Torna-se cada vez mais alto o grito das mulheres que pedem mais posições diretivas na Igreja. Como uma religiosa reage a essa situação? Irmã Ruth Schönberger, Prioresa das Beneditinas das Missões de Tutzing, Alemanha, tem opiniões muito claras: o que faz a diferença na escolha das pessoas deve ser a preparação, não o sexo - inclusive para a ordenação. Teólogas que rezam pela equiparação dos direitos de mulheres na Igreja,
católicas que convidam para uma greve na Igreja: as mulheres exigem de
forma cada vez mais consciente o seu espaço na Igreja católica. As
exigências não excluem nem mesmo a ordenação feminina. A irmã Ruth
Schönberger é diretora do Priorado de Tutzing das Beneditinas das Missões
e é responsável por uma comunidade de 70 mulheres. Na entrevista,
relata como a discussão atual tem repercussões na vida do convento e que
mudanças deseja para a Igreja - em particular com referência ao papel
das mulheres.
A entrevista é de Matthias Altmannin, publicada por Katholisch.de, 07-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Irmã Ruth, sua comunidade também apoia através do Facebook a iniciativa de oração das católicas suíças pela paridade das mulheres na Igreja. Mas pode ter algum resultado rezar por isso?
Certamente não é o suficiente rezar, mas por que não deveríamos rezar
por isso? Vamos pensar, por exemplo, em quantas pessoas rezaram antes
da queda do muro de Berlim. Para mim é muito
importante, para todas as discussões estruturais, levarmos juntas os
nossos pedidos diante de Deus. Em todos esses problemas, refletir para
entender do que realmente se trata, abre o horizonte. Nisso, a oração me
ajuda.
O que mais poderia ajudar nesse assunto?
Eu simplesmente não consigo entender por que as mulheres e os homens não possam se reconhecer como iguais. Acho assustador que essa diferença de poder esteja espalhada por todo o mundo - e que não aprendemos a melhorar as coisas. Na Alemanha,
por exemplo, temos o direito de voto para as mulheres há apenas 100
anos - um período relativamente curto de tempo. Eu acho que devemos nos
empenhar muito. Quando se trata de poder, na minha opinião, é sempre
útil enfrentar as situações e não engolir o sapo. No final, não devemos
ter medo uns dos outros, e, aliás, não devemos desistir, mas tentar dar
um passo à frente, e que a nós mulheres não seja apenas prospectado algo
para o futuro, como o diaconato para as mulheres.
A senhora acredita que também na Igreja exista uma situação tão injusta de poder?
Sim, é real, sem dúvida.
Fala a respeito disso com suas coirmãs?
Neste momento falamos muito sobre isso, tanto do problema dos abusos, quanto do problema das mulheres na Igreja.
Em breve teremos um capítulo de priorado em que certamente falaremos
sobre isso. A questão é: de onde se começa, onde se podem encontrar
pontos em que se apoiar para fazer algo? Claro que não é assim tão
fácil. Dia após dia vivemos situações concretas de dependência. Um
exemplo: se quisermos celebrar a Eucaristia como comunidade feminina,
precisamos sempre nos organizar para que um homem venha até nós, e isso
todos os dias. Ele fica no altar e preside - não nós. No capítulo,
procuraremos formas adequadas para nós para o futuro e também como
podemos começar e desenvolver coisas novas.
A senhora dirige uma comunidade de 70 mulheres em Tutzing e também é responsável por outros dois conventos. É muito difícil?
Dirigir de forma beneditina significa, por um lado, ter um olhar
sobre toda a comunidade e, pelo outro, conhecer cada pessoa
individualmente e garantir que ela desenvolva o que é fundamental nela. São Bento tem
uma abordagem muito individual. Evidentemente que isso é realmente um
desafio, e só podemos tentar implementar essa abordagem, com muito
esforço. De qualquer forma, eu não oriento as comunidades sozinha, mas
junto com muitas coirmãs. Nos últimos anos, construímos uma boa cultura
de diálogo, passo a passo. Nós discutimos muitos tópicos juntas. As
irmãs naturalmente se empenham muito. Considero muito valioso o fato que
não tenhamos mais um sistema rígido e hierárquico. No entanto, é claro
que em algum momento alguém tem que decidir as coisas.
Essa abordagem de Bento de Núrcia se aplica a toda a Igreja?
Acho que Bento tenha uma abordagem maravilhosa para a
Igreja, com a escuta recíproca e com a atenção ao indivíduo. Isso
pressupõe que cada um pode e deve se empenhar. Uma comunidade é algo
pelo qual devo me empenhar. Acredito que na Igreja possamos avançar se
todos nos comprometermos, cada um com as próprias diferentes facetas.
Organizamos um capítulo geral justamente sobre o tema: "Somos diversos e, ainda assim, um".
A Igreja nos séculos passados se concentrou demais na unidade e deu
muito pouco valor à diversidade. Daí vieram muitas regras que tendiam a
nivelar. Acredito que nossa Igreja é um pouco legalista demais e muito
ligada a leis e prescrições. Assim, não posso viver Jesus; ele lutou
contra essa abordagem.
A senhora acabou de abordar o tema "diversidade". Certamente há diversidade também entre vocês no convento, ou não?
Claro. Cada pessoa tem sua própria cultura e é "moldada" de maneira
diferente. Nós somos certamente todas católicas no convento, mas se eu
olhasse dentro do coração de cada uma, provavelmente ficaria surpresa
com a gama de diferenças que poderia ver. Mas isso também é, repito,
algo fantástico: que cada um possa ser diferente e pensar de maneira
diferente. No entanto eu também tenho que aprender não apenas a manter
isso, mas também a valorizá-lo. Em certo sentido, é uma pergunta que eu
faço a mim mesma: estou caminhando em direção ao novo ou buscando
segurança?
Com que problemas se depara na vida cotidiana da congregação?
Os problemas dizem respeito a todo o espectro da vida. Acho que é
muito bom quando se consegue enfrentar os problemas em colaboração, sem
escondê-los debaixo do tapete. Ousar enfrentá-los é geralmente de grande
ajuda. Mas esse problema surge em todo tipo de relação na vida. Para
nós, na congregação, a situação é diferente, no sentido de que
compartilhamos muitos momentos da vida: momentos de oração, de
refeições, de tempo livre, muitas vezes também de trabalho. E,
naturalmente, isso é muito mais desafiador comparado com uma situação em
que posso trabalhar com outras pessoas. Mas também pode ser bom, porque
conhecemos muitos lados diferentes de cada uma. A vida comunitária também consiste nisso.
Atualmente discute-se muito sobre o papel das mulheres na Igreja, especialmente com referência ao acesso à ordenação. Qual é a sua posição como religiosa sobre esse tema?
Para mim, seria totalmente óbvio que uma mulher também pudesse ser ordenada.
Eu não entendo as razões para negar isso. Causa-me surpresa que a
presença de Cristo seja reduzida ao fato de ser homem do sexo masculino.
Aqui também temos teólogas preparadas para as quais só falta a
ordenação, nada mais. Eu me pergunto por que existe essa diferenciação
baseada no sexo e não baseada na preparação e na atualização. Deveria
ser melhor analisada qual é a função do padre. Se deve administrar uma
paróquia, se deve fazer muitas coisas para as quais presumivelmente não
foi preparado. Deve ser assim? Também existem outras soluções. Não quero
dizer que deve haver um determinado número de mulheres e um determinado
número de homens ocupando uma determinada posição. Precisamos
considerar quem está qualificado para cada tarefa. A imagem do sacerdote
que temos hoje deve ser fundamentalmente revista. Às vezes me causa
surpresa que os padres não se oponham aos desenvolvimentos que
atualmente lhes dizem respeito.
Isso significa que a senhora espera que haja mais mulheres em posições de liderança na Igreja?
Naturalmente. Mas não digo que uma mulher deva
ocupar uma posição diretiva porque é uma mulher - mas porque ela tem a
preparação adequada. E isso também vale para um homem, que deve ocupar
uma posição porque tem a preparação para tanto, não porque ele é um
padre.
A senhora acredita que algo vai acontecer nesse âmbito em um futuro próximo?
E não tenho tanta certeza de que as coisas sejam assim. Seria muito útil se nós, na Igreja, prestássemos mais atenção a como Jesus se comportou em relação às mulheres. Ele aprendeu com elas, refiro-me, por exemplo, à mulher siro-fenícia (ver Mc 7,24-30). Também houve mulheres que o seguiram em seu caminho. Era realmente uma atitude diferente.
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