Por Prof. Felipe Aquino
Jamais o mundo viu ou verá um acontecimento como este: o Filho de Deus humanado é crucificado e agoniza durante três horas numa cruz. Três longas horas de dores indizíveis, sofrimentos inenarráveis na pior forma de suplício que o império romano impunha a seus opositores, bandidos, malfeitores…
Foi o drama de um Deus crucificado por
amor ao homem, criatura moldada à sua “imagem e semelhança” (Gen 1,26).
“Deus amou a tal ponto o mundo que deu o Seu Filho único para que todo o
que Nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,16). “Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos
seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados” (1Jo 4,10). “Deus
demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós
quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8).
Um mistério insondável de amor e de dor
que projeta luz sobre o quanto cada um de nós é importante para Deus.
Cristo não mediu esforços para resgatar cada um de nós para Deus… foi
até as últimas consequências. São João expressou isto como ninguém:
“tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 15,1).
No seio da Trindade o Verbo se ofereceu
para realizar o sacrifício de nossa salvação. A Carta aos hebreus
explica: “Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste
sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e
sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então eu disse: Eis que venho
(porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para
fazer a tua vontade (Sl 39,7ss)… Eis que venho para fazer a tua
vontade. Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido
santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo”
(Hb 10,5-10).
A dívida dos pecados dos homens, sendo,
de certo modo infinita, exigia um sofrimento redentor também infinito
para reparar a ofensa contra a Majestade infinita de Deus. Então, o
sofrimento de Deus feito homem, infinito, triunfou do pecado. O resgate
de cada um de nós foi pago. Pelo sofrimento de Jesus, Homem e Deus, a
humanidade honrou a Deus incomparavelmente mais do que o ofendera e
poderá ainda ofender. O homem, resgatado agora pelo Filho do Homem, pode
voltar para os braços de Deus. A justiça divina foi satisfeita.
O projeto salvador de Deus realizou-se
“uma vez por todas” (Hb 9,26) pela morte redentora de seu Filho, Jesus
Cristo. “Não era preciso que Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua
glória?” (Lc 24,26), Jesus pergunta aos discípulos de Emaús.
A Igreja nunca esqueceu que “foram os
pecadores como tais os autores de todos os sofrimentos de Cristo, pois
são os nossos pecados que atingem o próprio Cristo. São culpados desta
falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Diz a cara aos
hebreus que os que mergulham nas desordens e no mal “de sua parte
crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem as injúrias” (Hb 6,6). São
Francisco de Assis disse que: “Os demônios, então, não foram eles que o
crucificaram; és tu que com eles o crucificaste e continuas a
crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e nos pecados”.
O Catecismo da Igreja ensina que “A
morte violenta de Jesus não foi o resultado do acaso um conjunto infeliz
de circunstâncias. Ela faz parte do mistério do projeto de Deus, como
explica São Pedro aos judeus de Jerusalém já em seu primeiro discurso de
Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a
presciência de Deus” (At 2,23). Mas esta linguagem bíblica não significa
que os que “entregaram Jesus” tenham sido apenas executores passivos de
um roteiro escrito de antemão por Deus” (n.599).
Deus estabeleceu seu projeto eterno de
salvação incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça. Deus
permitiu os atos violentos dos inimigos de Cristo a fim de realizar seu
projeto de salvação.
“Cristo morreu por nossos pecados
segundo as Escrituras” (1 Cor 15,3). A morte redentora de Jesus cumpre a
profecia do Servo Sofredor: “Em verdade, ele tomou sobre si nossas
enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos… ele foi castigado por
nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos
salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas… Foi
maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se
conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. Ele não
abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em
defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo
pecado de meu povo?” (Is 53,4-8).
São Pedro explicou bem: “Fostes
resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue
precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula,
conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos
tempos, por causa de vós” (1Pd 1,18-20).
Os pecados dos homens, depois do pecado
original, são punidos pela morte (Rm 5, 12; 1 Cor 15,56). “Aquele que
não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de
que, por ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21).
Tendo-o tornado solidário de nós,
pecadores, “Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos
nós” (Rm 8,32), a fim de que fôssemos “reconciliados com Ele pela morte
de seu Filho” (Rm 5,10).
Jesus tinha plena convicção desta missão
que assumiu. “Pai, salva-me desta hora. Mas foi precisamente para esta
hora que eu vim” (Jo 12,27). “Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me
deu?” (Jo 18,11). Ele é o “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do
mundo” (Jo 1,29). “Como pela desobediência de um só homem todos se
tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão
justos” (Rm 5,19).
Jesus é o novo Adão, que por sua
obediência, humildade e imolação de si mesmo, cancelou o documento de
dívida que o demônio tinha contra nós. “É Ele que nos perdoou todos os
pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições
nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz. Espolio
os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles
pela cruz” (Cl 2,14-15). É do lenho da cruz que pendeu a salvação do
mundo!
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