Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Cem anos atrás, três crianças pastoras em Portugal tiveram uma visão
do inferno que as horrorizou tanto a ponto de pensarem que fossem
morrer. Viram elas "um grande mar de fogo" onde iam mergulhados "os
demônios e as almas" que, em vida, se tinham oposto a Deus e aos seus
caminhos. Eles eram "como se fossem brasas transparentes e negras ou
bronzeadas", "que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas
mesmas saíam", "caindo para todos os lados", "entre gritos e gemidos de
dor e desespero".
Foi Nossa Senhora de Fátima quem mostrou às crianças a visão
aterrorizante do inferno, lugar "para onde vão as almas dos pobres
pecadores". Disse-lhes ainda a Virgem que "vão mais almas para o inferno por causa dos pecados da carne do que por qualquer outra razão".
Os cristãos sempre entenderam os pecados da carne como aquelas ações que
constituem um mau uso ou um abuso da sexualidade enquanto dom de Deus.
As relações sexuais foram criadas por Ele para serem entre um homem e
uma mulher, unidos um ao outro no fiel, exclusivo, permanente e fecundo
relacionamento do Matrimônio. Pecados contra o dom da sexualidade
incluem a contracepção, o adultério, a fornicação, a prostituição, a
pornografia, a imodéstia no vestir, a masturbação e a homossexualidade.
Alguns pecados da carne às vezes podem dar origem a outros pecados
sérios, como o aborto, e levar também à infidelidade, ao fracasso
matrimonial e ao divórcio.
O pior de tudo, entretanto, é que os pecados da carne destroem o nosso relacionamento com Deus,
já que o pecador, quando opta por eles, rejeita o plano divino para a
sexualidade e dá as costas, em última instância, ao próprio Deus.
E por que se condenam ao inferno mais almas pelos pecados sexuais que por qualquer outro pecado? Talvez
pela facilidade que há em se cair neles, especialmente na cultura de
hoje, em que o sexo é glorificado como a principal fonte da felicidade
humana.
Como pai de sete crianças, que se preocupa com a salvação dos próprios
filhos, assusta-me observar as mentiras sexuais com que a cultura de
hoje tem tentado envenenar meus filhos. Desde a mais tenra idade,
centros educacionais querem expô-los aos pecados da carne em
cursos de educação sexual, ensinando-lhes como aumentar o prazer sexual
consigo mesmo (masturbação) ou com outros (fornicação,
homossexualidade), e removendo, ao mesmo tempo, o propósito reprodutivo
da atividade sexual (contracepção e aborto). A indústria do
entretenimento quer iniciá-los nos pecados da carne,
especialmente os mais velhos, bombardeando-os com conteúdo sexual
explícito (pornografia, roupas imodestas) — além de manter os adultos
viciados nos pecados da carne, oferecendo-lhes mais do mesmo.
Os governos ao redor do mundo têm se servido até mesmo de sua autoridade
política para resguardarem na lei certos pecados da carne, fazendo com que seja ilegal falar contra eles e alertar as pessoas sobre os seus perigos (homossexualidade).
Como repórter atuante nas linhas de frente do movimento pró-vida, e que
enxerga tudo o que está acontecendo, todos os dias, na batalha pela vida
e pela família, eu às vezes tenho que me perguntar com quem e por quem realmente estou a lutar. É muito fácil cair na armadilha de pensar que minha luta é contra provedores de aborto, contra o lobby
homossexual ou contra governos corruptos, os quais, ainda que sejam
capazes e responsáveis por fazer muito mal, não constituem o inimigo
verdadeiro. Eles são apenas pessoas, como todos nós, incluindo eu, que preciso ser salvo do inferno.
Apraz-me particularmente quando São Paulo escreve que "a nossa luta não é
contra o sangue e a carne, mas contra os principados, as potestades, os
dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados
pelo espaço" (Ef 6, 12). É o diabo e a sua legião de anjos caídos que encaminham homens e mulheres, pelos pecados da carne, para o fogo do inferno.
A irmã Lúcia dos Santos, uma das videntes de Fátima, que viveu muito
mais que os outros dois pastorinhos, escreveu certa vez uma carta ao
Cardeal Carlo Caffarra e nela falou sobre a batalha final entre Deus e
Satanás. "O confronto final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre a família e sobre o matrimônio",
ela escreveu. "Não tenha medo, porque qualquer um que trabalhar pela
santidade do matrimônio e da família será sempre combatido e contrariado
de todos os modos, porque este é o ponto decisivo. No entanto, Nossa
Senhora já lhe esmagou a sua cabeça."
Aqueles que lutam pela vida, pelo Matrimônio e pela família devem
lembrar, por ocasião do centenário das aparições de Nossa Senhora em
Fátima, que a derradeira batalha consiste em salvar as almas do inferno.
Isso significa salvar tanto os escravos dos pecados sexuais quanto os
que lucram com eles, o aborteiro, o produtor pornográfico, o dono do
bordel.
Nossa Senhora de Fátima convidou as crianças a ajudarem as almas por
meio da oração e do sacrifício. A vidente mais nova, Jacinta Marto,
ficou tão comovida com a visão do inferno, e com o fato de que ela podia
fazer alguma coisa para impedir as pessoas de irem para lá, que começou
a fazer sacrifícios pela salvação das almas. Ela não bebia água para
que pudesse oferecer a sua sede. Ela doava o seu lanche da tarde para
que pudesse oferecer a sua fome. Ela usava uma corda áspera, amarrada na
cintura e roçando contra a sua pele, para que pudesse oferecer o seu
desconforto.
A mensagem de Nossa Senhora sobre a realidade do inferno, assim como o
exemplo que nos oferecem essas crianças, mostrando o que podemos fazer
para impedir as pessoas de irem para lá, é algo que toda pessoa lutando
pela vida e pela família precisa levar a sério. A oração ensinada às
crianças deve estar constantemente em nossos lábios: "Ó meu
Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas
para o Céu, e socorrei principalmente as que mais precisarem."
Fonte - padrepauloricardo
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