Por
Em meu último artigo,
repassei algumas das grandes encíclicas sociais de Leão XIII, escritas
com o fim de dar à Igreja uma orientação em sua delicada e difícil
relação com os Estados modernos e as situações econômicas atuais. Leão
XIII estava em luta contra a emergência de um estilo de vida e uma visão
de mundo inteiramente secularizados, separados da herança cristã e
obcecados com a busca de um progresso estritamente material. Ele foi um
dos primeiros a destacar a magnitude das mudanças que estavam
acontecendo, à medida que o mundo ocidental se despojava do jugo suave de seu Redentor para, no lugar, se deixar seduzir pelas ideologias da moda
como o liberalismo, o materialismo, o consumismo, que prometiam
expandir a liberdade, ao mesmo tempo que punham gradualmente abaixo as
instituições naturais e sobrenaturais que sustentam e confortam o homem
em sua peregrinação pela terra.
Neste artigo, eu gostaria de comentar a grande traços algumas encíclicas fantásticas de Leão XIII que merecem hoje o nosso estudo. Elas bem poderiam formar um excelente “syllabus” para um clube do livro ou para os grupos de leitura de nossas paróquias. A clareza delas, somada à sua força e relativa brevidade, é um dos melhores modelos em que se deviam inspirar os documentos do magistério papal.
Um dos primeiros atos do pontificado de Leão XIII foi a promulgação do documento “Sobre a restauração da filosofia cristã”, mais conhecido como Aeterni Patris (1880). O trabalho inacabado do Concílio Vaticano I, suspenso em 1870 por causa da Guerra Franco-Prussiana, incluía uma revisão e reforma completas do plano de estudos católico em filosofia e teologia. Leão XIII tomou para si esta missão, apoiado em sua experiência pessoal do poder sistemático, do gênio sintético e da relevância atemporal de Santo Tomás de Aquino. Aeterni Patris foi e ainda é a Carta Magna do movimento de restauração ou, melhor dizendo, de refortalecimento do tomismo. É notável esta encíclica por sua visão conjunta da história da intelectualidade cristã e por sua ponderada, embora decidida, preferência por Santo Tomás de Aquino.
Uma vez mais, foi para dar continuidade aos esforços do Concílio Vaticano I por articular a harmonia entre fé e razão e responder ao espírito arrogante do reducionismo histórico-crítico que Leão XIII redigiu sua encíclica sobre o estudo da Sagrada Escritura: a Providentissimus Deus (1893). A encíclica proclama com firmeza a inspiração divina, a inerrância e a infalibilidade do Texto Sagrado, além de reafirmar e explicar a doutrina católica tradicional acerca da dupla autoria, divina e humana, dos livros da Escritura; a sua consequente imunidade de todo erro; o vínculo inquebrantável entre Bíblia, Tradição e Magistério; e os vários sentidos da Escritura identificados pelos Padres da Igreja.
Em 1896, Leão XIII trouxe à luz a encíclica Satis Cognitum,
sobre a unidade da Igreja, na qual se abordam tão bem os fundamentos da
eclesiologia que o Papa Paulo VI, em sua encíclica inaugural Ecclesiam Suam
(1964), deu-lhe especial atenção como fonte primária para as futuras
discussões no Concílio Vaticano II. Esta encíclica de Leão XIII
confronta-se diretamente com a pergunta: teve Jesus real intenção de fundar uma Igreja,
visível e hierarquicamente estruturada como um corpo de fiéis na terra,
encarregada de pregar o seu Evangelho e estender aos confins do mundo
os efeitos de sua Redenção? O Papa ordena de forma sucinta evidências
tiradas da Escritura, o testemunho da Tradição e argumentos racionais
para chegar à conclusão de que sim, há uma única Igreja de Cristo, com sua estrutura episcopal.
Ao longo de todos os meus anos de estudos em eclesiologia e
apologética, nunca encontrei nenhuma exposição deste tema que seja tão
direta, bem ordenada, elegante e inspiradora como a de Leão XIII.
Embora cada uma das quase cem encíclicas promulgadas por Leão XIII ofereça uma explicação penetrante da situação moderna, além de bons conselhos para os católicos, há pelo menos três delas, escritas na virada do século XIX para o XX, que me impressionaram durante anos como as mais representativas da profunda visão teológica do Papa, de seu fervor religioso tão animador e de sua ousada crítica cultural: trata-se de Annum Sacrum, sobre a consagração ao S. Coração (1899); Tametsi Futura, sobre Jesus Cristo, Redentor da humanidade (1900); e Mirae Caritatis, sobre a Santa Eucaristia (1902).
Todas elas nos falam do amor imenso que Deus manifestou por nós em Jesus Cristo, da misericórdia que Ele tem mostrado para conosco desde a queda de Adão, e da verdade divina, a única em que nossas inteligências podem encontrar paz em meio às tempestades de filosofias de vida cada vez mais confusas e contraditórias. O Papa não se contenta com afirmar que é esta a nossa terrível condição e qual é a nossa salvação; ele o expõe passo a passo, mostrando aonde nos podem, a nós homens modernos, levar as falsas filosofias de vida e como Deus nos pode resgatar do fosso de destruição que cresce cada vez mais com a nossa rejeição e desprezo de seu Evangelho. Sinto-me obrigado a dizer que teria sido de muito proveito que os Padres conciliares do Vaticano II houvessem estudado primeiro estes documentos antes de chegarem a Roma em 1962. Isto lhes teria dado a dose necessária de realismo, o refortalecimento do seu sensus catholicus, além de um modelo de brevidade e profundidade.
Neste artigo, eu gostaria de comentar a grande traços algumas encíclicas fantásticas de Leão XIII que merecem hoje o nosso estudo. Elas bem poderiam formar um excelente “syllabus” para um clube do livro ou para os grupos de leitura de nossas paróquias. A clareza delas, somada à sua força e relativa brevidade, é um dos melhores modelos em que se deviam inspirar os documentos do magistério papal.
Em sua encíclica sobre o matrimônio cristão, Arcanum Divinae (1880), Leão XIII fala do projeto original do Criador para o casamento e a família, e desenvolve uma crítica contundente contra algumas teorias “inovadoras” e a legislação liberal que, à época, estavam apenas começando a comprometer a instituição familiar. Lida agora, com 150 anos de vantagem, esta encíclica nos permite ver a precisão incrível de todas as predições feitas pelo Papa sobre os efeitos deletérios de tais leis e ideias. No entanto, e isto é o mais importante, o Papa também aprofunda o lado positivo da matéria. Esta encíclica, por si só, constitui o marco inaugural do ensinamento católico moderno sobre matrimônio e família.
Um dos primeiros atos do pontificado de Leão XIII foi a promulgação do documento “Sobre a restauração da filosofia cristã”, mais conhecido como Aeterni Patris (1880). O trabalho inacabado do Concílio Vaticano I, suspenso em 1870 por causa da Guerra Franco-Prussiana, incluía uma revisão e reforma completas do plano de estudos católico em filosofia e teologia. Leão XIII tomou para si esta missão, apoiado em sua experiência pessoal do poder sistemático, do gênio sintético e da relevância atemporal de Santo Tomás de Aquino. Aeterni Patris foi e ainda é a Carta Magna do movimento de restauração ou, melhor dizendo, de refortalecimento do tomismo. É notável esta encíclica por sua visão conjunta da história da intelectualidade cristã e por sua ponderada, embora decidida, preferência por Santo Tomás de Aquino.
Uma vez mais, foi para dar continuidade aos esforços do Concílio Vaticano I por articular a harmonia entre fé e razão e responder ao espírito arrogante do reducionismo histórico-crítico que Leão XIII redigiu sua encíclica sobre o estudo da Sagrada Escritura: a Providentissimus Deus (1893). A encíclica proclama com firmeza a inspiração divina, a inerrância e a infalibilidade do Texto Sagrado, além de reafirmar e explicar a doutrina católica tradicional acerca da dupla autoria, divina e humana, dos livros da Escritura; a sua consequente imunidade de todo erro; o vínculo inquebrantável entre Bíblia, Tradição e Magistério; e os vários sentidos da Escritura identificados pelos Padres da Igreja.
Embora cada uma das quase cem encíclicas promulgadas por Leão XIII ofereça uma explicação penetrante da situação moderna, além de bons conselhos para os católicos, há pelo menos três delas, escritas na virada do século XIX para o XX, que me impressionaram durante anos como as mais representativas da profunda visão teológica do Papa, de seu fervor religioso tão animador e de sua ousada crítica cultural: trata-se de Annum Sacrum, sobre a consagração ao S. Coração (1899); Tametsi Futura, sobre Jesus Cristo, Redentor da humanidade (1900); e Mirae Caritatis, sobre a Santa Eucaristia (1902).
Todas elas nos falam do amor imenso que Deus manifestou por nós em Jesus Cristo, da misericórdia que Ele tem mostrado para conosco desde a queda de Adão, e da verdade divina, a única em que nossas inteligências podem encontrar paz em meio às tempestades de filosofias de vida cada vez mais confusas e contraditórias. O Papa não se contenta com afirmar que é esta a nossa terrível condição e qual é a nossa salvação; ele o expõe passo a passo, mostrando aonde nos podem, a nós homens modernos, levar as falsas filosofias de vida e como Deus nos pode resgatar do fosso de destruição que cresce cada vez mais com a nossa rejeição e desprezo de seu Evangelho. Sinto-me obrigado a dizer que teria sido de muito proveito que os Padres conciliares do Vaticano II houvessem estudado primeiro estes documentos antes de chegarem a Roma em 1962. Isto lhes teria dado a dose necessária de realismo, o refortalecimento do seu sensus catholicus, além de um modelo de brevidade e profundidade.
Neste “trio” de encíclicas, Leão XIII fomenta uma luta apaixonada pela conversão, a começar pela própria Igreja, movendo-se a partir daí em círculos concêntricos até abarcar a humanidade inteira. E, como todos os Papas antes e depois dele, Leão XIII nos convida a estar reunidos em torno do mais sublime de todos os sagrados mistérios na terra: a Santíssima Eucaristia, o Corpo e Sangue de nosso Redentor, e a deixá-lo nos unir em uma só Igreja, em um só Corpo, repleto daquela força vital que cura a queda dos filhos de Adão.
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