Por Prof. Felipe Aquino
O Sacramento da Unção dos Enfermos está muito ligado ao sofrimento e à morte, por isso, à luz de nossa fé católica, vamos meditar um pouco sobre esses acontecimentos tão importantes de nossa vida. Esta é a parte da Teologia chamada de Escatologia, ou os últimos acontecimentos.
A morte é a passagem da vida temporal para a vida definitiva. Quem
viveu na fidelidade a Deus neste mundo terá comunhão com Ele ou a visão
face a face da Beleza Infinita, desde que esteja puro de qualquer
resquício de pecado. Esta pureza pode ser adquirida nesta vida ou na
vida futura, pelo Purgatório. Quem termina esta vida terrestre
voluntariamente contrário a Deus, em sua inimizade, terá para sempre a
separação de Deus; é o inferno.
Após a morte de cada homem há “o juízo particular”, que é a manifestação, ao próprio indivíduo, do verdadeiro valor da sua vida. Nesta vida temos dificuldades de nos julgar; por isso Deus, logo após a nossa morte, nos mostrará com clareza qual o peso da nossa existência na terra. Em resumo, o que se dá após a morte é a colheita do que nós plantamos de bom ou de mau nesta vida. Há continuidade entre a vida presente e a futura, embora numa dimensão de vida diferente.
A ressurreição da carne acontecerá no fim dos tempos, no último dia, na Parusia, quando Cristo vier julgar todos os homens. Haverá então o Juízo Universal; neste não haverá mais a análise dos méritos e das culpas de cada criatura, mas sim a manifestação dos méritos e deméritos de cada um diante da humanidade toda, pois os homens são interdependentes entre si, tanto para o bem como para o mal. Então teremos a justiça perfeita de Deus feita para toda a humanidade. Todos nós queremos justiça; pois bem, esta será feita perfeitamente por Deus no dia do Juízo Universal.
A questão da vida após a morte é importantíssima para nós; se nada houvesse após esta vida presente, a existência terrestre seria a única chance de felicidade, e isto seria muito injusto, pois muitas pessoas boas passam, muitas vezes, a maior parte da vida em sofrimentos. Mas há outra vida; então a nossa existência terrena tem sentido: é uma preparação para a eternidade, que nos leva a considerar os bens materiais apenas como imagens e sombras de algo muito mais pleno e belo que encontraremos na eternidade em Deus. Isto nos leva a não nos apegarmos a este mundo mais pleno e belo que encontraremos na eternidade em Deus. Isto nos leva a não nos apegarmos a este mundo como se fosse definitivo. Os ateus e materialistas vivem nesta perspectiva triste e sombria, e se desesperam quando não podemos encontrar a “felicidade” neste mundo. Muitos se revoltam.
Todos nós perguntamos: de onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da dor?
A maioria das pessoas, quando pensa na morte, tende a imaginá-la como algo longe, que não deve mudar o momento presente. Isto mostra que há uma repugnância espontânea da natureza humana diante da “morte”. O próprio S. Paulo dizia que desejava chegar ao encontro final com Cristo sem ter que morrer previamente (cf. 2Cor 5,2-4); queria, sim, viver até a segunda vinda (Parusia) de Cristo, pois julgava que os justos da última geração serão dispensados de morrer e terão seus corpos transfigurados por ocasião da segunda vinda do Senhor (cf. 1Cor 15,51; 1Ts 4,15-17).
A morte é uma realidade para todos; nela todos se igualam, ricos e pobres. Aqueles que não são cristãos não conseguem ver um sentido para a vida e para a morte. Isto faz com que os materialistas, que negam a existência de Deus, encarem a vida de maneira trágica, como algo sem sentido. Martin Heidegger (†1976), filósofo existencialista, dizia: “A morte é um modo de ser que a existência humana assume, desde que ela tem início”. Por isso os existencialistas definem o homem como um “ser-para-a-morte”, não só porque está destinado a morrer, mas porque é constantemente atingido pela realidade da morte.
Com uma mentalidade ateia e muito triste, os existencialistas afirmam que a vida humana é limitada por dois dada: o homem teria surgido do nada, não por obra de um Deus, e se dirige lenta e inexoravelmente para outro nada. E o que dá uma nota trágica à existência – para os existencialistas ateus – é que a pessoa tem consciência de estar caminhando para a destruição; isto é terrível. Então, nasce dentro do homem a angústia de que Heidegger falava ou a náusea de Jean Paul Sartre. Nesta mesma linha outros filósofos fizeram muito mal à humanidade, especialmente aos jovens, pois deram à vida uma conotação sombria, sem a esperança da fé cristã.
Nietzsche, cujas obras infelizmente são tanto divulgadas, sobretudo nos meios universitários, é uma figura típica desta atitude irreligiosa. Ele despertou para a filosofia através de Schopenhauer. Ele disse que: “Schopenhauer foi, como filósofo, o primeiro ateísta confesso e inflexível que nós alemães tivemos”. Como quase todos os ateus depois de Feuerbach, Nietzsche também considera a religiosidade como uma inconsciente projeção.
Deus, para estes ateus que o queriam matar, não é senão uma ilusão criada pelo homem buscando uma compensação diante de sua miséria; o que o faz fugir do mundo e das grandes tarefas humanas. Mas isto não é verdade, pois os homens que mais empreenderam neste mundo em seu benefício foram os que acreditaram em Deus e para Ele viveram; basta examinarmos a vida dos grandes Papas.
Para que a vida seja mais suportável, o existencialismo ensina, então, a “aceitação da tragédia” como maneira de chegar a uma “existência autêntica”. Que pobre mentalidade!
Refletindo sobre a posição existencialista, podemos ver a recusa da ideia de desaparecimento total diante da morte, e um justo anseio da imortalidade que trazemos dentro de nós. Assim fala o Concílio do Vaticano II sobre a morte:
“Diante da morte, o enigma da condição humana atinge seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor da destruição perpétua. Mas é por uma inspiração acertada do seu coração que afasta com horror e repele a ruína total e a morte definitiva de sua pessoa. A semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à matéria apenas, insurge-se contra a morte. Todas as conquistas da técnica, ainda que utilíssimas, não conseguem acalmar a angústia do homem. Pois a longevidade, que a biologia lhe obtém, não satisfaz ao desejo de viver sempre mais que existe inelutavelmente em seu coração” (Gaudium et Spes, nº 18).
Um homem destinado ao nada seria um absurdo, como reconhece o próprio Sartre: “É absurdo que tenhamos nascido, é absurdo que morramos”.
O homem, porém, não pode ser absurdo. A hipótese do “homem absurdo” não só fere o bom senso, mas torna impossível todo e qualquer raciocínio. Ao contrário disso, o Concílio afirma:
“Enquanto toda a imaginação fracassa diante da morte, a Igreja, instruída pela Revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, além dos limites da miséria terrestre. Mas ainda: ensina a fé cristã que a morte corporal, da qual o homem seria subtraído se não tivesse pecado, será vencida um dia, quando a salvação perdida pela culpa do homem lhe for restituída por seu onipotente e misericordioso Salvador. Pois Deus chamou e chama o homem para que ele, com a sua natureza inteira, dê sua adesão a Deus na comunhão perpétua da incorruptível vida divina” (GS 18).
A nossa Profissão de Fé ou o Credo termina afirmando a realidade da vida eterna, ponto culminante da esperança cristã: “Creio na vida eterna”, diz o Símbolo Apostólico; “Esperamos a vida no mundo que há de vir”, professa o Símbolo Niceno-constantinopolitano. Assim, enquanto o existencialismo define o homem como um “ser-para-a-morte”, o Cristianismo o considera um “ser-para-a-vida”.
Retirado do livro: “Unção dos enfermos”. Coleção Sacramentos. Ed. Canção Nova.
Após a morte de cada homem há “o juízo particular”, que é a manifestação, ao próprio indivíduo, do verdadeiro valor da sua vida. Nesta vida temos dificuldades de nos julgar; por isso Deus, logo após a nossa morte, nos mostrará com clareza qual o peso da nossa existência na terra. Em resumo, o que se dá após a morte é a colheita do que nós plantamos de bom ou de mau nesta vida. Há continuidade entre a vida presente e a futura, embora numa dimensão de vida diferente.
A ressurreição da carne acontecerá no fim dos tempos, no último dia, na Parusia, quando Cristo vier julgar todos os homens. Haverá então o Juízo Universal; neste não haverá mais a análise dos méritos e das culpas de cada criatura, mas sim a manifestação dos méritos e deméritos de cada um diante da humanidade toda, pois os homens são interdependentes entre si, tanto para o bem como para o mal. Então teremos a justiça perfeita de Deus feita para toda a humanidade. Todos nós queremos justiça; pois bem, esta será feita perfeitamente por Deus no dia do Juízo Universal.
A questão da vida após a morte é importantíssima para nós; se nada houvesse após esta vida presente, a existência terrestre seria a única chance de felicidade, e isto seria muito injusto, pois muitas pessoas boas passam, muitas vezes, a maior parte da vida em sofrimentos. Mas há outra vida; então a nossa existência terrena tem sentido: é uma preparação para a eternidade, que nos leva a considerar os bens materiais apenas como imagens e sombras de algo muito mais pleno e belo que encontraremos na eternidade em Deus. Isto nos leva a não nos apegarmos a este mundo mais pleno e belo que encontraremos na eternidade em Deus. Isto nos leva a não nos apegarmos a este mundo como se fosse definitivo. Os ateus e materialistas vivem nesta perspectiva triste e sombria, e se desesperam quando não podemos encontrar a “felicidade” neste mundo. Muitos se revoltam.
Todos nós perguntamos: de onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da dor?
A maioria das pessoas, quando pensa na morte, tende a imaginá-la como algo longe, que não deve mudar o momento presente. Isto mostra que há uma repugnância espontânea da natureza humana diante da “morte”. O próprio S. Paulo dizia que desejava chegar ao encontro final com Cristo sem ter que morrer previamente (cf. 2Cor 5,2-4); queria, sim, viver até a segunda vinda (Parusia) de Cristo, pois julgava que os justos da última geração serão dispensados de morrer e terão seus corpos transfigurados por ocasião da segunda vinda do Senhor (cf. 1Cor 15,51; 1Ts 4,15-17).
A morte é uma realidade para todos; nela todos se igualam, ricos e pobres. Aqueles que não são cristãos não conseguem ver um sentido para a vida e para a morte. Isto faz com que os materialistas, que negam a existência de Deus, encarem a vida de maneira trágica, como algo sem sentido. Martin Heidegger (†1976), filósofo existencialista, dizia: “A morte é um modo de ser que a existência humana assume, desde que ela tem início”. Por isso os existencialistas definem o homem como um “ser-para-a-morte”, não só porque está destinado a morrer, mas porque é constantemente atingido pela realidade da morte.
Com uma mentalidade ateia e muito triste, os existencialistas afirmam que a vida humana é limitada por dois dada: o homem teria surgido do nada, não por obra de um Deus, e se dirige lenta e inexoravelmente para outro nada. E o que dá uma nota trágica à existência – para os existencialistas ateus – é que a pessoa tem consciência de estar caminhando para a destruição; isto é terrível. Então, nasce dentro do homem a angústia de que Heidegger falava ou a náusea de Jean Paul Sartre. Nesta mesma linha outros filósofos fizeram muito mal à humanidade, especialmente aos jovens, pois deram à vida uma conotação sombria, sem a esperança da fé cristã.
Nietzsche, cujas obras infelizmente são tanto divulgadas, sobretudo nos meios universitários, é uma figura típica desta atitude irreligiosa. Ele despertou para a filosofia através de Schopenhauer. Ele disse que: “Schopenhauer foi, como filósofo, o primeiro ateísta confesso e inflexível que nós alemães tivemos”. Como quase todos os ateus depois de Feuerbach, Nietzsche também considera a religiosidade como uma inconsciente projeção.
Deus, para estes ateus que o queriam matar, não é senão uma ilusão criada pelo homem buscando uma compensação diante de sua miséria; o que o faz fugir do mundo e das grandes tarefas humanas. Mas isto não é verdade, pois os homens que mais empreenderam neste mundo em seu benefício foram os que acreditaram em Deus e para Ele viveram; basta examinarmos a vida dos grandes Papas.
Para que a vida seja mais suportável, o existencialismo ensina, então, a “aceitação da tragédia” como maneira de chegar a uma “existência autêntica”. Que pobre mentalidade!
Refletindo sobre a posição existencialista, podemos ver a recusa da ideia de desaparecimento total diante da morte, e um justo anseio da imortalidade que trazemos dentro de nós. Assim fala o Concílio do Vaticano II sobre a morte:
“Diante da morte, o enigma da condição humana atinge seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor da destruição perpétua. Mas é por uma inspiração acertada do seu coração que afasta com horror e repele a ruína total e a morte definitiva de sua pessoa. A semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à matéria apenas, insurge-se contra a morte. Todas as conquistas da técnica, ainda que utilíssimas, não conseguem acalmar a angústia do homem. Pois a longevidade, que a biologia lhe obtém, não satisfaz ao desejo de viver sempre mais que existe inelutavelmente em seu coração” (Gaudium et Spes, nº 18).
Um homem destinado ao nada seria um absurdo, como reconhece o próprio Sartre: “É absurdo que tenhamos nascido, é absurdo que morramos”.
O homem, porém, não pode ser absurdo. A hipótese do “homem absurdo” não só fere o bom senso, mas torna impossível todo e qualquer raciocínio. Ao contrário disso, o Concílio afirma:
“Enquanto toda a imaginação fracassa diante da morte, a Igreja, instruída pela Revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, além dos limites da miséria terrestre. Mas ainda: ensina a fé cristã que a morte corporal, da qual o homem seria subtraído se não tivesse pecado, será vencida um dia, quando a salvação perdida pela culpa do homem lhe for restituída por seu onipotente e misericordioso Salvador. Pois Deus chamou e chama o homem para que ele, com a sua natureza inteira, dê sua adesão a Deus na comunhão perpétua da incorruptível vida divina” (GS 18).
A nossa Profissão de Fé ou o Credo termina afirmando a realidade da vida eterna, ponto culminante da esperança cristã: “Creio na vida eterna”, diz o Símbolo Apostólico; “Esperamos a vida no mundo que há de vir”, professa o Símbolo Niceno-constantinopolitano. Assim, enquanto o existencialismo define o homem como um “ser-para-a-morte”, o Cristianismo o considera um “ser-para-a-vida”.
Retirado do livro: “Unção dos enfermos”. Coleção Sacramentos. Ed. Canção Nova.
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