Ao final de uma semana decisiva de visita ao Vaticano, os responsáveis da Igreja Católica na Alemanha negaram qualquer intenção de cisma. Mas eles também rejeitaram a moratória em seu "Caminho sinodal" proposta pelo Vaticano.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix, 19-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
É o final de um confronto à distância entre os bispos alemães e o Vaticano? Ambos os lados tiveram a oportunidade de esclarecer suas posições no Caminho Sinodal Alemão, iniciado em 2019 pela Igreja Católica na Alemanha para responder à crise aberta pela revelação da grande quantidade de abusos sexuais.
Durante uma semana, de 14 a 18 de novembro, os 67 membros da Conferência Episcopal Alemã e sua secretária-geral, Beate Gilles, se reuniram com os responsáveis da Cúria e o Papa Francisco.
Dias em que foram discutidos os temas mais delicados como a ordenação de mulheres, a bênção de casais homossexuais ou a reforma da moral sexual da Igreja. Ambos os lados, ao que parece, tomaram nota de seus pontos de divergência, segundo foi dito na coletiva de imprensa realizada no sábado, 19 de novembro, pelo presidente do episcopado alemão, D. Georg Bätzing.
O representante dos bispos alemães negou qualquer intenção de cisma, respondendo a uma acusação muitas vezes ouvida no Vaticano. “O cisma não é uma opção. Nunca foi”, reiterou.
“Somos católicos e queremos continuar a ser católicos”.
A Igreja alemã iniciou uma ampla reflexão sobre quatro temas: o exercício do poder na Igreja, os padres, a sexualidade e o papel das mulheres nos ministérios.
O arcebispo Georg Bätzing garantiu à imprensa que a Igreja na Alemanha "não tomará nenhuma decisão que só possa ser assumida pela Igreja universal". Uma forma de garantir que nenhum tema abordado na Alemanha tem a ver, segundo ele, com a doutrina. E acrescentou: “Mas a Igreja na Alemanha deve encontrar respostas para as perguntas que os fiéis apresentam”.
Na realidade, como um todo, a relação entre Roma e Berlim parece ter agora este duplo movimento: evitar tocar na doutrina, mas tentar dar passos em frente. Tentando manter o diálogo e às vezes assumindo "disputatio", como foi o caso, afirmou Beate Gilles, com o cardeal Kurt Koch, que nunca escondeu críticas veementes ao Caminho Sinodal alemão.
Neste espírito, os bispos alemães desejam organizar em breve uma “mesa redonda” que reúna em Roma os responsáveis da Cúria, com os bispos e também os leigos que participam do Caminho Sinodal Alemão. Ainda não se sabe se tal encontro ocorreria antes ou depois do fim do processo iniciado na Alemanha, cuja reunião final está marcada para março de 2023.
Num (raro) comunicado conjunto divulgado na noite de sexta-feira, 18 de novembro, em alemão e italiano, os bispos alemães e o Vaticano falaram de um "diálogo aberto" entre eles sobre o Caminho Sinodal, depois de uma reunião organizada pela manhã entre os responsáveis alemães e alguns prefeitos do dicastério. O Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé, havia diretamente mencionado a “preocupação suscitada pelo Caminho Sinodal ao indicar o risco de reformas da Igreja e não na Igreja”.
Os cardeais Luis Francisco Ladaria, prefeito do dicastério para a doutrina da fé, e Marc Ouellet, responsável do dicastério para os bispos, expressaram "francamente e claramente" suas reservas sobre a "metodologia, conteúdos e propostas" do caminho alemão.
Uma crítica direta, expressa publicamente, à qual os bispos alemães responderam lembrando que esse caminho estava fundamentado “na escuta do Povo de Deus e no luto pelos abusos cometidos por membros do clero”.
“Vários discursos indicaram a centralidade da evangelização e da missão como objetivo último do processo em curso”, lê-se no comunicado.
Durante aquele encontro, o cardeal Ouellet chegou até a propor uma "moratória" do Caminho Sinodal alemão.
“Há o temor de que seja como um incêndio que se espalhe por outros lugares”, reconheceu no dia seguinte D. Georg Bätzing, antes de explicar que o episcopado alemão rejeitou qualquer moratória.
“Dissemos que não era possível”, comentou. "Não faz parte da cultura da sinodalidade". Considerando que isso significaria "intimidar" os fiéis, "causar-lhes medo". "Nunca foi um método certo para a Igreja".
Os cardeais da Cúria expressaram o desejo de ver as propostas alemãs incluídas no Sínodo sobre o futuro da Igreja iniciado pelo papa em outubro de 2015.
Durante a semana, ocorreu um encontro com o papa na quinta-feira, 17 de novembro, que durou duas horas. Francisco havia planejado participar também da reunião do dia seguinte, mas desistiu. “A maioria das questões foi abordada”, disse uma fonte do Vaticano no meio do dia, explicando a decisão papal. Uma maneira de não ser implicado na elaboração de um comunicado comum. Os bispos alemães garantem que o Papa lhes assegurou que as "tensões" são parte integrante da vida da Igreja. Eles retornaram para a Alemanha no sábado, 19 de novembro.
Fonte - unisinos
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