Pode-se falar de modo muito mais forte com os atos do que com as palavras. Ao
soar das 12 horas dessa quinta-feira, 13, ou seja, na hora exata em que
estava agendado o encontro entre o papa e a cúpula da Conferência dos
Bispos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) – que tinha pedido uma audiência urgente no Vaticano após as acusações do ex-núncio Viganò sobre os supostos acobertamentos vaticanos e do próprio Francisco em relação ao agora ex-cardeal McCarrick –, um sinal muito preciso veio da Sala de Imprensa da Santa Sé.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada em L’HuffingtonPost.it, 13-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto a delegação da USCCB, liderada pelo cardeal Daniel DiNardo, estava sentada à mesa do Papa Francisco no Palácio Apostólico, foi anunciado que Francisco autorizou uma investigação sobre as acusações de assédio sexual contra um bispo estadunidense da Virgínia Ocidental (Diocese de Wheeling-Charleston), Michael Bransfield, do qual foi aceita a renúncia por idade, poucos dias após cumprir os 75 anos previstos para a retirada.
Bransfield não é um bispo qualquer, e a sua história
não é uma história qualquer.
Por pelo menos cinco motivos que dizem
respeito não apenas aos eventos da Igreja estadunidense, mas ao próprio Vaticano.
Primeiro, a investigação ordenada pelo papa se segue
ao arquivamento de duas acusações anteriores (2007 e 2012), e, entre os
quatro altos prelados estadunidenses recebidos nessa quinta-feira pelo papa, também estava sentado o primo do prelado, Pe. Brian Bransfield, que detém o cargo de secretário geral da USCCB e é, portanto, o número dois da organização dos bispos estadunidenses.
Segundo, as acusações no seu caso dizem respeito a assédios sexuais contra adultos. Portanto, não se trata de um crime de pedofilia (contra menores), mas de abusos de poder e sexuais contra maiores de idade, cuja raiz, disse o papa em uma reunião de bispos, se origina de verdadeiros “abismos espirituais".
Terceiro, o prelado estava em estreito contato com o agora ex-cardeal McCarrick (cujo caso está na origem das acusações de Carlo Maria Viganò), que foi um dos seus consagradores.
Quarto, Bransfiel era o presidente da Papal Foundation (uma grande organização de angariação de fundos para o papa e o Vaticano, cofundada pelo ex-cardeal McCarrick),
quando, no ano passado, uma revolta dos doadores leigos impediu que
fosse transferida para o Vaticano a soma de 25 milhões de dólares que o
papa havia pedido para reerguer o Instituto Dermopático da Imaculada (IDI).
Ao longo das décadas, a Papal Foundation entregou centenas de milhões de dólares para a Santa Sé.
O que aumentou ainda mais a tensão do dia foi o fato de que o cardeal Daniel DiNardo, arcebispo de Galveston-Houston e presidente da USCCB,
foi acusado por algumas vítimas de não ter agido corretamente, deixando
um padre suspeito de abuso em contato com crianças. Um caso, porém, que
ainda não foi esclarecido, e, portanto, por enquanto, não se pode
atribuir a responsabilidade ao purpurado.
Em todo o caso, a notícia repercutiu nos Estados Unidos justamente às vésperas da audiência com o Papa Francisco, da qual também participaram o vice-presidente do episcopado e arcebispo de Los Angeles, José Horacio Gómez, e o cardeal de Boston, Sean O’Malley, na qualidade de presidente da Comissão para a Proteção dos Menores, do Vaticano.
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