Dom José Luis Azcona |
01 Out. 19
REDAÇÃO CENTRAL, (ACI).-
O Bispo Emérito de Marajó (Brasil), Dom José Luis Azcona, denunciou que o
Instrumento de Trabalho (IT) do Sínodo da Amazônia nivela o
cristianismo a todas as religiões, negando “a unicidade e exclusividade
do caminho de Cristo”.
“O relativismo e o nivelamento de todas as religiões e credos, afirmando que existem outros caminhos válidos para a salvação, estão querendo negar a unicidade e exclusividade do caminho de Cristo. ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’. ‘Ninguém vai ao Pai se não por Mim... Eu e o Pai somos um. Quem me vê, vê o Pai...’. Isso não se confunde com nenhuma atitude corporativista”, disse o Prelado em um artigo enviado à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI.
O Bispo espanhol, que governou pastoralmente a diocese amazônica entre 1987 e 2016, referiu-se ao número 39 do IT, que afirma o seguinte:
“Muitos povos amazônicos são constitutivamente dialógicos e comunicativos. Existe um amplo e necessário campo de diálogo entre as espiritualidades, crenças e religiões amazônicas, que exige uma abordagem cordial das diferentes culturas. O respeito por este espaço não significa relativizar as próprias convicções, mas sim reconhecer outros caminhos que procuram desvendar o mistério insondável de Deus. A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são destruidoras deste mesmo credo. Assim o explicou Jesus ao Doutor da Lei, na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 30-37). O amor vivido em qualquer religião agrada a Deus. ‘Através de um intercâmbio de dons, o Espírito pode conduzir-nos cada vez mais para a verdade e o bem’ (EG, 246)”.
Dom Azcona, que recordou a missão evangelizadora da Igreja, abordou também o diálogo evangelizador que deveria ser mencionado no IT do Sínodo que começará em 6 de outubro.
O diálogo do qual tratamos aqui é o diálogo evangelizador ao qual necessariamente o IT tem que se referir.
Esse diálogo tem como finalidade constitutiva, sem negar outras, “iluminar todos os homens e todos os povos (também os amazônicos) anunciando o Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15), com a luz de Cristo que brilha e resplandece no rosto da Igreja” (Cfr LG1).
“O relativismo e o nivelamento de todas as religiões e credos, afirmando que existem outros caminhos válidos para a salvação, estão querendo negar a unicidade e exclusividade do caminho de Cristo. ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’. ‘Ninguém vai ao Pai se não por Mim... Eu e o Pai somos um. Quem me vê, vê o Pai...’. Isso não se confunde com nenhuma atitude corporativista”, disse o Prelado em um artigo enviado à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI.
O Bispo espanhol, que governou pastoralmente a diocese amazônica entre 1987 e 2016, referiu-se ao número 39 do IT, que afirma o seguinte:
“Muitos povos amazônicos são constitutivamente dialógicos e comunicativos. Existe um amplo e necessário campo de diálogo entre as espiritualidades, crenças e religiões amazônicas, que exige uma abordagem cordial das diferentes culturas. O respeito por este espaço não significa relativizar as próprias convicções, mas sim reconhecer outros caminhos que procuram desvendar o mistério insondável de Deus. A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são destruidoras deste mesmo credo. Assim o explicou Jesus ao Doutor da Lei, na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 30-37). O amor vivido em qualquer religião agrada a Deus. ‘Através de um intercâmbio de dons, o Espírito pode conduzir-nos cada vez mais para a verdade e o bem’ (EG, 246)”.
Dom Azcona, que recordou a missão evangelizadora da Igreja, abordou também o diálogo evangelizador que deveria ser mencionado no IT do Sínodo que começará em 6 de outubro.
A seguir, o texto completo de Dom Azcona:
O DIÁLOGO NO SINODO DA AMAZÔNIA
(IT, capítulo 4, números 36 a 42)O diálogo do qual tratamos aqui é o diálogo evangelizador ao qual necessariamente o IT tem que se referir.
Esse diálogo tem como finalidade constitutiva, sem negar outras, “iluminar todos os homens e todos os povos (também os amazônicos) anunciando o Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15), com a luz de Cristo que brilha e resplandece no rosto da Igreja” (Cfr LG1).
Qualquer outro diálogo ou qualquer outra finalidade do mesmo não
responde nem ao ser nem à ação da Igreja que "existe para evangelizar"
(Cristo crucificado e ressuscitado). Este não é um diálogo entre pessoas
eruditas sobre culturas indígenas, mitos sobre o "bem viver" com a
natureza, nem, muito menos, sobre a escatologia da "terra sem males".
Não é uma reflexão conjunta ou um estudo respeitoso e participativo
entre amigos, esforçado e perseverante, com a finalidade principal de
"criar uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões" (EG 238).
Isso significaria a morte do Evangelho e da Igreja. Esta ficaria
reduzida à condição de uma grandiosa e imponente ONG universal,
especialista em humanismo, chegando a ser a máxima expressão evolutiva
da humanidade pela globalização da solidariedade.
Os protagonistas desta grandiosa ONG seriam os povos indígenas da
Amazônia chamados pelo destino a esta missão histórica: Amazonizar a
Igreja e, portanto, amazonizar o mundo! Isto é, irmãos, a torre de
Babel!
Pelo contrário, o diálogo evangelizador tende necessariamente à
comunicação alegre, amiga, confiante, segura e simples de que em Jesus
de Nazaré, Filho de Deus, oferece-se a todos os homens a salvação
integral (pessoal, social, ambiental, temporal e eterna), pela fé no
"Deus que amou tanto o mundo, que lhe deu seu Filho único" (Jo 3, 16).
Tudo isso nos indica a grandeza e a transcendência de um diálogo cuja
finalidade inclui, acima de tudo, a salvação presente e eterna através
do amor crucificado, “único eixo cultural capaz de mudar as estruturas
perversas da sociedade” (também indígenas) em estruturas justas
(Aparecida 543), "pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo,
mas para que o mundo seja salvo por ele" (Jo 3, 17).
Que esse diálogo seja absolutamente questionador e não careça de
transcendência, de estudiosos de culturas indígenas ou de especialistas
em ONGs amazônicas nos recorda a Palavra. "Quem nele crê não é
condenado, mas quem não crê já está condenado" (Jo 3, 18).
A questão fundamental do diálogo evangelizador é a seguinte: “Libertar
cada homem e todos os homens de qualquer tipo de escravidão que os
oprima, sobretudo a escravidão do pecado e do maligno... na alegria de
conhecer a Deus e de ser por ele conhecido” (EN 7. 9. 10).
Quem é o protagonista do diálogo? (IT 38). Tratando do diálogo
evangelizador, obviamente não são os povos da Amazônia. Nem, tampouco,
"de maneira especial os pobres e quantos são culturalmente diferentes"
(IT 38). Eles são os primeiros e privilegiados destinatários da
evangelização e, portanto, do diálogo (Lucas 4, 18 ss), que uma vez
convertidos a Cristo serão efetivamente atores privilegiados do diálogo
evangelizador.
As "outras doutrinas petrificadas" que se opõem à evangelização
dialógica (Ibid) não são, obviamente, as doutrinas e mistérios que a
Igreja proclama com gratidão a Deus no símbolo apostólico e retamente
explicadas pelo Catecismo.
Por outro lado, a ambiguidade e as meias verdades que caracterizam o IT
são evidenciadas na afirmação de que o diálogo é um processo de
aprendizagem facilitado “pela abertura à transcendência” (EG 205). Na
verdade, o texto deveria dizer que o diálogo salvífico é possibilitado
pela "abertura à transcendência de Cristo, na qual toda a plenitude de
Deus habita corporalmente" (Col).
“O relativismo e o nivelamento de todas as religiões e credos, afirmando
que existem outros caminhos válidos para a salvação (IT 39), estão
querendo negar a unicidade e exclusividade do caminho de Cristo. ‘Eu sou
o caminho, a verdade e a vida’. ‘Ninguém vai ao Pai se não por Mim...
Eu e o Pai somos um. Quem me vê, vê o Pai...’. Isso não se confunde com
nenhuma atitude corporativista" (Ibid).
Conversão, Palavra, Pentecostes
(IT 40). Novamente, o documento da REPAM (IT 40), construído com meias
verdades, aparece como inútil. A verborragia e a imprecisão do mesmo nos
dão a sensação de vertigem. Por exemplo, o conceito de conversão dos
corações endurecidos só é possível a partir da "pregação do mistério
pascal e do arrependimento para o perdão dos pecados a todas as nações"
(Lucas 24, 44ss; Atos 2, 38). Arrependimento que é originado
exclusivamente pela "convicção do pecado suscitada pelo Espírito Santo,
porque não creem em Mim" (Cf. Jo 16, 8ss). É exclusivamente na direção
de Cristo que se encontra a salvação pela fé.
Tampouco a partilha das verdades com a humanidade inteira, se não se
compartilha a Palavra, a Verdade que se fez carne e habitou entre nós e
"vimos a sua glória" (Jo 1, 14). O diálogo não transforma a mentalidade
de ninguém, nem dos povos amazônicos.
A confusão se torna heresia quando se supõe que ainda tem que acontecer o
nascimento da Igreja "que caminha em busca de sua identidade em direção
à unidade do Espírito Santo".
O diálogo não é pentecostal porque é a origem da Igreja, mas porque o
acontecimento de Pentecostes, gerando a Igreja, fez desta uma Igreja
missionária e evangelizadora.
Porque a Igreja não é gerada pelo diálogo. Ela existe antes de nós. É através do batismo que formamos o Corpo de Cristo: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo" (1Cor 12, 13).
Porque nossa unidade eclesial na única Igreja cresce e alcança sua
plenitude não no diálogo, mas no sacramento do Corpo e Sangue do Senhor:
“O cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de
Cristo?". (1Cor 10).
Por último, "o encontro com o outro não nos mostra a impenetrabilidade
da realidade e do mistério de Deus" (IT 40). Se Ele não se revela, não
há probabilidade de nenhum conhecimento nem de acesso real ao Deus de
Jesus Cristo, se não for por meio dele e em seu Espírito.
Profetismo (IT 42).
O silêncio sobre o acontecimento de Pentecostes reduz o profetismo na
Amazônia a propostas éticas, orientações moralistas, ações esforçadas,
visão precisa do que precisa ser feito. Sem a "profunda experiência de
Pentecostes que transformou os apóstolos e os tornou testemunhas e
profetas" (RM 24), os gritos e cânticos de dor e de júbilo da Igreja
profética na Amazônia serão perdidos no silêncio e no vazio sem mudar o
rumo da história nem criar qualquer novo caminho para a mesma. A opção
preferencial pelos pobres nesse caso será tímida, necessariamente
desprovida de vigor e completamente inútil. Sem o Espírito Santo
criador, regenerador, o Espírito que dá vida à natureza e sentido à sua
história, “que procede do Pai e do Filho" e sem o qual não há nada
saudável no mundo, nada digno, nada santo ou humano, o profetismo na
Igreja e na Amazônia sobre propostas concretas de ecologia integral, de
diálogo entre os povos, culturas e territórios, o clamor da terra e dos
pobres (IT 42), tudo se torna fóssil, a ecologia integral nas cinzas e
na fumaça das queimadas, a teologia da natureza e da história, em pura
poesia teológica e ambiental.
"Não havia Espírito porque Jesus não havia sido crucificado e
glorificado" (Jo 7, 37). Sem o Pai dos pobres, que é o Espírito Santo,
estes morrem inevitavelmente.
Por último, quem é um profeta? Todas as Escrituras do Antigo e do Novo
Testamento o proclamam: “Se a palavra que proclama o profeta for
cumprida, eu o enviei. Caso contrário, ele é um falso profeta. Eu não o
enviei”.
Dom José Luis Azcona, Bispo Emérito de Marajó
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