Por Miguel Pastorino / Matthew Green
A humildade é uma virtude incompreendida e não deve ser confundida com baixa auto-estima
A humildade é vista por muitos como uma virtude de valor questionável, porque muitas vezes é mal interpretada como humilhação.
A humildade incompreendida pode ser absolutamente perigosa
quando entendida de uma maneira contrária ao seu significado original
na espiritualidade bíblica e na tradição judaico-cristã.
As pessoas com baixa autoestima geralmente interpretam a
humildade como uma forma de agressão e desdém para consigo mesmo. Pode
até ser uma forma de hipocrisia, ou uma desculpa para a preguiça, quando
nos subestimamos intencionalmente. Evitamos a dificuldade de alcançar
nosso potencial total, negando que somos capazes disso.
Que a humildade não é
A humildade não deve ser confundida com baixa autoestima,
timidez, sentimentos de inferioridade ou autodegradação. Embora ser
humilde exija reconhecer nossas próprias dificuldades, limitações e
limites, isso não significa fazer uma demonstração deles.
Humildade significa viver na verdade, aceitando que não somos perfeitos. A humildade não tem a ver com nos colocarmos para baixo, mas com realismo.
Muitas pessoas pensam que são humildes, quando, na
realidade, estão constantemente reclamando e falando sobre quão
desafortunadas são, concentrando-se inteiramente em si mesmas, o que é
uma forma oculta de orgulho.
A verdadeira humildade não significa olhar constantemente
para a nossa própria pequenez e comparar-nos aos outros. Fazer essas
comparações significa constantemente nos voltarmos para nós mesmos e
apenas ver os outros como uma ameaça.
Pessoas humildes não precisam sentir que são melhores que
as outras. Ao mesmo tempo, nem sempre cedem ao que os outros querem, nem
se deixam oprimir; elas simplesmente têm uma perspectiva ampla e
profunda da realidade, na qual elas veem seu próprio lugar sem ter que
debater quem está melhor ou pior.
A humildade não é uma virtude a ser conquistada para
alcançar a autoperfeição, o que na verdade leva ao orgulho; em vez
disso, trata-se de reconhecer a verdade sobre você e estar em paz com ela.
A frase comum “em minha humilde opinião” não é nada além
de orgulho disfarçado. Quando a humildade se torna explícita, não é mais
humildade.
Quando alguém diz: “Eu sou apenas uma pessoa humilde”, ele
não está sendo humilde. A humildade não se anuncia; é praticada em
silêncio.
Se alguém é humilde, outras pessoas podem dizer, mas
ninguém pode se rotular como “uma pessoa humilde”. É por isso que as
pessoas humildes geralmente não se destacam; elas não buscam publicidade
– especialmente para não se promoverem como “humildes”.
Humildade é autenticidade
A psicologia contemporânea usa o termo “autenticidade”
mais que a humildade. Significa viver a verdade sobre si mesmo, ser
honesto consigo mesmo e com os outros.
A humildade é um sinal de maturidade psicológica e
espiritual e de liberdade interior. Em vez de uma série de
comportamentos que devemos adotar, a humildade é um modo de ser e de se
relacionar com os outros. É caracterizada pela maneira como uma pessoa
se aceita e se valoriza.
Na tradição cristã, a humildade é centralizar nossas vidas
em Deus e não em nós mesmos. Significa aceitar que não somos o centro
do universo e que o mundo não gira em torno de nós.
A humildade era entendida pelos antigos mestres da
espiritualidade cristã como um valoroso autoconhecimento que nos torna
mais humanos e mais conscientes de nossa própria pequenez e limitações,
sem pretender ser algo que não somos. De fato, Santo Agostinho diz que
“toda humildade consiste em conhecer a si mesmo”.
No entanto, humildade não é resignação. São João
Crisóstomo descreveu a humildade como “a mãe de todas as virtudes”, como
fundamento e raiz, porque só podemos forjar a virtude se primeiro
reconhecermos e aceitarmos em que áreas somos fracos e precisamos
crescer.
As pessoas humildes querem melhorar a si mesmas e podem
fazer isso porque não mentem para si mesmas ou para os outros; elas
vivem na verdade. Elas não são orgulhosas, porque reconhecem seus
defeitos de boa vontade; elas não são pessimistas, porque acreditam que
podem mudar em resposta ao chamado de Deus à santidade e com a ajuda de
Sua graça. Não ter medo de ver e reconhecer nossos erros nos torna
capazes de crescer e amadurecer.
Ao mesmo tempo, pessoas verdadeiramente humildes se
regozijam no bem de outras pessoas e na grandeza que as cerca. Elas
estão completamente livres de complexos de inferioridade e da
necessidade de se comparar com os outros. Pessoas humildes são livres;
elas não têm uma necessidade urgente de elogios, reconhecimento ou
aplausos por suas virtudes, porque sabem quem são e que valem a pena.
A verdadeira humildade, portanto, é uma fonte de
confiança, coragem e liberdade. Pessoas humildes não vão implorar por
reconhecimento e não desanimam quando não entendem, porque a felicidade
delas não depende da opinião de outras pessoas. Em contraste, as pessoas
orgulhosas são muito sensíveis às críticas e são facilmente feridas e
desencorajadas. Chesterton considerava o humor como o fundamento natural
da humildade, porque aqueles que podem rir de si mesmos estão livres de
todo orgulho.
Pessoas humildes têm um bom efeito sobre as pessoas ao seu redor
Ser verdadeiramente humilde e viver autenticamente faz com
que outras pessoas se sintam confortáveis. Elas sabem que não precisam
andar em cascas de ovos porque as pessoas humildes nem sempre são
defensivas ou tentam se impor aos outros.
Pessoas humildes sabem reconhecer quando estão erradas,
pedir perdão, procurar ajuda e reconhecer publicamente seus próprios
erros. Elas são fáceis de lidar porque não sentem a necessidade de impor
sua opinião ou estarem certas o tempo todo. Elas não têm medo de
críticas, porque não precisam proteger uma imagem falsa de si mesmas.
Pessoas humildes são gratas, capazes de reconhecer a generosidade de
outras pessoas, e são empáticas, sabendo como ser compassivas com as
deficiências de outras pessoas.
Em suma, longe de nos tornar pessoas negativas e
improdutivas que se denigrem e nunca percebem o seu potencial, a
verdadeira humildade nos torna mais humanos, livres, maduros,
compassivos e gratos.
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