Religiões hegemônicas costumam considerar que sua perspectiva é superior a de outras crenças
Como é possível dialogar com alguém quando já se parte do pressuposto de que o outro me é inferior? (Ben White/ Unsplash) |
Por Fabrício Veliq*
A soberba, conhecida como um dos 7 pecados capitais, tem por sinônimo a
arrogância. Em outras palavras, a pessoa soberba é aquela que se
considera melhor que as outras, superior a elas, que se vê em uma
posição elevada em relação a qualquer outra que cruze o seu caminho.
Pessoas soberbas, geralmente, não são bem quistas, sendo mais
suportadas do que desejadas nos diversos grupos das quais fazem parte.
Da mesma forma, por se considerarem melhores e superiores às outras, na
maioria das vezes, não estão dispostas a ouvir posições diferentes das
suas. Acham que determinada opinião ou determinado conhecimento não
cooperarão em nada para seu crescimento ou amadurecimento. Na verdade,
soberbos acreditam piamente que já alcançaram o máximo de conhecimento
que se possa ter em determinado assunto colocado.
Da mesma forma que pessoas que se tornam soberbas, também as religiões podem seguir pelo mesmo caminho. Podem ter a mesma atitude de se considerar superiores às outras e de se achar conhecedoras de todas as verdades do universo, não estando dispostas, portanto, a ouvir o que as outras religiões têm a dizer a respeito do mundo, de Deus, e das origens e futuro do universo e da humanidade.
O cristianismo no Ocidente, desde muito tempo (e ainda hoje em muitos lugares), mostrou-se soberbo, crendo ser a única religião correta, que sabia sobre todos os segredos da realidade humana, celestial e espiritual. Como consequência, passou a se considerar superior às outras, tapando seus ouvidos aos pensamentos divergentes do que pregava, desmerecendo os conhecimentos trazidos por religiões muito mais antigas, tais como as de matriz oriental ou indígena, o que gerou diversos massacres em nome de Deus na história.
Assim como o cristianismo, outras religiões também tiveram as mesmas atitudes nos lugares em que se tornaram hegemônicas e permanecem assim até os dias atuais. Passaram a perseguir e matar os que pensam de forma diferente do que dizem, a privá-los de seus direitos e levar terror às suas vidas e famílias. Infelizmente, são diversas as que, em alguns dos seus segmentos, ainda fomentam atitude soberba em relação às outras, o que se torna um grande impeditivo para o diálogo inter-religioso.
Como sabemos, para que haja diálogo é imprescindível que as partes que dele fazem parte considerem-se mutuamente como portadores da dignidade de ser ouvidos, as mesmas que acreditam possuir. Em outras palavras, só há diálogo se as partes se considerarem iguais em direito de fala, mas não superiores umas às outras. Dessa forma, não há espaço para a soberba em uma postura dialogal.
Na verdade, a soberba se mostra como um grande impeditivo para que um diálogo inter-religioso aconteça. Afinal, como é possível dialogar com alguém quando já se parte do pressuposto de que o outro me é inferior? Das duas uma: ou se ouve a este que se considera inferior como ato de “bondade” – tal como se ouve uma criança explicando sobre alguma experiência que teve – ou para pegar os erros na argumentação e daí “ensinar o caminho correto”. Nas duas opções o que há não é diálogo; antes, postura soberba em relação ao outro.
O diálogo inter-religioso, tão necessário em dias atuais, só pode existir se as religiões deixarem de lado a soberba e passarem a considerar umas às outras como iguais em direito de fala, compreendendo que sendo diferentes falarão das realidades de formas diferentes.
Isso, por sua vez, não tem a ver com abrir mão de sua própria identidade religiosa. Muito pelo contrário, é na manutenção da própria identidade que é possível um diálogo que visa o enriquecimento e o crescimento mútuo, de maneira que as religiões cumpram seu papel de serem luz e norte em um mundo cada vez mais desorientado e que caminha, muitas vezes, tateando na escuridão.
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*Fabrício Veliq é protestante e teólogo. Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), Doctor of Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bacharel em Filosofia e Licenciado em Matemática (UFMG) E-mail: fveliq@gmail.com
Fonte - domtotal
Da mesma forma que pessoas que se tornam soberbas, também as religiões podem seguir pelo mesmo caminho. Podem ter a mesma atitude de se considerar superiores às outras e de se achar conhecedoras de todas as verdades do universo, não estando dispostas, portanto, a ouvir o que as outras religiões têm a dizer a respeito do mundo, de Deus, e das origens e futuro do universo e da humanidade.
O cristianismo no Ocidente, desde muito tempo (e ainda hoje em muitos lugares), mostrou-se soberbo, crendo ser a única religião correta, que sabia sobre todos os segredos da realidade humana, celestial e espiritual. Como consequência, passou a se considerar superior às outras, tapando seus ouvidos aos pensamentos divergentes do que pregava, desmerecendo os conhecimentos trazidos por religiões muito mais antigas, tais como as de matriz oriental ou indígena, o que gerou diversos massacres em nome de Deus na história.
Assim como o cristianismo, outras religiões também tiveram as mesmas atitudes nos lugares em que se tornaram hegemônicas e permanecem assim até os dias atuais. Passaram a perseguir e matar os que pensam de forma diferente do que dizem, a privá-los de seus direitos e levar terror às suas vidas e famílias. Infelizmente, são diversas as que, em alguns dos seus segmentos, ainda fomentam atitude soberba em relação às outras, o que se torna um grande impeditivo para o diálogo inter-religioso.
Como sabemos, para que haja diálogo é imprescindível que as partes que dele fazem parte considerem-se mutuamente como portadores da dignidade de ser ouvidos, as mesmas que acreditam possuir. Em outras palavras, só há diálogo se as partes se considerarem iguais em direito de fala, mas não superiores umas às outras. Dessa forma, não há espaço para a soberba em uma postura dialogal.
Na verdade, a soberba se mostra como um grande impeditivo para que um diálogo inter-religioso aconteça. Afinal, como é possível dialogar com alguém quando já se parte do pressuposto de que o outro me é inferior? Das duas uma: ou se ouve a este que se considera inferior como ato de “bondade” – tal como se ouve uma criança explicando sobre alguma experiência que teve – ou para pegar os erros na argumentação e daí “ensinar o caminho correto”. Nas duas opções o que há não é diálogo; antes, postura soberba em relação ao outro.
O diálogo inter-religioso, tão necessário em dias atuais, só pode existir se as religiões deixarem de lado a soberba e passarem a considerar umas às outras como iguais em direito de fala, compreendendo que sendo diferentes falarão das realidades de formas diferentes.
Isso, por sua vez, não tem a ver com abrir mão de sua própria identidade religiosa. Muito pelo contrário, é na manutenção da própria identidade que é possível um diálogo que visa o enriquecimento e o crescimento mútuo, de maneira que as religiões cumpram seu papel de serem luz e norte em um mundo cada vez mais desorientado e que caminha, muitas vezes, tateando na escuridão.
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*Fabrício Veliq é protestante e teólogo. Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), Doctor of Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bacharel em Filosofia e Licenciado em Matemática (UFMG) E-mail: fveliq@gmail.com
Fonte - domtotal
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