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Por Fabrício Veliq
Até o ano de 381, o Cristianismo não havia elaborado um credo de maneira mais aprofundada sobre a pessoa do Espírito.
O Espírito é aquele que dá a vida, então ali onde ela é afirmada em todas as suas formas, ali se faz presente o Espírito de Deus. (Reprodução/ Pixabay) |
Ele é o Senhor e fonte de vida. Essa
frase, presente no credo cristão, fala a respeito do Espírito. O
Cristianismo, que seguiu ao longo de vários séculos tentando expressar a
sua fé, durante muito tempo, não abordou de forma consistente essa
pessoa da Trindade. A extrema preocupação em se tentar justificar a
salvação por meio de Cristo, explicar como se daria a relação entre
Jesus e Deus, como ele poderia ser homem e Deus ao mesmo tempo, dentre
outras, tomou grande parte dos esforços dos primeiros cristãos, sendo as
discussões a respeito do Espírito, muitas vezes, deixadas de lado.
Para
se ter uma ideia, até o ano de 381, o Cristianismo não havia elaborado
um credo de maneira mais aprofundada sobre a pessoa do Espírito. No
Credo de Niceia, em 325, a única menção a ele está na frase: “Creio em
Espírito Santo”. Em Constantinopla, em 381, naquele que ficou conhecido
como Credo Niceno-constantinopolitano, foi onde apareceu uma elaboração
mais precisa a respeito daquele que o Cristianismo entendia como o
Espírito Santo.
Após um novo período de esquecimento do Espírito
que se deu, principalmente, ao longo da Idade Moderna, em tempos atuais,
a questão do Espírito voltou, principalmente, influenciada pelos
movimentos de avivamentos motivados pela Reforma Protestante e, mais
recentemente, em termos históricos, com os movimentos pentecostais que
nasceram em solo americano. Com o envio de diversos missionários para
diversos países, dentre eles todos da América Latina, esse movimento se
tornou grande, sendo hoje um dos maiores movimentos evangélicos
existentes.
Do lado católico, desde a década de 50 se vê crescendo
o movimento carismático, grande responsável por reacender a questão do
Espírito nesse meio e, atualmente, em solo brasileiro, seguindo numa
linha muito semelhante aos diversos movimentos pentecostais evangélicos,
de maneira que diferenciar uma celebração carismática de um culto
pentecostal, muitas vezes, torna-se possível somente no momento
eucarístico ou devido a algumas vestimentas que alguns padres ainda usam
para se identificarem como tal.
No entanto, faz-se interessante
perceber que mesmo que haja um reacender para a pessoa do Espírito, uma
de suas características principais, que é a de ser o gerador da vida,
bem como as consequências que essa afirmação traz, se mostram, muitas
vezes, esquecidas. É comum que esses movimentos pentecostais e
carismáticos adotem uma postura fechada em relação a tudo aquilo que vai
contra certa catequese pré-estabelecida, crendo que com isso estão
sendo fieis com a mensagem cristã. Ao fazer isso, porém, desconsidera-se
toda a possibilidade que o Espírito, por ser gerador de vida, é capaz
de realizar em solos que, muitas vezes não se dão nada por eles.
Todo/a
aquele/a que já teve a experiência de plantar um feijão no algodão para
observar como ele cresce lembrar-se-á de que cada semente crescia de
uma forma diferente e de que a marca do algodão que era comprada não
interferia no crescimento da plantinha. Esse se dava de maneira natural,
gerando algo que lhe é próprio e o indicativo de que o processo estava
certo era que ali estava a geração de uma nova vida. Tome esses diversos
tipos de algodão como diversas religiões, por exemplo, e será possível
perceber a imensa possibilidade que se abre para o diálogo
inter-religioso a partir da perspectiva pneumatológica.
Diversos
movimentos dentro de Cristianismo, ao longo da história, tentaram e
ainda tentam colocar a ação do Espírito dentro de uma caixa, afirmando
que ele só pode agir de determinada forma, estando preso a um credo ou a
uma determinada doutrina, sem a qual ele não saberia como se portar. No
entanto, o Espírito, como entendido pelo Cristianismo, é aquele que,
como vento, sopra onde quer e da forma como quer, não estando preso a
nada e a ninguém. Antes, soprando, dá aquilo que lhe é próprio, i.e, a
própria vida.
Dessa forma, se o Espírito é aquele que dá a vida,
então ali onde ela é afirmada em todas as suas formas, ali se faz
presente o Espírito de Deus, o que tem como consequência que, tudo
aquilo que gera morte não pode vir desse mesmo Espírito.
Diante
disso, os diversos movimentos que se dizem cristãos e pregam a morte das
minorias, daqueles que não pertencem ao seu credo religioso, dos
flagelados, dos que não possuem terra e dos marginalizados pela
sociedade não podem estar sob a ação desse Espírito que, como afirma o
credo cristão, é aquele que dá a vida. Compreender de maneira cristã
essa característica do Espírito se mostra, então, fundamental para uma
atitude cristã na sociedade atual e diversa na qual vivemos.
*Fabrício Veliq é teólogo. Doutor em teologia pela Faculdade
Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE) e Doctor of Theology pela Katholieke
Universiteit Leuven (KU Leuven) - Bélgica, formado em matemática e
graduando em filosofia pela UFMG. Membro do grupo de pesquisa
Fundamental and Political Theology em KU Leuven e dos Grupos de Pesquisa
Estudos de Cristologia e Diversidade afetivo-sexual e Teologia da
FAJE. Ministra cursos de teologia no cursos de Teologia para Leigos do
Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana, no Centro de Formação
e Cultura em Divinópolis e é também professor voluntário no CITEP na
Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte. É protestante e ama falar sobre
teologia em suas diversas conversas por aí, tanto presenciais, como
online. Seu blog, caso queiram conhecer mais de seus textos, é
www.fveliq.blogspot.com. Seu e-mail, caso queiram entrar em contato, é
fveliq@gmail.com
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