igrejas começam a valorizar o martírio
como o testemunho perfeito que o cristão pode dar, e desenvolve toda uma
espiritualidade do mesmo. Eles, os mártires, são os cristãos perfeitos
que se unirão a Paixão do Senhor. O martírio é um verdadeiro culto,
onde, são descritos em termos cultuais e eucarísticos.
O CATECUMENATO: Uma das instituições mais fecundas da Igreja primitiva.Surge
da necessidade de formar verdadeiros cristãos junto ao combate as
heresias primitivas. O seu desenvolvimento consta de: longa aprovação
de três anos, apadrinhamento por um membro da Comunidade,
incompatibilidade com profissões ligadas ao culto pagão (serviço
militar, administração do império) , instrução doutrinal e admissão
(feitos cristãos) na noite santa da Páscoa.
UMA MUDANÇA FUNDAMENTAL: Talvez a maior
de toda a história da liturgia: o abandono do banquete como suporte da
celebração. Essa mudança produz modificações: desaparecem as mesas;
caem em desuso os termos “fração do pão” e “ceia do Senhor”; começa-se a
usar o termo “eucaristia” (ação de graças) ao conjunto de toda a
celebração.
ESTRUTURA FUNDAMENTAL DA LITURGIA
DOMINICAL: Em meados do século II: Início com a dupla liturgia da
palavra (proclamação dos Evangelhos e dos Profetas) seguida de homilia;
momento comunitário da oração dos fiéis; apresentação das oferendas
seguida da oração eucarística. A segunda parte: conexão entre o
banquete e a caridade para com os necessitados.
A ORAÇÃO EUCARÍSTICA: É quase igual a
nossa oração II. Sua estrutura contém: diálogo entre o bispo e a
assembléia; não há sanctus desembocando direto na narrativa da
instituição; segue anamnese sacrificial; epiclese; doxologia trinitária e
amém.
A CELEBRAÇÃO PENITENCIAL: Marca a ruptura
com Deus e com a assembléia. Ocorria a manifestação pública do pecado a
toda assembléia seguida de exclusão da comunidade (plenitude da vida
eclesial). A comunidade acompanhava o processo penitencial dos pecadores
rezando por eles, para que não fraquejassem no duro caminho de
conversão, até serem readmitidos à comunidade.
5. A LITURGIA NA IGREJA DO IMPÉRIO (313 – 590)
NOVA MUDANÇA: O império, com Constantino,
muda sua atitude de perseguição e adota o cristianismo como religião
oficial. A Igreja passa por uma adaptação à situação nova, tendo que
enfrentar um novo fenômeno : as conversões em massa e os benefícios e
privilégios recebidos do Estado.
NOVO PROBLEMA: A baixa qualidade dos
candidatos. Ser cristão passa a ser um benefício restrito a alguns,
assim como, as funções reservadas à corte eclesial.
O MONAQUISMO: Surge da necessidade de se
atingir a perfeição (vida cristã mais qualificada = santidade), frente
as fraquezas que atinge muitos cristãos. O deserto do Egito é o campo de
ação desses cristãos que buscam com a vida ascética substituir o antigo
martírio, já não tão visto na Igreja. A celebração do Senhor ocupa
lugar central na espiritualidade monástica, demonstrando especial
dedicação à liturgia.
NOVA SITUAÇÃO ECLESIAL: A sinceridade das
conversões diminui; o crescimento do número de batismo de crianças põe
em crise a fecunda instituição do catecumenato, que assegurava a
qualidade dos cristãos; o sistema de penitência mostrava-se muito severo
(pecados não eram perdoados, penitências pagas por toda vida ou por
longos períodos); o poder político se une e se identifica ao religioso.
Isso levou muitos a postergar o batismo até momentos antes da morte.
AS HERESIAS: É uma época de grandes
controvérsias teológicas, onde, os concílios vão impor a ortodoxia da
Igreja. Nicéia (325), a fé na divindade de Cristo contra o arianismo.
Constantinopla (381), afirma o Espírito Santo. Em ambos concílios se
afirma a doutrina trinitária. Éfeso e Calcedônia se concentram no
problema cristológico: uma única pessoa (Éfeso), contra Nestório, e
duas naturezas (Calcedônia), contra o monofisismo.
FORTE INFLUÊNCIA LITURGICA: Sendo a
liturgia a celebração da fé, ela vem em afirmação da mesma contra as
controvérsias impostas : introdução da doxologia como afirmação da
consubstancialidade trinitária, orações dirigidas a Jesus seguida da
arte (os pantocrator). Tudo para fixar a fé na divindade de Jesus.
FIXAÇÃO DE TEXTOS LITÚRGICOS: Uma Igreja
expandida pelo mundo e ameaçada por heresias não podia ficar a mercê das
improvisações nas celebrações eucarísticas e expor sua doutrina a mercê
de qualquer inspiração. Desse modo, as diferentes Igrejas começam a
fixar por escrito suas formas de celebrar, seus textos oracionais.
Vive-se momentos de grande criatividade na história da liturgia.
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