Conferencia Episcopal Venezolana
Monseñor Antonio López Castillo, Arzobispo de Barquisimeto
Enquanto opositores do regime ditatorial chavista são sistematicamente assassinados na Venezuela, o ditador do país em frangalhos, Nicolás Maduro, ordenou nesta semana uma investigação sobre o que chamou de “crimes de ódio”, cometidos, segundo ele, pelos bispos católicos que criticam o seu “governo”.
Durante uma transmissão de rádio em rede nacional, Maduro aludiu a declarações de dois bispos: dom Antonio López Castillo (foto), que, numa recente homilia, arrancou veementes aplausos dos fiéis ao pedir que a Venezuela seja salva da corrupção; e dom Victor Hugo Basabe,
que rezou publicamente para que a Venezuela se livre da “praga
corrupta” que leva “milhares de venezuelanos a fuçarem no lixo à procura
de lavagem para matar a fome”.
Nicolás Maduro acusou os bispos católicos de “gerar confrontos entre venezuelanos, violência, morte, exclusão e perseguição” – como se ele próprio, por acaso, estivesse fomentando concórdia, paz, vida, diálogo e respeito.
No mesmo dia de mais essa declaração estapafúrdia e mentirosa, autoridades venezuelanas divulgaram ter matado Óscar Pérez,
policial opositor acusado de terrorismo. Ensanguentado, Pérez publicou
vídeos em redes sociais, instantes antes de ser morto, afirmando que o
seu grupo estava sob ataque do regime chavista.
“Não estamos atirando e eles continuam nos atacando”,
disse Pérez. “Estamos tentando negociar porque há pessoas inocentes
aqui, há civis… Eles literalmente querem nos matar”.
E mataram.
O regime que não dialoga e que tenta esmagar a oposição de todas as
formas aponta o dedo também contra os bispos que apenas afirmaram o
óbvio.
Episcopado venezuelano e representantes do Vaticano na Venezuela têm
procurado mediar o profundo conflito que sangra o país há anos, numa
sinuca semelhante à que teve de ser enfrentada pela Santa Sé em relação
ao nazismo alemão.
O dilema, naquele e neste contexto, é basicamente o mesmo:
como equilibrar conteúdo firme e forma conciliadora para, ao mesmo
tempo, opor-se a um regime opressor e evitar que o regime se torne ainda
mais brutal contra os oprimidos?
O mesmo dilema ocorre em quaisquer países opressores em que o risco
do confronto aberto derramaria mais sangue inocente, como a China, Cuba,
Vietnã e todos os países africanos e asiáticos que sofrem grande
influência do fanatismo islâmico.
A opção da Igreja costuma ser a ação mediadora nos bastidores, juntamente com declarações pontuais mais fortes, mas sem provocar ruptura total. Essa fórmula tem sido considerada a menos passível de provocar piora drástica na já dramática situação.
Tanto Pio XII quanto Francisco, porém, pagam o preço de ser acusados de omissos, covardes ou até cúmplices – inclusive, como se não bastassem os ataques de fora, por parte de supostos católicos mais propensos a crucificar o Papa do que a propor estratégias responsáveis, sensatas e realistas.
Adendo: seria muito interessante que os críticos conhecessem a história de Carl Gustaf Emil Mannerheim, líder da Finlândia
durante a Segunda Guerra Mundial. Ele tinha o desafio quase impossível
de manter a Finlândia livre, ao mesmo tempo, do domínio da Alemanha
nazista, por um lado, e da invasão da União Soviética, por outro. Ele
precisou jogar um delicado jogo de equilíbrio visando o bem do seu povo –
a mesma coisa que tinha de ser feita pelo Papa Pio XII e com o mesmo objetivo.
No entanto, apesar de terem se baseado na mesma e sensata lógica,
Mannerheim é até hoje um herói na Finlândia, enquanto Pio XII ainda é
bombardeado pelos que, tergiversando a realidade, o acusam de ter sido o
“Papa de Hitler“. E isso que Pio XII salvou muito mais judeus
do que Mannerheim e, obviamente, muitíssimo mais do que aqueles que lhe
apontam o dedo…
Para saber mais sobre estes dois líderes e entender melhor a complexidade da sua situação, leia este artigo:
“Presidente de Hitler” não, mas “Papa de Hitler” sim?
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