Por Padre David Francisquini
O artigo Católicos LGBT organizam movimento para reivindicar mais espaço na Igreja, de Anna Virginia Balloussier (folha.uol, 23-7-18), traz declarações de uma ativista homossexual que de tal maneira deixou cair a máscara, que produziu o efeito da pedrinha de sal ao cristalizar todo o líquido de um copo.
A árvore boa dá bons frutos, e a árvore
má dá maus frutos, pelos frutos conhecereis os homens, ensina o divino
Salvador (Mt 7, 20).
Toda a árvore que não der bom fruto será lançada ao
fogo. Portanto, as pessoas que não produzem bons frutos querem
transformar o ambiente católico numa atmosfera concessiva ao pecado que
clama a Deus por vingança.
Aprendi nas aulas de
Catecismo que a Igreja Católica — sociedade visível fundada por Nosso
Senhor Jesus Cristo — tem seus mandamentos, sua doutrina, suas leis,
suas regras, seus cânones. Todo esse conjunto fundamentado na Sagrada
Escritura e na Tradição constitui um bloco do qual não se pode aceitar
apenas uma parte.
Mais ainda, pelos estudos feitos no
Seminário, aprendi também que os princípios da Religião católica são
inegociáveis. Assim, entre o ensinamento da Igreja e o homossexualismo,
por exemplo, não existe aproximação possível; são irreconciliáveis como a
luz e as trevas, a verdade e o erro, a virtude e o vício; há entre eles
uma incompatibilidade total, pois são excludentes.
Se a Igreja abrisse mão deste ponto, deixaria de ser a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois está no livro do Gênesis: “Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade
dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar”(Gen. 3, 15). E essa inimizade é eterna.
Vejamos as palavras da ativista homossexual que se insurge contra a autoridade eclesiástica: “Questionamos
muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa, como se
tivéssemos de aguardar algum tipo de autorização vinda do alto da
Hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já somos”. Seria bom se essa ativista que diz “ser Igreja” soubesse
que, conforme afirma São Paulo na segunda epístola a Timóteo,
autoridade alguma na face da Terra pode mudar a doutrina de Cristo.
O Apóstolo ainda aconselha: “Prega a
palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica,
admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque, virá tempo em que os
homens não suportarão a sã doutrina, e contratarão para si mestres
conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir, e afastarão
os ouvidos da verdade para os abrir às fábulas” (Tim. 4,1-8).
Afirmar ser igreja revela uma total deformação do conceito de Igreja. São Pio X [foto acima]
ensina que a Igreja é uma sociedade visível composta de eclesiásticos e
de leigos. Os primeiros pertencem à Igreja docente, ou seja, têm o
poder de ensinar, governar e santificar; os leigos são da Igreja
discente, isto é, devem ser ensinados, governados e santificados pelos
seus pastores. Para ser cristão é indispensável ser batizado, crer e
professar a doutrina e a lei ensinadas por Jesus Cristo e contida no
magistério da Igreja.
O ensinamento de Nosso Senhor na
parábola do Bom Pastor e do filho pródigo que volta à casa paterna
ressalta o Seu amor para com as almas afastadas da graça e da amizade
divina. Ele faz de tudo para que elas voltem ao redil, pois há mais
júbilo no Céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e
nove justos que não precisam dela.
Há mais alegria no Céu por um só pecador
que se emenda e faz penitência, do que por noventa e nove justos que
não precisam arrepender-se (Lc 15,7). A pior tragédia de uma alma é
quando ela quer justificar sua má conduta impondo-a aos demais. Ao
reivindicar cidadania para o erro, o seu coração endurece, dificultando a
sua conversão.
Toda sociedade civilizada tem suas leis,
seus princípios, seus códigos. Seus membros devem aderir a esse
conjunto normativo, pois são afins com ele e existem para o bem comum.
Assim, a Igreja como sociedade visível de caráter espiritual não pode
transigir em relação aos ensinamentos do seu Fundador, o Filho de Deus
encarnado.
O próprio Nosso Senhor nos alerta sobre
os falsos profetas que vêm a nós com pele de ovelhas e por dentro são
lobos vorazes. Porventura se colhem uvas de espinhos ou figos de cardos?
São Paulo Apóstolo, na epístola aos Romanos, afirma que quando somos
livres do pecado e feitos servos de Deus, temos por fruto a santidade e
por fim a vida eterna.
A mencionada ativista homossexual, pelo
contrário, se considera acima dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus
Cristo e da Igreja a ponto de querer impor condições à autoridade
eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa”… É
bom lembrá-la da lição divina de que nem todo aquele que diz “Senhor,
Senhor” entrará no reino do Céu, mas quem faz a vontade de meu Pai que
está no Céu, e a vontade de Deus está contida nos Mandamentos.
A ativista vai mais longe. Para ela, “essa
linguagem progressista do papa não é precisa, ‘não faz sentido’ a
Igreja excluir e ferir. ‘Cristo andava com os piores pecadores, os
maiores párias da sociedade”. Os apóstolos e discípulos seriam
pecadores péssimos, párias da sociedade? Da mesma forma que Lázaro, José
de Arimateia e Nicodemos, que comprou 100 libras de mirra e aloés para
os funerais do Homem-Deus? (Jo 19-33).
Qual o conselho do Divino Mestre à mulher adúltera, senão “vai e não peques mais”? [representação ao lado] Se nas palavras de uma ativista homossexual não faz sentido a Igreja excluir e ferir,então
o Papa Leão X deveria ter “incluído” os erros de Lutero no Magistério
da Igreja? A Igreja deveria ter aceitado o divórcio e “incluído”
Henrique VIII e todo o anglicanismo como enriquecimento do magistério?
São Pio X deveria ter aprovado e “incluído” os erros modernistas, em vez
de condená-los?
A Igreja deveria acatar e “incluir” Frei
Boff e os “teólogos” da Teologia da Libertação em seu seio? Talvez essa
ativista inclua na sua agenda a reabilitação de Lúcifer e sua
“inclusão” no reino celeste, um verdadeiro absurdo, mas é a conclusão
que se pode tirar de seu ‘princípio inclusivo’. Na verdade, ela nega o
princípio metafísico da contradição, a incompatibilidade do vício com a
virtude.
Convém lembrar o que diz São Pio X no Catecismo Maior: “A
sodomia está classificada em gravidade logo depois do homicídio
voluntário, entre os pecados que clamam a Deus por vingança. Desses
pecados se diz que clamam a Deus por vingança, porque o Espírito Santo
assim o diz, e porque a sua iniquidade é tão grave e evidente, que
provoca a punição de Deus com os castigos mais severos.”
Por sua vez, São Pedro Damião afirma: “Este
vício não pode jamais ser comparado a nenhum outro, pois ultrapassa a
enormidade de todos os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui
tudo. Por sua própria natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada
que não seja imundície. A carne miserável arde com o calor da luxúria; a
mente fria treme com o rancor da suspeita; no coração do homem
miserável o caos ferve como o inferno.”
E prossegue: “Depois que essa
serpente venenosa introduz suas presas na infeliz alma, o senso é
retirado, a memória se desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele
não se lembra mais de Deus, até se esquece de si mesmo. Essa praga
solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força da esperança, destrói o
laço da caridade; afasta a justiça subverte a fortaleza, expulsa a
temperança, entorpece a perspicácia da prudência” (Homem e Mulher Deus os Criou, Artpress, S. Paulo, 2011, p. 26).
Protestemos contra essa rebeldia, que é
também uma ingerência e um insulto à Santa Igreja de Deus. Aconselharia a
tal ativista que lesse meu livro Homem e Mulher Deus os Criou — As relações homossexuais à luz da doutrina católica, da Lei natural e da ciência médica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário