sábado, 13 de junho de 2020

João Paulo II e o Inferno

Hoje o inferno é um assunto proibido. Apesar de fazer parte da doutrina católica, e muito importante, já que é sobre a eternidade, dificilmente é mencionada. Essa verdade desapareceu das homilias, da catequese, mesmo naquelas onde se fala da morte. Não vamos mais falar sobre funerais.





Mas nem sempre foi assim. Sem recorrer a períodos remotos, podemos recuperar a catequese dedicada a esse problema. Há 21 anos, em 28 de julho de 1999, João Paulo II dedicou a audiência geral de quarta-feira ao inferno.

"Deus é infinitamente bom e misericordioso Pai", disse o Papa, mas, infelizmente, continuou João Paulo II, o homem "pode ​​optar por rejeitar definitivamente seu amor e perdão, renunciando assim à comunhão alegre com ele para sempre".

"Precisamente esta situação trágica é o que a doutrina cristã indica quando fala de condenação ou inferno", disse o pontífice. “Não é um castigo de Deus infligido de fora, mas o desenvolvimento de premissas já estabelecidas pelo homem nesta vida. A mesma dimensão de infelicidade que essa condição sombria acarreta pode ser intuída, de certa maneira, à luz de algumas de nossas terríveis experiências, que transformam a vida, como se costuma dizer, em 'inferno'", explicou.

O inferno “é a consequência última do próprio pecado, que se volta contra quem o cometeu. É a situação em que quem rejeita a misericórdia do Pai é colocado definitivamente, mesmo no último momento de sua vida". A redenção "continua a ser uma oferta de salvação que corresponde ao homem para receber com liberdade", disse João Paulo II.

O inferno, mais que um lugar, indica a situação em que alguém que se distancia livre e definitivamente de Deus, fonte de vida e alegria, se encontra. É assim que o Catecismo da Igreja Católica resume os dados de fé sobre este assunto: “Morrer no pecado mortal sem se arrepender ou aceitar o amor misericordioso de Deus significa permanecer separado dele para sempre por nossa livre escolha. Esse estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados é o que é designado pela palavra inferno" (n. 1033).

Por essa razão, "condenação" não deve ser atribuída à iniciativa de Deus, pois em seu amor misericordioso ele só pode querer a salvação dos seres que criou. Na verdade, é a criatura que está fechada ao seu amor. A "condenação" consiste precisamente no fato de que o homem se afasta definitivamente de Deus, por livre escolha e confirmado com a morte, que sela essa opção para sempre. O julgamento de Deus ratifica esse estado.

"A condenação continua sendo uma possibilidade real, mas não nos é dado saber, sem revelação divina especial, quais seres humanos realmente foram implicados nela".

O pensamento do inferno, advertiu o Santo Padre, “não deve criar psicose ou angústia; mas representa uma exortação necessária e saudável à liberdade ”.

Oferecemos-lhe a catequese completa, publicada pelo Vaticano:

Inferno como rejeição definitiva de Deus

  1. Deus é infinitamente bom e misericordioso Pai. Infelizmente, porém, o homem, chamado a responder em liberdade, pode optar por rejeitar definitivamente seu amor e perdão, renunciando assim para sempre à comunhão alegre com ele. Precisamente essa situação trágica é o que a doutrina cristã indica quando fala de condenação ou inferno. Não é um castigo de Deus infligido de fora, mas o desenvolvimento de premissas já estabelecidas pelo homem nesta vida. A mesma dimensão de infelicidade que essa condição sombria acarreta pode ser intuída, de certa forma, à luz de algumas de nossas terríveis experiências, que tornam a vida, como se costuma dizer, "um inferno".

Ainda assim, no sentido teológico, o inferno é algo muito diferente: é a conseqüência última do próprio pecado, que se volta contra quem o cometeu. É a situação em que quem se coloca definitivamente rejeita a misericórdia do Pai, mesmo no último momento de sua vida.

  1. Para descrever essa realidade, as Escrituras Sagradas usam linguagem simbólica, que se tornará progressivamente mais precisa. No Antigo Testamento, a condição dos mortos ainda não estava totalmente iluminada pelo Apocalipse. De fato, pensava-se que os mortos se encontravam no sheol, um lugar de trevas (cf. Es 28: 8; 31: 14; Jb 10: 21ss; 38, 17; Sl 30: 10; 88). 7. 13), um poço do qual não se pode sair (cf. Jb 7, 9), um lugar onde não é possível dar glória a Deus (cf. Is 38, 18; Sl 6, 6).

O Novo Testamento lança nova luz sobre a condição dos mortos, anunciando especialmente que Cristo, com sua ressurreição, venceu a morte e estendeu seu poder libertador também no reino dos mortos.

No entanto, a redenção continua a ser uma oferta de salvação que corresponde ao homem para acolher com liberdade. Portanto, cada um será julgado "de acordo com suas obras" (Ap 20:13). Usando imagens, o Novo Testamento apresenta o local destinado aos trabalhadores da iniqüidade como fornalha ardente, onde "será o choro e o ranger de dentes" (Mt 13, 42; cf. 25, 30. 41) ou como a geena. de "fogo que não se apaga" (Mc 9:43). Tudo isso é expresso, na forma de uma narrativa, na parábola da rica epulona, ​​na qual se especifica que o inferno é o lugar final da tristeza, sem possibilidade de retorno ou mitigação da dor (cf. Lc 16, 19-31).

O Apocalipse também representa plasticamente em um "lago de fogo" aqueles que não estão registrados no livro da vida, encontrando assim uma "segunda morte" (Ap 20, 13ss). Consequentemente, aqueles que persistem em não se abrir ao Evangelho, predispõem-se a "uma ruína eterna, longe da presença do Senhor e da glória de seu poder" (2 Ts 1, 9).

  1. As imagens com as quais as Escrituras Sagradas apresentam o inferno devem ser interpretadas corretamente. Expressam a completa frustração e vazio de uma vida sem Deus. O inferno, mais que um lugar, indica a situação em que alguém que se distancia livre e definitivamente de Deus, fonte de vida e alegria, se encontra. É assim que o Catecismo da Igreja Católica resume os dados de fé sobre este assunto: “Morrer no pecado mortal sem se arrepender ou aceitar o amor misericordioso de Deus significa permanecer separado dele para sempre por nossa livre escolha. Esse estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados é o que é designado pela palavra inferno" (n. 1033).

Por essa razão, "condenação" não deve ser atribuída à iniciativa de Deus, pois em seu amor misericordioso ele só pode querer a salvação dos seres que criou. Na verdade, é a criatura que está fechada ao seu amor. A "condenação" consiste precisamente no fato de que o homem se afasta definitivamente de Deus, por livre escolha e confirmado com a morte, que sela essa opção para sempre. O julgamento de Deus ratifica esse estado.

  1. A fé cristã ensina que, sob o risco de "sim" e "não", que caracteriza a liberdade das criaturas, alguém já disse "não". Estas são as criaturas espirituais que se rebelaram contra o amor de Deus e são chamadas de demônios (cf. Conselho Lateranense IV: DS 800-801). Para nós, seres humanos, essa história ressoa como um aviso: continuamente nos exorta a evitar a tragédia em que o pecado termina e a viver nossa vida segundo o modelo de Jesus, que sempre dizia "sim" a Deus.

A condenação continua sendo uma possibilidade real, mas não nos é dado saber, sem revelação divina especial, quais seres humanos realmente foram implicados nela. O pensamento do inferno - muito menos o uso indevido de imagens bíblicas - não deve criar psicose ou angústia; mas representa uma exortação necessária e saudável à liberdade, no anúncio de que Jesus ressuscitado venceu Satanás, dando-nos o Espírito de Deus, que nos faz invocar "Abba, Pai" (Rm 8:15; Gl 4: 6).

Essa perspectiva cheia de esperança prevalece na proclamação cristã. Isso se reflete efetivamente na tradição litúrgica da Igreja, como testemunha, por exemplo, pelas palavras do cânon romano: "Aceite, Senhor, em sua bondade, esta oferta de seus servos e de toda a sua sagrada família (...), nos livre de condenação eterna e conte-nos entre os seus escolhidos".


Fonte - INFOVATICANA

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