Por Felipe Magalhães Francisco*
Diante da Ausência de Deus, o ser humano é espera, sede.
Muitas vezes é difícil perceber a presença de Deus. (Reprodução/ Pixabay) |
Provavelmente você conhece a famosa história Pegadas na areia.
Recordo de minha infância quando via, em muitas casas, o quadro com o
texto e as marcas de apenas um par de pegadas na areia da praia. A
conclusão da reflexão é simples: no momento da dificuldade, quando a
pessoa do texto se sentia só, o Senhor a carregava nos braços. É
bastante comum que, quem tem fé, pelo menos uma vez já tenha consolado
alguém em uma situação delicada, dizendo que Deus estava com ela. Muitas
vezes, porém, é difícil perceber essa presença.
Um dos nomes de Deus é Emanuel, Deus-conosco. Ausente é outro nome. Esse é mais comum para quem conhece as noites escuras da alma. Hilda Hilst, poeta-mística, chamou-o Sem-Rosto. Muitas vezes Deus é irreconhecível. Parece estranho, para os cristãos e cristãs, tal percepção. Afinal, o Deus cultuado por esses mostrou-se num rosto, numa carne: Jesus. Mas a carne não esgota o mistério divino e, muitas vezes, dele só vemos as costas. O que foi dito a Moisés, “tu me verás pelas costas” (Ex 33,23), também vale para nós. A carne não esgota o mistério divino, repito. Talvez por isso poetas e místicos deparam-se com o Silêncio do Deus Ausente: a Beleza espanta!
Diante da Ausência de Deus, o ser humano é espera, sede. Desejosa do infinito, a alma anseia pelo encontro dos encontros. O paradoxo espiritual é que o sentimento de perda de Deus é também relação: o Ausente, Sem-Rosto, é experimentado no silêncio. O vazio é, de alguma forma, resposta. Resposta que se apresenta como convite de busca incessante. A busca e a espera são, nesse sentido, caminhos espirituais, porque nos aportam à possibilidade de sermos mais. Somos radicalmente abertos à transcendência que nos escapa. E, justamente por ela nos escapar, é que torna possível nos fazer crescer espiritualmente.
Perder Deus não significa perder a fé. A fé também se depara com o vazio: afinal, é lançar-se num abismo. A fé é o lançar-se, e não a certeza de que seremos amparados. A vida também se faz de desconsolos e ausências. E é justamente nesses momentos em que a fé se purifica e amadurece. Diante do Ausente, a disposição para sermos, nós, uma presença disponível. Buscar a Deus, que muitas vezes está Ausente, é seguir o desejo mais profundo que ecoa em nós. Muitas vezes, é Ausente justamente por não termos tido oportunidade de experimentar seu rosto de carne. Mas ele continua sendo Aquele que É.
Como convite à meditação-oração-busca, deixo um poema, de Sophia de Mello Breyner Andressen:
Um dos nomes de Deus é Emanuel, Deus-conosco. Ausente é outro nome. Esse é mais comum para quem conhece as noites escuras da alma. Hilda Hilst, poeta-mística, chamou-o Sem-Rosto. Muitas vezes Deus é irreconhecível. Parece estranho, para os cristãos e cristãs, tal percepção. Afinal, o Deus cultuado por esses mostrou-se num rosto, numa carne: Jesus. Mas a carne não esgota o mistério divino e, muitas vezes, dele só vemos as costas. O que foi dito a Moisés, “tu me verás pelas costas” (Ex 33,23), também vale para nós. A carne não esgota o mistério divino, repito. Talvez por isso poetas e místicos deparam-se com o Silêncio do Deus Ausente: a Beleza espanta!
Diante da Ausência de Deus, o ser humano é espera, sede. Desejosa do infinito, a alma anseia pelo encontro dos encontros. O paradoxo espiritual é que o sentimento de perda de Deus é também relação: o Ausente, Sem-Rosto, é experimentado no silêncio. O vazio é, de alguma forma, resposta. Resposta que se apresenta como convite de busca incessante. A busca e a espera são, nesse sentido, caminhos espirituais, porque nos aportam à possibilidade de sermos mais. Somos radicalmente abertos à transcendência que nos escapa. E, justamente por ela nos escapar, é que torna possível nos fazer crescer espiritualmente.
Perder Deus não significa perder a fé. A fé também se depara com o vazio: afinal, é lançar-se num abismo. A fé é o lançar-se, e não a certeza de que seremos amparados. A vida também se faz de desconsolos e ausências. E é justamente nesses momentos em que a fé se purifica e amadurece. Diante do Ausente, a disposição para sermos, nós, uma presença disponível. Buscar a Deus, que muitas vezes está Ausente, é seguir o desejo mais profundo que ecoa em nós. Muitas vezes, é Ausente justamente por não termos tido oportunidade de experimentar seu rosto de carne. Mas ele continua sendo Aquele que É.
Como convite à meditação-oração-busca, deixo um poema, de Sophia de Mello Breyner Andressen:
Eis-meTendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua faceMas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncioEscura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente.
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de
Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux,
2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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