Papa Pio IX (1846-1878), o Papa que expôs a Permanent Instruction. |
A Permanent Instruction of the Alta Vendita é um documento maçônico (de 1818-20)¹ que delineava todo um plano para infiltrar e corromper a Igreja Católica no século XX.[1]
Apesar de estar na moda, desde o Concílio Vaticano II, ridicularizar a
existência de uma tal conspiração, deve notar-se que os papéis secretos
da Alta Vendita (uma sociedade secreta italiana), entre os quais a Permanent Instruction, caíram nas mãos do Papa Gregório XVI.
Papa Gregório XVI (1831-1846) |
A Permanent Instruction foi publicada a pedido do Bem-Aventurado Papa Pio IX pelo Cardeal Crétineau-Joly no seu livro The Roman Church and Revolution.[2]
Pelo seu Breve de aprovação, datado de 25 de Fevereiro de 1861 e endereçado ao autor, o Papa Pio IX garantiu a autenticidade da Permanent Instruction
e dos outros documentos maçônicos, mas não permitiu que se divulgassem
os nomes verdadeiros dos membros da Alta Vendita mencionados nos
documentos.
O Papa Leão XIII também pediu a sua publicação. Ambos os Papas
atuaram, certamente, para evitar que se concretizasse uma tal tragédia,
que estes grandes Pontífices sabiam que estava longe de ser impossível. O
texto completo da Permanent Instruction também se encontra no livro de
Monsenhor George E. Dillon Grand Orient Freemasonry Unmasked.[3]
Quando deram um exemplar do livro de Monsenhor Dillon ao Papa Leão XIII, este ficou tão impressionado que encomendou que se fizesse uma edição italiana, paga por sua conta.[4]
Papa Leão XIII (1878-1903) |
A Alta Vendita era a loja mais categorizada dos Carbonários, uma
sociedade secreta italiana ligada à Maçonaria e que, juntamente com
esta, foi condenada pela Igreja Católica.[5]
O respeitável historiador católico Padre E. Cahill, S.J., que não pode
ser considerado como um “maníaco das conspirações”, escreveu no seu
livro Freemasonry and the Anti-Christian Movement, que a Alta Vendita «era geralmente considerada na altura como o centro governativo da Maçonaria européia».[6] Os Carbonários estiveram especialmente ativos na Itália e na França [e em Portugal, sobretudo de 1910 a 1926].[6a]
No seu livro Athanasius and the Church of Our Time (1974), o Bispo
Rudolph Graber, autoridade objectiva e irrepreensível que escreveu
depois do Concílio Vaticano II, citou um Maçom ilustre que declarou que «o objetivo (da Maçonaria) já não é a
destruição da Igreja, mas utilizá-la através da infiltração».[7]
Por outras palavras, como a Maçonaria não pode obliterar completamente a
Igreja de Cristo, tenciona não só extirpar a influência do Catolicismo
na sociedade, como também usar a estrutura da Igreja como instrumento de
“renovação”, “progresso” e “iluminação” - isto é, como um meio de levar
a cabo muitos dos princípios e objetivos maçônicos. Ao discutir a visão
maçônica da sociedade e do Mundo, o Bispo Graber introduz o conceito de
sinarquia: «O que agora enfrentamos é a súmula das forças
secretas de todas as ‘ordens’ e escolas, que se uniram para formar um
governo mundial invisível. Num sentido político, a sinarquia pretende
integrar todas as forças da finança e da sociedade que o governo
mundial, naturalmente sob chefia socialista, tem que apoiar e promover. O
Catolicismo, como todas as religiões, seria consequentemente absorvido
num sincretismo universal. Não só não seria suprimido como, pelo
contrário, seria integrado, uma táctica que já está em andamento segundo
o princípio da fraternidade entre clérigos (das várias religiões)».
A estratégia delineada pela Permanent Instruction para atingir
este objetivo é espantosa pela sua audácia e astúcia. O documento
refere-se, desde o princípio, a um processo que levará décadas a
cumprir. Os autores do documento sabiam que não viveriam para assistir
ao seu triunfo. Estavam, sim, a inaugurar uma obra que seria retomada
por gerações sucessivas de iniciados. Como diz a Permanent Instruction: «Nas nossas fileiras o soldado morre mas a luta continua».
A Instruction propunha a disseminação das ideias e axiomas
liberais pela sociedade e dentro das instituições da Igreja Católica, de
tal modo que os leigos, seminaristas, clérigos e prelados seriam
gradualmente, e ao longo dos anos, imbuídos de princípios progressistas.
Esta nova mentalidade viria eventualmente a ser tão difusa que seriam
ordenados Padres, sagrados Bispos e nomeados Cardeais indivíduos cujo
pensamento estaria em harmonia com as idéias modernas baseadas nos
“Princípios de 1789” (isto é, os princípios da Maçonaria, que inspirou a
Revolução Francesa) - ou seja: o pluralismo, a igualdade de todas as
religiões, a separação da Igreja e do Estado, a liberdade de expressão
sem restrições, e assim por diante.
Chegar-se-ia por fim a eleger um Papa vindo destes meios, que levaria a
Igreja pelo caminho da “iluminação e renovação”. Note-se, desde já, que
não estava nos seus planos colocar um Maçom na Cadeira de S. Pedro. O
seu objetivo era criar as condições
que acabariam por produzir um Papa e uma Hierarquia conquistados pelas
ideias do Catolicismo liberal, ao mesmo tempo que se consideravam
Católicos fiéis.
Estes dirigentes católicos liberalizados deixariam de se opor às ideias modernas da Revolução (ao contrário dos Papas de 1789 a 1958, que condenaram de forma unânime estes princípios liberais),
mas, pelo contrário, amalgamá-los-iam à Igreja ou “batizá-los iam” para
os colocarem dentro da Igreja. O resultado final seria um Clero e um
laicado católicos que marchariam sob a bandeira da “iluminação”,
pensando ao mesmo tempo estarem a marchar sob a bandeira das Chaves
Apostólicas. Certamente com a Permanent Instruction no pensamento, o Papa Leão XIII em Humanum Genus exortou os dirigentes católicos «arrancai à Maçonaria a máscara com que ela se cobre, e fazei-a ver tal qual é».[8]
A publicação destes documentos da Alta Vendita era um meio de “arrancar a máscara”.
Para que não se diga que nós interpretamos mal a Permanent Instruction,
vamos agora citá-la extensamente. O que se segue não é a Instruction
completa, mas a secção mais relevante como prova. Lê-se no documento:
“O Papa, qualquer que ele seja, não virá às sociedades secretas;
compete às sociedades secretas dar o primeiro passo em direção à Igreja,
para conquistar a ambos. A tarefa que vamos empreender não é trabalho
de um dia, ou de um mês, ou de um ano; pode durar vários anos, talvez um
século; mas nas nossas fileiras o soldado morre e a luta continua. Não
tencionamos atrair os Papas à nossa causa, fazê-los neófitos dos nossos
princípios, propagadores das nossas idéias. Isso seria um sonho
ridículo; e se acontecesse que Cardeais ou prelados, por exemplo, quer
por sua livre vontade ou de surpresa, entrassem em parte dos nossos
segredos, isso não seria de modo nenhum um incentivo para desejar a sua
elevação à Cadeira de Pedro.
Essa elevação arruinar-nos-ia. Só a sua ambição levá-los-ia à
apostasia, e as necessidades do poder forçá-los-iam a sacrificar-nos. O
que devemos desejar, o que devemos procurar e esperar, tal como os
judeus esperam pelo Messias, é um Papa conforme às nossas necessidades
(...) Com isto marcharemos com mais segurança para o assalto à Igreja do
que com os panfletos dos nossos irmãos em França e até do que com o
ouro da Inglaterra. Quereis saber a razão? É que com isto, para
despedaçar a grande rocha em que Deus erigiu a Sua Igreja, já não
precisamos de vinagre anibaliano, ou de pólvora, ou mesmo das nossas
armas. Temos o dedo mínimo do sucessor de Pedro comprometido nesta
empresa, e este dedinho vale tanto, para esta cruzada, como todos os
Urbanos II e todos os São Bernardos da Cristandade.
Não temos dúvidas de que chegaremos a este fim supremo dos nossos
esforços. Mas quando? Mas como? O desconhecido ainda não foi revelado.
Contudo, visto que nada
nos irá desviar do plano estabelecido e, pelo contrário, tudo
tenderá para ele, como se já amanhã o trabalho que mal foi esboçado
fosse coroado de sucesso, desejamos, nesta Instrução, que se manterá
secreta para os simples iniciados, dar aos dignitários na chefia da
Suprema Vendita alguns conselhos em forma de instrução ou memorando,
conselhos esses que eles deverão imbuir em todos os irmãos (…) Ora bem,
para assegurarmos um Papa com as características desejadas, é preciso,
em primeiro lugar, modelá-lo (…) [e,] para este Papa, uma geração digna
do reinado que sonhamos. Ponde de parte os velhos e os de idade madura;
dedicai-vos aos jovens e, sendo possível, até às crianças (…)
Conseguireis sem grande custo uma reputação de bons Católicos e de puros
patriotas.
Esta reputação dará acesso à nossa doutrina entre os jovens Clérigos, assim como entrará profundamente nos mosteiros. Em poucos
anos, pela força das coisas, este jovem Clero terá ascendido a todas as
funções; formará o conselho do Sumo Pontífice, será chamado a escolher o
novo Pontífice que há-de reinar. E este Pontífice, tal como a maioria
dos seus contemporâneos, estará necessariamente mais ou menos imbuído
dos princípios italianos e humanitários que vamos começar a pôr em
circulação. É um grãozinho de mostarda preta que vamos confiar à terra;
mas o sol da justiça desenvolvêlo-á ao mais alto poder, e vereis um dia
que rica colheita esta sementezinha produzirá.
No caminho que estamos a traçar para os nossos irmãos, há muitos
grandes obstáculos a conquistar, dificuldades de mais do que um gênero
para dominar. Eles triunfarão sobre aqueles pela experiência e pela
clarividência; mas o objetivo é de tal esplendor que é importante abrir
todas as velas ao vento para o alcançar. Se quereis revolucionar a
Itália, procurai o Papa cujo retrato acabamos de esboçar. Se quereis
estabelecer o reino dos escolhidos no trono da prostituta da Babilônia,
fazei com que o Clero marche sob a vossa bandeira, enquanto acredita que
está a marchar sob a bandeira das chaves apostólicas. Se quereis fazer
desaparecer o último vestígio dos tiranos e opressores, deitai as vossas
redes como Simão Bar-Jonas; deitai-as nas sacristias, nos seminários e
nos mosteiros em vez de as deitardes no fundo do mar; e, se não vos
apressardes, prometemo-vos uma pescaria mais miraculosa que a dele.
O pescador de peixes tornou-se pescador de homens; colocareis
amigos à volta da Cadeira apostólica. Tereis pregado uma revolução de
tiara e de capa, marchando com a cruz e o estandarte; uma revolução que
só precisará de ser um pouco instigada para incendiar os quatro cantos
do Mundo ”.[9]
Missa pelo dia do “Maçom”, em Agosto/2012, na Diocese de Pesqueira/PE.
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O excomungado Cônego Roca (sacerdote apóstata e ex canonista.²)
(1830-1893), pregou a revolução e a “reforma” da Igreja, e predisse, em
pormenores espantosamente precisos, a subversão da Igreja que seria
ocasionada por um Concílio.
Em Athanasius and the Church of Our Time, o Bispo Graber refere-se à
predição feita por Roca de uma “Igreja iluminada de novo”, que seria
influenciada pelo “socialismo de Jesus”.[11]
Em meados do século XIX, Roca predisse que «A nova igreja, que
talvez não consiga reter nada da Doutrina Escolástica e da forma
original da antiga Igreja, receberá, mesmo assim, a sua consagração e
jurisdição canônica de Roma». Surpreendentemente, Roca também predisse a “reforma” litúrgica do pós-Vaticano II: «
[O] culto divino, na forma dirigida pela liturgia, cerimonial, ritual e
regulamentos da Igreja Romana, sofrerá em breve uma transformação num
concílio ecumênico, que restaurará a venerável simplicidade da idade de
ouro dos Apóstolos, de acordo com as exigências da consciência e da
civilização moderna».
Roca vaticinou que, através desse concílio, surgiria «um acordo
perfeito entre os ideais da civilização moderna e o ideal de Cristo e do
Seu Evangelho. Isto será a consagração da Nova Ordem Social e o
baptismo solene da civilização moderna». Por outras palavras,
este concílio abriria caminho ao triunfo do plano maçônico para a
subversão da Igreja. Roca também se referiu ao futuro do Papado.
Escreveu o seguinte:
«Há um sacrifício iminente que representa um ato solene de
expiação (…) O Papado cairá; morrerá sob a faca santificada que os
Padres do último concílio fabricarão. O César papal é uma vítima coroada
para o sacrifício». Roca predisse entusiasticamente nada menos que uma
«nova religião, novo dogma, novo ritual, novo sacerdócio».
Chamou aos novos Padres “progressistas”, e referiu-se à “supressão” da sotaina e ao
“casamento dos Padres”.[12]
Notas:
Págs. 63-66
[1]. Para mais dados sobre a ligação
entre a Alta Vendita e a nova orientação da Igreja desde o Concílio,
leia-se o opúsculo de John Vennari, The Permanent Instruction of the
Alta Vendita (TAN Books and Publishers, Rockford, Illinois, 1999).
[2]. Cardeal Crétineau-Joly, The Roman
Church and Revolution, 2º vol., ed. original, 1859, reimpressa pelo
Círculo da Renascença Francesa, Paris, 1976; Monsenhor Delassus
apresentou de novo estes documentos no seu trabalho The Anti-Christian
Conspiracy (A Conspiração Anti-Cristã), DDB, 1910, Tom. III, pp. 1033.
Monsenhor Dillon, Grand Orient Freemasonry Unmasked, pp. 51-56, o texto
completo da Alta Vendita - Christian Book Club, Palmdale, Califórnia.
[4]. Michael Davies, Pope John's Council (Angelus Press, Kansas City, Missouri, 1992), p. 166.
[5]. The Catholic Encyclopedia, Vol. 3 (New York Encyclopedia Press, 1913), pp. 330-331.
[6]. Rev. E. Cahill, S.J., Freemasonry and the Anti-Christian Movement (Dublin, Gill, 1959), p. 101.
[6a]. Anotação acrescentada pelo Tradutor.
[7]. Bispo Rudolph Graber, Athanasius and the Church of Our Time (Christian Book Club, Palmdale, Califórnia, 1974), p. 39.
[8]. Papa Leão XIII, Humanum Genus, parágrafo 31.
[9]. Monsenhor Dillon, Grand Orient
Freemasonry Unmasked, pp. 51-56, o texto completo da Alta Vendita
(Christian Book Club, Palmdale, Califórnia). Este excerto da Permanent
Instruction of the Alta Vendita foi traduzido para Português a partir da
versão inglesa do mesmo passo.
Pág. 70
[18] Athanasius and the Church of Our Time, p. 34.
[19] O leitor encontrará uma relação
completa de todas as citações de Roca que aqui incluímos em Athanasius
and the Church of Our Time, pp. 31-40.
¹ acréscimo nosso.
² Piers Compton,The Broken Cross, Cranbrook, Western Australia: Veritas Pub. Co. Ptd Ltd, 1984, pág. 42.
Do Livro: The Devil's Final Battle (O Derradeiro Combate do Demônio) compilado e editado pelo Padre Paul Kramer.
Para citar: Por Católicos Romanos, “Há mais de 100 anos os Papas denunciaram o plano da Maçonaria”,
06 de Setembro de 2016, às 22h54.
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