Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. (Ef 5, 8-11)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
Em 2019, a alternativa entre comuno-tribalismo e Cristandade
A
anarquia tribalista é o que pretendem o Sínodo Pan-Amazônico e os agitadores
que incendeiam nosso continente. O rumo da Cristandade restaurada é o que
devemos desejar e favorecer, como os incontáveis franceses que lutam pela
autêntica restauração da catedral de Notre-Dame.
A igreja da Assunção, em Santiago do Chile, foi saqueada no dia 8 de
novembro de 2019 por mascarados, que usaram as imagens e móveis para
montar uma barricada contra a polícia. Na foto, um dos sacrílegos
desordeiros quebra a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora das Graças.
Logo d’Ela, a Mãe de todas as graças, Mãe por excelência…
Por Luis Dufaur
O ano de 2018 encerrou-se com esperançosos retrocessos do bolivarianismo
na América Latina, e com algumas derrotas eleitorais expressivas das
esquerdas na Europa e na América do Norte. Mas no transcurso de 2019 o
fiel da balança se inverteu, com uma peculiaridade: é inegável que ao
longo do ano se estiolaram as simpatias culturais e religiosas profundas
pelos motores da desordem moral e social; e na esfera política a
saturação pública com o caos das últimas décadas propiciou o
ressurgimento dos anseios por homens-símbolo que pudessem conduzir a bom
porto.Apresentou-se uma
liderança conservadora de nomes novos em vários países, que explorou a
esperança de superar a corrupção generalizada, a ofensiva contra a família, o
marxismo cultural, os ensinos imorais e perversos nas escolas; e de outro lado favorecesse
os costumes morais tradicionais, o restabelecimento da ordem, da propriedade, da
segurança, da bandeira nacional — em suma, da submissão à lei moral
estabelecida por Deus — para que tais valores fossem oficialmente respeitados, por
cima das bandeirolas do socialismo internacional. Em suma, desejava-se cortar o
passo à Revolução Cultural e trazer de volta o equilíbrio tranquilo e pacato de
antigamente.A nostalgia
desse passado animava a resistência às “mudanças” esquerdizantes, que produziram
uma engrenagem de desgraças. O descontentamento com um mundo que não dava o
prometido fez ressurgir a lembrança de um passado arquetipizado, o sentimento
difuso de que a vida foi melhor quando bafejada pelo ensinamento do Evangelho. A
resistência a tais mudanças agia não só no Brasil: na Colômbia, um plebiscito opusera
um NÃO ao enganoso “processo de paz” tramado entre Havana e o Vaticano; a Grã-Bretanha
aprovara um polêmico Brexit, para sair da opressiva União Europeia; e os EUA deram
a Trump o apoio contra o establishment
político-midiático.
A instituição familiar, que havia sofrido golpes formidáveis
decorrentes de leis anticristãs, saiu mais abalada de
dois Sínodos sobre a família, completados pela exortação Amoris
Laetitia e suas aplicações corrosivas.
Uma exceção,
infelizmente, se registrava na liderança da Igreja Católica. A instituição
familiar, que havia sofrido golpes formidáveis decorrentes de leis anticristãs,
saiu mais abalada de dois Sínodos sobre a família — um extraordinário e outro ordinário
— completados pela exortação Amoris Laetitia e suas aplicações
corrosivas. Nem por isso o anseio pela família tradicional deixou
de palpitar nos
corações dos homens, como o reconheceu o arcebispo de Barcelona, Cardeal
Juan José Omella.[1] Sintomático: o
bispo do Porto, Dom Manuel Linda, que se define “fã do Papa Francisco a 200%”, negou de
público a virgindade de Nossa Senhora; mas, abrumado pela indignação popular, recuou
rumorosamente três dias depois.[2]
Embora em retirada diante de resistências como essas, as esquerdas não renunciaram
ao objetivo de frustrar o anseio saudável dos setores sadios da população. Os novos líderes
políticos que assumiram a condução das Américas e da Europa, ou que se
encaminhavam para fazê-lo, ascenderam não tanto por adesões ideológicas ou
pessoais, mas pela recusa popular à envenenada “sopinha de letras” em que se refocila
o nosso plantel político-partidário. Durante décadas era isso que predominara nos
governos, na economia, no ensino, na cultura. Infelizmente, com réplicas também
em muitas dioceses, onde se multiplicaram nauseabundos escândalos gerados ou
protagonizados pelolobby homossexual.
Num concorrido
evento público, uma alta patente militar contou ele ter conhecido Plinio Corrêa
de Oliveira. E reconheceu, a título pessoal: “Ele sim, era um homem de valia. Foi deputado constituinte, e quando
cessou, não precisou da cadeira de deputado para continuar sendo um homem de
projeção nacional. Agora os políticos valem enquanto têm o poder nas mãos.
Depois, são apenas mais um”. Sim, o Brasil, o mundo e a Igreja precisavam
de um líder, ainda que leigo como Dr. Plinio. Uma grande pergunta cresceu ao
longo de todo o ano: sem ele, ou sem sua inspiração, como se interromperá a
marcha rumo à anarquia comuno-tribalista, que deu passos de gigante em 2019? Aos
poucos os olhares foram se voltando para o legado de Plinio Corrêa de Oliveira,
aguardando uma resposta ordenadora.
Para o Papa Francisco, o mundo vai se desconjuntar
Em janeiro, um mar de lama da barragem de Brumadinho (MG) ceifou mais
de 250 vidas e destruiu inúmeras residências e lavouras na região. Não poucos procuraram
ver nisso uma representação material das catástrofes morais, políticas e
sociais que desabariam em 2019. Pelo fim do ano, eram tais as crises e as
derrocadas, que a imensa desgraça de Brumadinho ficara quase eclipsada e esquecida. Como se soubesse
o que viria — e tendo a si próprio como partícipe destacado —, o Papa Francisco
previu, na Missa de Ano Novo, que “a falta de união ao redor
do mundo parece ir desunindo-o
cada vez mais”.[3] Infelizmente, foi o que aconteceu. O pontífice deu o exemplo disso,
como pressagiou
o quotidiano “El País”. Embora simpatizando com esse pontificado, o jornal declarou-o
“acossado pelos escândalos morais, por uma reforma
que não saiu do chão e por encarniçadas lutas no seio da Igreja”; qualificou a
queda de popularidade do pontífice como “desmoronamento
especialmente grave entre os jovens, ainda mais acentuado nos EUA”; e
acrescentou que o seu eco positivo se concentrava “entre os não-católicos”.[4]
Em suma, os fiéis pouco o acompanham.
O
presidente da Conferência Episcopal da Venezuela, Mons. José Luís
Azuaje [foto], declarou que o governo de Nicolás Maduro “se tornou
ilegítimo e moralmente inaceitável”. Mas, mesmo assim, o Papa enviou um
representante pessoal para a posse do déspota filocomunista.
Ainda
em janeiro, 20 ex-presidentes da América Latina lhe endereçaram uma carta de
protesto, por suas bênçãos aos governos da Venezuela e da Nicarágua, mesmo o
Papa sabendo “que os venezuelanos são vítimas
da opressão de uma narco-ditadura militarizada que não tem escrúpulos em calcar
sistematicamente os direitos à vida, à liberdade e à integridade pessoal”,
enquanto os nicaraguenses padecem “uma onda de repressão que causou 300 mortos e 2.500
feridos”.
Argumentam que o Papa não ignora, mas silencia, que nesses países “a mentira foi consagrada como sistema; não
há liberdade de imprensa; e, pior ainda, as vozes dissidentes correm o risco de
serem encarceradas, perseguidas, e com frequência mortas, segundo constatam os
organismos de direitos humanos americanos e europeus”.[5]
O presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), Mons. José Luís
Azuaje, declarou que o governo de Nicolás Maduro “se tornou ilegítimo e moralmente inaceitável”.[6]
Mas os bispos venezuelanos não foram ouvidos pelo Papa, que enviou um
representante pessoal para a posse do déspota filocomunista, apesar de “julgada quase universalmente ilegítima”.[7] Concomitante
a tudo isso, Moscou transferia
mercenários e armamentos “a Caracas,
para proteger o ditador”,[8] e também “garantir” o ouro do Banco Central do país. As movimentações
aeronavais russas no Caribe desenterraram o espectro da guerra fria entre
Rússia e EUA e alimentaram rumores de incursões americanas com o apoio de algum
país latino-americano etc. Enquanto isso, a extrema miséria prossegue flagelando
o povo venezuelano e torna cruel realidade a definição do comunismo como “vergonha do gênero humano”: desnutrição
e alimentação com o próprio lixo; longos “apagões”; uso de água de esgotos como
“potável”; desaparecimento da gasolina; confusas revoltas de quartel; atritos
com países vizinhos; reaparecimento de epidemias que se achavam extintas, e
assim por diante.
As
clarissas do mosteiro de Porto Viro (Chioggia) foram postas na rua com
roupas civis, por imposição ditatorial da “comissária” vaticana, pois
não abandonavam a vida contemplativa de Santa Clara e “rezavam demais”
Desmoronamentos clericais em fé e moral
Em visita a Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, o Papa Francisco subscreveu
com o Sheik Ahmad el-Tayeb, grande imã de al-Azhar (Cairo), o documento Fraternidade humana, afirmando que a
pluralidade de religiões é desejada por Deus. O documento suscitou uma
tempestade de dúvidas sobre as heresias que parece conter.[9]
Nos mesmos dias, “ante a crescente confusão no ensinamento da doutrina
da fé”,[10]
o Cardeal Gerhard Müller reafirmou verdades básicas da Igreja, concluindo
com a advertência de São Paulo: “Virá um
tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina” (2 Tim 4,1-5). Mas o
Cardeal Walter Kasper, que propugna a sacrílega comunhão para os concubinos,
acusou o Cardeal Müller de dizer meias verdades, disseminar “confusão e divisão”, e declarou-se “totalmente horrorizado” porque ele
citou a Epístola “sobre a ‘fraude do
Anticristo’”.[11] O
rebaixamento da Comissão Ecclesia Dei, órgão curial que garantia a prática do
nunca proibido rito da Missa aprovado por São Pio V, deu ensejo a temores e
discórdias. Novas normas vaticanas sobre a vida claustral soaram como um “extermínio
silencioso”, que envia ao patíbulo “a
própria ideia de isolamento e de vida de clausura”. No parecer de uma religiosa, foi desatada uma
ofensiva letal contra “a derradeira
fortaleza visada pelo inimigo [o inferno], que é oextermínio de uma estrutura
milenar”.[12] Institutos religiosos que procuravam restaurar a observância e a
correção de vida vinham sendo dissolvidos por disposição do Papa, como aconteceu
com a Fraternité des Saints Apôtres;[13] ou ficaram esvaziados, como as Pequenas Irmãs de Maria Mãe do
Redentor, em Saint-Aignan-sur-Roë, que de um total de 120 religiosas, 115 foram
reduzidas ao estado laical e perderam as propriedades por “rezarem demais”.[14] Também as clarissas do mosteiro de Porto Viro (Chioggia) foram
postas na rua com roupas civis, agasalhadas com cobertores, por imposição
ditatorial da “comissária” vaticana, pois não abandonavam a vida contemplativa
de Santa Clara e “rezavam demais”.[15] Em
fevereiro, sob
um dilúvio purulento de denúncias verdadeiras e falsas de violações cometidas
por clérigos, o Vaticano reuniu os representantes das conferências
episcopais do mundo na “maior cúpula de sua história sobre abusos sexuais”.[16] Os que
aguardavam medidas rigorosas para cortar o mal pela raiz ficaram decepcionados.
Apenas algumas medidas muito pontuais, como do ex-cardeal e ex-arcebispo de
Washington, Theodore McCarrick, que foi reduzido ao estado laical por crimes
sexuais e abuso de poder. Os membros de sua corrente teológica e moral, porém,
continuaram sendo promovidos a altos cargos pela Santa Sé, e o teólogo da
libertação e guerrilheiro nicaraguense Pe. Ernesto Cardenal foi reintegrado ao
clero. Na Austrália, o Cardeal George Pell, designado pelo pontífice para
reformar a economia vaticana, foi condenado com acusações contestáveis por
crimes de pedofilia, e no fim do ano aguardava o pronunciamento da última instância.
Na França, o Cardeal primaz Philippe Barbarin renunciou
à Sé arquiepiscopal de Lyon, depois de ser condenado por suposto acobertamento
de abusos de seu clero. Pelas mesmas acusações, os bispos do Chile haviam renunciado
em bloco em 2018, e muitas arquidioceses e dioceses continuavam vacantes em
2019.
O “cisma alemão”
O
presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Reinhard Marx, anunciou um
“processo sinodal” nacional para discutir o celibato sacerdotal
A desunião na Igreja — que o Papa Francisco anunciou como futuro da instituição,
mas não se empenhou em corrigir, embora detenha para isso os poderes do Papado — atingiu níveis insustentáveis
na Alemanha. O presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Reinhard
Marx, anunciou um “processo sinodal” nacional para discutir o celibato sacerdotal, o ensino da Igreja sobre moral sexual
e a redução da estrutura hierárquica. Nesse “processo sinodal”, conforme se
especula, devem ser colocados na temática: dar acesso à Eucaristia para os
divorciados que vivem em concubinato; abertura à agenda LGBT; admissão de
mulheres no sacerdócio; ordenação de diaconisas, sacerdotes
casados ou homossexuais. Sete bispos bávaros, liderados pelo cardeal Rainer
Woelki, de Colônia, continuaram manifestando oposição à linha heterodoxa da
cúpula episcopal, que no entanto não se moderou.[17] Nem sequer retrocedeu diante dos dados estatísticos comprovando
que a modernização, sob o pretexto de atrair vocações e fiéis, de fato os afastou.
Só em 2018, a “Igreja Católica na
Alemanha perdeu mais de 216 mil fiéis”; o número de sacerdotes caiu de 17
mil, no ano 2000, para os atuais 1.161; as 13.241 paróquias diminuíram para
10.045.[18] Para o arcebispo Samuel Aquila, de Denver (EUA), o Cardeal
Marx e outros bispos companheiros de viagem estavam conduzindo a Igreja
alemã para um cisma, que poderá “danificar
a unidade da Igreja universal”.[19]
O Cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos, acrescentou que o unilateral
“processo sinodal” alemão é “eclesialmente
inválido”, e nele reside o grande perigo de um cisma mundial.[20]
Um sínodo que rompe com Deus e cultua ídolo pagão
O
Cardeal Müller discerniu no Instrumentum Laboris “uma cosmovisão com
mitos e ritual mágico da Mãe Natureza, os sacrifícios aos deuses e
espíritos”
Todas essas graves desavenças pareceram pequenas quando
foi publicado o Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia, a ser reunido
pelo Papa no mês de outubro. Esse documento de trabalho retomou as teses
mais radicais da Teologia da Libertação, notadamente a sua dimensão comuno-tribalista.
O Cardeal Müller discerniu nele “uma
cosmovisão com mitos e ritual mágico da Mãe Natureza, os sacrifícios aos deuses e espíritos”.[21] Mons. José Luís Azcona, bispo emérito de Marajó, denunciou
uma “regressão” implícita na “utopia de
dar vida às religiões pré-colombianas”, separando as populações amazônicas “de Cristo e da Igreja Católica”, e omitindo
que há naquelas religiões “a presença de demônios”.[22] Vinte
mil moradores da Amazônia aderiram a um abaixo-assinado dirigido ao Sínodo,
considerando seu documento preparatório um atentado “inaceitável”, pela “tentativa
de internacionalização” da região.[23] A CNBB
avaliou que os bispos estavam sendo “criminalizados”,
tratados como “inimigos da Pátria”,[24] e
assim a súplica dos católicos amazônicos foi ignorada. Precedendo de perto a realização do Sínodo,
um anômalo clima de pressões internacionais, verdadeiro estrondo publicitário, se
alastrou na mídia mundial a propósito das queimadas que costumam ocorrer
anualmente na Amazônia Legal. Entenda-se bem: não na floresta amazônica, quase
intacta pelos fogos, que logo foram controlados e dominados segundo o antigo
costume dos agricultores. Visava, ao que tudo indica, fazer calar a opinião
pública e fazê-la aceitar qualquer absurdo procedente do Sínodo ou dos
signatários do Acordo de Paris, adeptos de uma governança planetária sobre a
totalidade da Amazônia. Suprimiria assim as soberanias nacionais dos nove
países que detêm partes na região, equivalente à metade da América do Sul. Escandalizou a Igreja o culto fetichista
de um ídolo pagão — a “deusa” panteísta Pachamama — presidido pelo próprio Papa
nos jardins do Vaticano, antes da reunião sinodal. “Religiosas, monges e o Papa Francisco, entre outros, ficaram de
joelhos ante essa imagem, reverenciando-a”.[25]
Dito ídolo, bem como objetos fetichistas que o rodeavam, foram depois expostos
à veneração pública na igreja de Santa Maria in Traspontina, muito perto de basílica
de São Pedro. Um jovem católico austríaco os retirou e jogou no rio Tibre. E o
Papa Francisco, à maneira de reparação à falsa deusa, realizou mais um ato de culto
similar no interior da basílica de São Pedro. A qual, lembre-se, foi erigida
sobre o túmulo do primeiro Papa, ali crucificado exatamente porque recusou
culto idolátrico aos ídolos romanos. O Papa Francisco anunciou ainda a
possibilidade de incluir um “pecado ecológico” no Catecismo da Igreja Católica.[26] O
Sínodo também “propôs
mudanças como a ordenação de homens casados e o diaconato feminino”,[27] e outras reformas com pretexto ecológico, de utilidade
contestável, previstas no documento preparatório. A essas alturas, parece
ingenuidade ilusória supor que tais propostas não serão aprovadas pelo Papa no
documento final.
O Papa rompe com a Igreja?
O Papa Francisco anunciou ainda a possibilidade de incluir um “pecado ecológico” no Catecismo da Igreja Católica
Sem
precedentes históricos, cresceu durante o ano a polêmica teológica sobre se o
Papa pode ser herege; e, em caso positivo, se o Papa Francisco o é. Em uma
carta aberta no mês de maio, 100 teólogos e acadêmicos “convidaram os
bispos a acusarem o Papa Francisco de heresia”[28]e pedirem a sua emenda. O Cardeal Gerhard
Müller declarou que não considera o Papa herético, mas a obrigação dele é responder
à carta coletiva. Dom Athanasius Schneider considerou que a acusação fora longe
demais, e não se pode apontá-lo como “herege formal”.[29]
Os teólogos signatários e os dois altos prelados defendem posições
conservadoras com matizes diversos, fato que revela a extensão atingida pelo
leque de personalidades que debatem a possibilidade de o Papa ter rompido com a
ortodoxia e se afastado de Cristo e de sua Igreja. O pontífice nada esclareceu.
Dom Carlo Maria Viganò, ex-Núncio Apostólico em Washington, e exilado a título
pessoal, ao comentar as práticas idolátricas no Sínodo Pan-amazônico, julgou
estar em andamento “um plano satânico”, e que “os católicos que aderirem a ele, de fato mudarão de religião”.[30]
Manifestações populares seguidas de quebra-quebras, sob o pretexto de aposentadorias, convulsionavam as ruas de Paris.
Países clamam por outro rumo
Em
maio, mais de 70% do eleitorado italiano votou nas eleições gerais contra a imigração
(majoritariamente islâmica) e contra a União Europeia, contrariando a posição
do Papa Francisco, do episcopado italiano e da mídia dependente de autoridades
religiosas. O resultado causou consternação, pois o eleitorado italiano sempre se
orientava pelos conselhos eclesiásticos, mas desta vez se afastou maciçamente
deles, alinhando-se com os posicionamentos anti-imigracionistas e contrários à
União Europeia, adotados por partidos “ultra-direitistas” como o Fidesz
húngaro, o PiS polonês, o Partido do Brexit britânico, a ex-Frente Nacional francesa,
além da escalada do Vox na Espanha e do AfD na Alemanha. O juízo da imprensa foi:
“O Papa ‘perdeu’ as eleições”.[31]
Essa constatação coincide com o esvaziamento popular da Praça de São Pedro nas
audiências gerais das quartas-feiras, e no Angelusaos domingos.
Kremlin esfrega as mãos
O
conceito de “nação” foi sendo utilizado como forma de recusa à igualitária unificação
europeia posterior à II Guerra Mundial. Cresceu uma fragmentação nacionalista
que, não visando à ordem da Civilização Cristã filha da Igreja, assumiu rumos incertos
e até perigosos. Na enigmática Rússia, Vladimir Putin saudou o próximo destarrachamento
da União Europeia, similar ao da ex-URSS. Poucas semanas depois, manifestações
populares seguidas de quebra-quebras, sob o pretexto de aposentadorias,
convulsionavam as ruas de Paris. O Kremlin financiou nacionalismos e secessionismos
inautênticos, como o catalão, e tentativas de golpes ditatoriais, como em
Montenegro; enviou assassinos da nova-KGB para punir ex-agentes e opositores; soprou,
a partir de São Petersburgo, escarcéus de boatos, defake-news; perturbou
eleições, como a presidencial francesa;[32]
promoveu “guerras híbridas”, ou atos dissimulados de guerra em tempos de paz,
nos EUA e na Europa. A “sombra de Putin
pairando sobre a luta político-eleitoral europeia”[33]foi
manchete em mais de um jornal, notadamente quando o conservador Boris Johnson se
tornou chanceler. Em dezembro obteve maioria esmagadora para se
efetivar com segurança o Brexit. Ademais,
cresceram os nacionalistas escoceses que postulam a ruptura com o Reino Unido![34] O
ano todo foi agitado pela suposta ingerência de agentes russos na administração
americana, espalhando suspeitas de colaboração com o presidente Trump antes e
depois de sua eleição. As conjecturas alimentam a tentativa de impeachment
do presidente, promovida por seus inimigos políticos. Em
dezembro, a Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes encaminhou ao
plenário as acusações de “abuso de poder” e “obstrução do Congresso”[35]. Embora
o resultado possa ser nulo, semearia desconcerto no eleitorado conservador,
caso consiga disseminar a dúvida sobre cumplicidades de Trump com a Europa
Oriental. A
retirada militar americana do Oriente Médio deu azo a que a Rússia penetrasse na
Síria e fornecesse armamentos e mercenários à Turquia. Para reforçar sua imagem
mundial, Putin anunciou uma nova geração de superarmas indetectáveis, de
velocidade muitas vezes superior à do som; e que, disparadas de qualquer
ponto do planeta, são capazes de eliminar de uma só vez países com a dimensão da
França ou de estados como o Texas. Ele apresentou vídeos, mas muitos são de
realidade virtual, não de todo convincentes. Mas os EUA responderam que estão
construindo armas equivalentes, pois estão vencidos os acordos posteriores à
guerra fria que limitavam o seu fabrico.
Protestos nas ruas de Hong Kong
Ditadura marxista chinesa mostra as garras
As
ruas de Hong Kong foram palco, ao longo do ano, de
uma avalanche de protestos contra a crescente interferência do
governo comunista de Pequim, reunindo até quase dois
milhões de cidadãos em manifestações pela democracia e contra um projeto de
extradição dos dissidentes anticomunistas. As violências da repressão do executivo
local filocomunista ameaçaram o futuro econômico de uma das maiores praças
financeiras do mundo capitalista. Os estudantes católicos lideram a reação,
enquanto a chefe do executivo, Carrie Lam,
que ostenta militância católica, se alinha ao governo comunista de Xi-Jinping,
num estilo que evoca o PT. A pugna religioso-católica, incubada no caso,
multiplicou as represálias anticatólicas em toda a China, pois Pequim teme que
o exemplo de Hong Kong encoraje os católicos que resistem à feroz repressão antirreligiosa
aplicada no país-continente. Apoiada no acordo de setembro de 2018 entre a
China e a Santa Sé, reforçado pela sagração do bispo pró-comunista de Jining,[36]
a polícia marxista não hesita reprimir os manifestantes. Através de um
abaixo-assinado, os estudantes católicos imploraram ao Papa Francisco (quando
ele sobrevoou Hong Kong) que interviesse para fazer cessar as violências, mas
não se sabe se receberam qualquer atendimento. Além
de sediar 290 escritórios centrais asiáticos de empresas americanas e o
consulado-geral dos EUA em Hong Kong ter status de embaixada. Por isso o
conflito passou a ser chave na maior disputa geopolítica e econômica do século XXI
entre a China e os EUA. Essa confrontação abalou fortemente a economia mundial
durante todo o ano, com consequências relevantes para o Brasil. As provocações navais
chinesas contra a VI Frota americana estacionada no Mar do Sul da China se
multiplicaram, e no fim do ano se falava de uma exibição de força americana
para diminuir a ingerência de Pequim em Hong Kong. O poder marxista vetou a
ancoragem de naves de guerra dos EUA na cidade, como já havia se tornado habitual.
Degradação do tônus da vida pública
O
presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pedia um “lugar especial
no inferno” para os cidadãos que não concordassem com a União Europeia
Foi muito pronunciada neste ano a decomposição do relacionamento humano,
até mesmo na linguagem política. O voto de cidadãos conservadores, que na
Europa aspiravam pelo retorno da compostura e da tradição, foi recebido com
reações até grosseiras por parte do macrocapitalismo publicitário. Mas a
ascensão de líderes nacionalistas, que prometiam restaurar a cultura e a boa
ordem de seus países, não elevou o tom de respeito e decoro que os eleitores
aguardavam. Paradoxalmente, inauguraram um estilo tempestuoso, por vezes acentuadamente
áspero e até boca-suja, que espantou os cidadãos honrados e expôs à
desmoralização as propensões conservadoras que progrediam nas almas de bem. Em
fevereiro, por exemplo, nas manchetes dos jornais“líderes italianos e franceses trocavam injúrias por eleição do
Parlamento europeu”.[37] O
presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pedia um “lugar especial no inferno” para os
cidadãos que não concordassem com a União Europeia; e os líderes nacionalistas
o tratavam de “valentão
arrogante”.
Por respeito ao leitor e à moral católica, omitimos as injúrias, os falsos
testemunhos, palavrões e insultos obscenos que inundaram a grande mídia,
inclusive no Brasil.
No dia 3 de outubro uma sangrenta explosão revolucionária conflagrou as ruas de Quito
A queda dos
esquemas de governos chavistas-bolivarianos desvendou uma formidável máquina de
corrupção envolvendo políticos, empresas e organizações que desviaram bilhões
dos cofres públicos, com objetivos inconfessáveis. O macrocapitalismo
publicitário, que ainda em 2019 consagrou espaços imensos a essas desordens,
pouco ou nada focalizou a participação neles dos “movimentos populares”, ONGs,
organizações ligadas a grupos narcoguerrilheiros como as Farc, e/ou promotoras
das invasões ligadas às reformas de estrutura, revoltas e sabotagens indigenistas,
ambientalistas e quilombolas. A macromídia fez descer um véu de silêncio sobre a
tropa de choque da revolução lulopetista-bolivariana, na qual sobressaíram os “movimentos
populares” criados por conferências episcopais, como por exemplo o MST e o
CIMI. Dissimuladamente, a panóplia incendiária desses “movimentos populares” pôde
então se rearticular sob o guarda-chuva prestigioso de pontifícias academias vaticanas,
e ser apresentada em livro, pelo Papa Francisco, como a alavanca da mudança
social que está por vir.[38] No dia 3 de
outubro uma sangrenta explosão revolucionária conflagrou as ruas de Quito, e pelo
fim do ano o mesmo esquema de agitação ardia em países vizinhos. Aproveitando o
véu de silêncio que se estendeu sobre os “movimentos populares” e a distensão
natural produzida pelo avanço conservador, a subversão populista reapareceu articulada
e agressiva. Havia sido espalhado que Cuba se abria gradualmente ao capitalismo,
mas em outubro a ilha prosseguia imersa na pior das misérias. A gasolina já não
vinha mais da Venezuela, que não a possuía nem para si mesma,
embora fora grande produtora de petróleo. Em ambos os países, as fábricas
estatais cortavam dias e horários de trabalho; as aulas eram suspensas em escolas e universidades; o sistema elétrico
beirava o colapso; impunha-se no campo o retorno à tração animal; os contêineres não saíam dos
portos, porque não havia diesel para os caminhões; os alimentos estavam em clamorosa falta. O que faziam os
responsáveis cubanos e venezuelanos? Dedicavam-se a treinar agitadores, que
viriam à América do Sul para atear revoluções. No início de outubro, testemunhas
presenciais equatorianas relataram que a onda de violência que paralisou Quito,
sob o pretexto de aumento da gasolina, era chefiada por militares cubanos e
venezuelanos, e engrossadas por militantes de ‘movimentos populares’ e
indígenas montados outrora pelo presidente ‘bolivariano’ Correa. Em Quito, paróquias
serviam de quartéis aos agitadores, onde recebiam recursos até do arcebispado, que
é alinhado com as pregações anticapitalistas do Papa Francisco. Em tempos de
Sínodo Pan-amazônico, magotes de índios revoltados fizeram reféns 47 soldados
na província de Chimborazo.[39]
Segundo o alto escalão do governo americano, o bloqueio rodoviário do transporte
público e os confrontos com as autoridades foram promovidos pelo “pessoal do Correa, com seus amigos da Venezuela e de Cuba”.[40]
Diretor da subversão confessa
Violentas
manifestações no Chile derivaram em sacrílegos ataques a igrejas em
várias cidades do país e destruição de imagens sacras
Diosdado
Cabello, número 2 daNomenklaturavenezuelana, saudou
ironicamente a “brisita bolivariana que está
se registrando em alguns países, como Equador, Peru, Argentina, Colômbia,
Honduras e Brasil”.[41]
E deu a entender que Moscou, Havana e Caracas estão planejando ainda mais. Os
venezuelanos emigrantes seriam 4,6 milhões, segundo a OEA, e nesse fluxo teriam
passado agitadores que, após caotizarem o Equador, foram parar no Chile e na
Bolívia. A rede
subversiva montada no Equador — sede também da Rede Pan-Amazônica (REPAM),
responsável pela promoção do Sínodo — ficou em dormência, aguardando instruções:
recrutou ex-guerrilheiros das FARC, inconformados com os “acordos de paz”; acolheu
os treinadores cubanos e venezuelanos; estocou armamentos de ponta, capturados
pelas Forças Armadas; reuniu e adestrou indígenas animados pelo iminente Sínodo.
Muitos ativistas de segundo escalão conservaram seus postos no governo, que
continuava dissimuladamente bolivariano, ou se acobertaram nas
sacristias ligadas à Teologia da Libertação. Foram denunciados também voos
charters de silenciosos homens jovens, que desembarcaram no Equador, por
vezes rumando para outros países, acobertados por autoridades locais cúmplices,
que não lhes exigiam identificação.
O anárquico panorama chileno
O segundo assalto
ocorreu no Chile, e de modo espetacular: cerca de 1,2 milhão de
manifestantes
fizeram um protesto histórico, aduzindo argumentos econômicos.
Inicialmente “pacíficos”,
foram logo completados por violências inauditas, como atear fogo em
estações de
metrô, em centenas de supermercados e mercadinhos de bairro, destruição
de agências
bancárias “símbolos do capitalismo”, saque de lojas, incêndio em
universidades,
e por fim se investiram satanicamente contra catedrais e igrejas
católicas, arrancando
imagens para despedaçá-las em cenas que evocavam a revolução
bolchevista, a
guerra civil espanhola ou a revolução cultural de Mao Tsé-Tung.
Agitadores
venezuelanos morreram nos confrontos com a polícia, levando o presidente
Sebastián Piñera a declarar que o país estava “em guerra”.[42]
Na Bolívia, cai Evo Morales, depois do escandalosa fraude nas eleições presidenciais
Ofensiva sai à rua em outros países
O terceiro passo
da marcha revolucionária deu-se na Bolívia. Uma lúcida reação popular havia
banido Evo Morales, após uma fraudulenta tragicomédia eleitoral. Ele havia deixado
uma rede subversiva, que logo saiu às ruas com grande agressividade, causando
considerável número de mortos. Morales reconheceu o trabalho de opinião pública
feito pelos inspiradores teológicos e sociológicos que articularam o
bolivarianismo. Seu produto mais típico estaria no Chile, onde novas gerações
materialmente satisfeitas surpreendem com um anarquismo inédito no país: “Nós fizemos essa nova classe média”,[43]
reconheceu Morales. E completou: “Quero a
presença da Rússia na América Latina”.[44]
Com o ex-presidente fugitivo, a Bolívia terá eleições convocadas por um governo
transitório antiesquerdista, que reclama contra a ingerência de agitadores
profissionais enviados pela Venezuela. Morales se instalou na Argentina
para dirigir de perto as agitações em seu país[45]. Não tardou para que
a mesma rede teleguiada de Havana e Caracas tentasse análoga agressão na
Colômbia, durante uma greve geral realizada em 21 de novembro, em que cerca de
três mil indígenas foram conduzidos por narcoguerrilheiros das Farc utilizando
explosivos. A “greve nacional” apresentava “260
exigências mínimas [não atendidas] das Farc”; que a polícia
antidistúrbios fosse
confiada aos indígenas; e a promulgação de uma nova Constituição —
exigências
apoiadas por muitos bispos, e para as quais o governo pareceu receptivo.
A candidata do Partido Verde, Claudia López, representante da
militância LGBT, ganhou a prefeitura de Bogotá, prenunciando uma
avançada nacional
contra a moral familiar e a favor do comunismo ecológico.[46]
Na Nicarágua, partidários do
presidente-guerrilheiro Daniel Ortega invadiram a Catedral de Manágua para
apoiar mães de presos políticos, enquanto a
Organização dos Estados Americanos (OEA) acusava Ortega de “tornar inviável o funcionamento democrático
do país”.[47] Em
novembro, a ascensão à presidência uruguaia do candidato de centro-direita
Lacalle Pou introduziu uma exceção à tendência continental, embora tenham
ocorrido rumores de próximas explosões “populares”, como as dos países
mencionados.
Brasil e Argentina na nova onda vermelha
Assim
que foi solto, falando no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo,
Lula disse ser preciso imitar o Chile: “atacar e não apenas se defender”
Nos dois
principais países do continente, a “brisita” subversiva se insinuou com a volta
de Lula e a eleição de Alberto Fernández para presidente na Argentina. No
Brasil, em 7 de novembro, o STF aprovou uma medida que liberou do cárcere o
ex-presidente Lula da Silva e alguns de seus correligionários condenados por delitos
análogos, medida que favoreceu também numerosos outros detentos.[48]
As esquerdas mundiais imaginaram que a soltura dos presos desencadearia uma
onda que confluiria com a luta de classes nos países vizinhos. Assim que foi
solto, falando no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo, Lula disse ser
preciso imitar o Chile: “atacar e não
apenas se defender”.[49]
A incitação foi vã, pois o público brasileiro não quer saber de agressão e não o
ouviu. Em novembro, Lula da Silva teve a pena
aumentada em outro processo de corrupção e lavagem de dinheiro, que o condenou a
17 anos e um mês de prisão (caso do sítio de Atibaia). A
defesa viu na sentença dos desembargadores uma “afronta” ao STF, acirrando uma
crise até no Judiciário,[50]
desmoralizando ainda mais a imagem do líder outrora endeusado pelas esquerdas,
e também a daquela alta corte. Na
Argentina, galgou em outubro a presidência o candidato proposto pelo Papa
Francisco, em reunião a portas fechadas no Vaticano com líderes esquerdistas do
velho lulochavismo. A votação contradisse a evidência das multidões, que se
reuniram a favor e contra o candidato das esquerdas. O eleito mostrou astúcia,
visitando chefes de Estado de orientação econômica social-democrática, mas
favorecedores da agenda antifamiliar e LGBT, como Macron e López Obrador, e
trocou sinais aparentemente conciliadores com o presidente Trump e o FMI. Fernández
aprovou o “aborto livre”, enquanto o
Papa Francisco recebia a primeira dama
argentina, nomeou funcionários processados aplicando o conceito de lawfare do Papa, apressou a libertação
de políticos condenados por corrupção e anunciou o retorno do dirigismo
econômico. Os
ativistas piqueteros julgaram ter chegado sua hora, mas tiveram pouco
eco popular, e o próprio Fernández pediu prudência. As esquerdas católico-comunistas
comemoraram a vitória populista, pois ela ensejaria uma visita do Papa
Francisco, inexplicavelmente nunca efetivada, pois suas propensões pessoais
comuno-peronistas poderiam reforçar o novo governo. O pontífice nunca quis
visitar seu país, informado por seguidores muito próximos de que o ânimo da
opinião pública argentina lhe era contrário. E, nova decepção: confirmou que
não iria a seu país nem com Fernández, alegando problemas de agenda, mas
reconhecendo privadamente que não havia ambiente para ele.
Notre-Dame em chamas: símbolo de 2019? Ou de 2020?
No
dia 15 de abril, um furioso incêndio de causas ainda não esclarecidas consumiu
o telhado e a grande agulha da catedral de Notre-Dame de Paris. A “Bíblia de
Pedra”, que durante oito séculos
resistira a toda espécie de guerras, revoluções e intempéries, esteve a ponto de ruir, deixando o mundo
estupefato. A catástrofe simbolizou a grave crise que devora aquilo que o
grande templo representa: a própria Igreja Católica. Juntamente com o
Santíssimo Sacramento, foram quase milagrosamente salvas suas mais preciosas
relíquias, como a Coroa de Espinhos e a túnica de São Luís, bem como suas mais
famosas imagens e vitrais. Esta proteção soou como uma promessa da futura
restauração católica depois da infernal “penetração da fumaça de Satanás no
templo”, tantas vezes rememorada. Mas as ruínas fumegantes da catedral viraram
alvo de polêmica sobre o rumo que a Revolução gnóstica e igualitária, manipuladora
das esferas eclesiástica e temporal, deseja impor ao mundo. Sob o pretexto de
modernizar a catedral, o presidente francês Emmanuel Macron acenou com um “gesto arquitetônico contemporâneo”,[51] tendo sido adiantados projetos de cunho ecologista e até tribalista,
que deformariam grotescamente a catedral gótica. Em sentido contrário, imenso
setor da população parisiense, francesa e mundial clamou por uma restauração “à l’identique” (segundo o modelo
original da Idade Média), acrescido de aperfeiçoamentos congruentes dos séculos
posteriores, e requintado no século XIX pelo genial arquiteto Eugène
Viollet-le-Duc (1814-1879). A disputa envolve a
grande questão que lavra no fundo das almas que ainda têm senso moral e
racional: sairmos da crise, sim, mas para onde? Para uma nova era que seria algo
análogo a uma Idade Média arqui-requintada, ou afundarmos no precipício da
anarquia ecológica e comuno-tribalista?
A escolha para 2020: anarquia eco-tribal ou Cristandade
Quando
Viollet-le-Duc projetou uma flecha com mais de 160 metros no transepto de Notre-Dame,
muitos o recriminaram por não respeitar o modelo original, muito menor. O
arquiteto respondeu que a perfeição da restauração consiste em elevar o prédio
a um nível que seus construtores sonharam, mas não conseguiram. E a polêmica
agulha tornou-se o mais genuíno e requintado espírito da catedral de Paris.
Quando as chamas a reduziram a ruínas, foi como se a estrutura do universo
tivesse sido abalada. A salvação milagrosa do coq de France — o galo da França, que coroava seu topo com as relíquias
da Coroa de Espinhos e dos padroeiros de Paris, São Denis e Santa Genoveva — sinalizou
que uma nova esplendorosa restauração deveria ser realizada. Mas logo se
pronunciaram os que querem deturpar a catedral, instalando um telhado com
fortes notas ecológicas, tribais ou psicodélicas. E a grande opção se pôs de
frente: Notre-Dame será deformada e virará símbolo de um estado de coisas
ecológico e tribalista, meio alucinado, que renega seu passado católico
medieval? A discussão em
andamento condensa a grande alternativa posta ao mundo em 2019 pela imensidade
das ruínas da Cristandade. Vamos para a
taba primitiva, supersticiosa e imoral das tribos mais decadentes das selvas,
como foi pregado no Sínodo Pan-amazônico? É para ela que trabalham os intelectuais
e agitadores que incendeiam igrejas, casas e lojas em seus países? Ou vamos para
a restauração da ordem? Para ela pretendem caminhar todos os que a compreendem
conforme a magistral definição do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Por Ordem entendemos a paz de Cristo no
reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica,
fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal”.[52] Essa foi a
grande alternativa que a Providência Divina, por meio da linguagem dos fatos de
2019, apresentou à humanidade e à Igreja Católica em crise. A necessidade de
escolher se tornará cada vez mais insistente e cruciante, na medida em que se
aprofundarem os processos históricos em curso. Iremos todos escolher
bem? Seguramente sim, pois Nossa Senhora em Fátima prometeu: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
Escolheremos com presteza a boa opção, a fim de nos prepararmos para os
castigos que Ela também previu em Fátima, e que parecem prontos para desabar a qualquer
momento? Depende de cada um de nós. O melhor, portanto, é olharmos o ano de 2020
como o momento de escolher a grande, sublime e salvadora opção. Dado muito
alentador neste panorama é que no último ano aumentou significativamente a
devoção popular a Nossa Senhora. Seus santuários se multiplicam e ficam repletos
de fiéis nas festas da Mãe de Deus. Só no México, em dezembro último, mais de10
milhões de filhos foram implorar auxílio à boa Mãe. Qual mãe jamais
se viu que não queira eficazmente a salvação de seus filhos? E, se os vê em
perigo ou perdidos, a mesma perdição lhe serve de motivo para procurar todos os
meios de salvá-los. Em nossas almas Sua voz murmura: Eu sou Advogada e posso tudo, em Mim
reside o reflexo perfeito da bondade incriada e absoluta. Pedi, pois, a
minha intercessão: Eu quero dar porque sou boa; desejo conceder porque
sou Mãe; e posso dar porque sou Rainha. Isso, meus filhos, Eu darei. (Fonte: Revista Catolicismo, Nº 829, Janeiro/2020. [1]) ACI, 30-12-2018. [2]) Infovaticana, 27-12-2018. [3]) Folha de S. Paulo, 2-1-2019. [4]) El País, 13-1-2019. [5]) Il Messaggero, 9-1-2019. [6]) Infocatólica, 8-1-2019. [7]) Infovaticana, 12-1-2019. [8]) Folha de S. Paulo, 26-1-2019. [9]) Rai News, 12-2-2019. [10]) Lepanto Foundation, 10-2-2019. [11]) ACI, 10-2-2019. [12]) Duc in altum, 25-1-2019. [13]) Infocatho, 12-4-2018. [14]) La Croix, 14-11-2018. [15]) La Nuova Bussola Quotidiana, 03-12-2019. [16]) O Estado de S. Paulo, 21-2-2019. [17]) ACI, 3-7-2019. [18]) ACI, 21-7-2019. [19]) ACI, 26-9-2019. [20]) Breitbart, 23-9-2019. [21]) ACI, 16-7-2019. [22]) ACI, 20-8-2019. [23]) O Estado de S. Paulo, 28-8-2019. [24]) O Estado de S. Paulo, 31-8-2019. [25]) ACI, 31-10-2019. [26]) ACI, 16-11-2019. [27]) O Globo, 28-10-2019. [28]) La Nuova Bussola Quotidiana, 18-5-2019. [29]) LifeSiteNews, 5-5-2019. [30]) LifeSiteNews, 6-11-2019. [31]) Infovaticana, 27-5-2019. [32]) Le Monde, 6-12-2019. [33]) O Globo, 14-7-2019. [34]) The Telegraph, 12-12-2019. [35]) The New York Times, 13-12-2019. [36]) ACI, 27-8-2019. [37]) O Globo, 4-2-2019. [38]) Vatican News, 19-8-2019. [39]) O Globo, 6-10-2019. [40]) O Estado de S. Paulo, 11-10-2019. [41]) Infobae.com, 8-10-2019. [42]) O Estado de S. Paulo, 22-10-2019. [43]) Folha de S. Paulo, 2-12-2019. [44]) La Nación, 4-12-2019. [45]) Clarín, 13-13-2019. [46]) O Estado de S. Paulo, 29-10-2019. [47]) O Globo, 20-11-2019. [48]) O Estado de S. Paulo, 8-11-2019. [49]) https://congressoemfoco.uol.com.br/justica/ao-vivo-lula-discursa-no-sindicato-dos-metalurgicos/ [50]) O Estado de S. Paulo, 26-11-2019. [51]) Folha de S. Paulo, 15-5-2019. [52]) Plinio Corrêa de Oliveira, “Revolução e Contra-Revolução”, Artpress –
São Paulo – 1998, Parte II, cap. II.
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