sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

O Papa quer para esta Quaresma que sejamos mais sinodais

A Santa Sé tornou pública a mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma que terá início na próxima quarta-feira, 22 de fevereiro.

mensagem do Papa jejum quaresmal  

 

A mensagem tem como título: 'A ascese quaresmal, um caminho sinodal'Como se diria coloquialmente, temos o Sínodo 'até na sopa'.

Apesar das grandes tensões, problemas e lutas internas que este Sínodo provocador e confuso está causando, o Papa quis centrar sua mensagem quaresmal no caminho sinodal. Não procure menções de oração, jejum ou esmola neste discurso porque você não as encontrará.

Na mensagem quaresmal, o Pontífice afirma que “nos fará bem refletir sobre esta relação que existe entre a ascese quaresmal e a experiência sinodal”.

O Papa usa seu discurso nesta Quaresma para garantir que "o caminho sinodal esteja enraizado na tradição da Igreja e, ao mesmo tempo, aberto à novidade". Também não perde a oportunidade de sublinhar que “a tradição é fonte de inspiração para procurar novos caminhos, evitando as tentações opostas da imobilidade e da experimentação improvisada”.

Oferecemos-lhe a mensagem completa do Papa Francisco para esta Quaresma:

Queridos irmãos e irmãs:

Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas concordam ao relatar o episódio da Transfiguração de Jesus. Neste acontecimento vemos a resposta que o Senhor deu aos seus discípulos quando manifestaram a sua incompreensão sobre Ele. De facto, pouco tempo antes tinha havido um verdadeiro confronto entre o Mestre e Simão Pedro, que, depois de ter professado a sua fé em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus, rejeitou seu anúncio da paixão e da cruz. Jesus o repreendeu fortemente: "Volte, venha atrás de mim, Satanás! Você é um obstáculo para mim, porque seus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens" (Mt 16:23). E «seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a um alto monte» (Mt  17,1).

O evangelho da Transfiguração é proclamado todos os anos no segundo domingo da Quaresma. Com efeito, neste tempo litúrgico, o Senhor leva-nos consigo e leva-nos a um lugar isolado. Mesmo quando os nossos compromissos quotidianos nos obrigam a permanecer onde estamos habitualmente, vivendo um quotidiano muitas vezes repetitivo e por vezes enfadonho, na Quaresma somos convidados a "subir a uma alta montanha" juntamente com Jesus, a viver com o povo santo de Deus uma particular experiência de  ascetismo.

A ascese quaresmal é um compromisso, sempre animado pela graça, para superar a nossa falta de fé e a nossa resistência em seguir Jesus no caminho da cruz. Era exatamente o que Pedro e os outros discípulos precisavam. Para aprofundar o conhecimento do Mestre, para compreender e acolher plenamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si por amor, devemos deixar-nos conduzir por Ele a um lugar deserto e elevado, distanciando-nos da mediocridade e vaidade. É preciso empreender, um caminho de subida, que exige esforço, sacrifício e concentração, como uma caminhada na serra. Estas exigências são importantes também para o caminho sinodal que, como Igreja, nos comprometemos a realizar.

No “retiro” no monte Tabor, Jesus levou consigo três discípulos, escolhidos para testemunhar um acontecimento único. Ele quis que aquela experiência de graça não fosse solitária, mas compartilhada, pois é, afinal, toda a nossa vida de fé. Devemos seguir Jesus juntos. E juntos, como Igreja peregrina no tempo, vivemos o ano litúrgico e, nele, a Quaresma, caminhando com aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado como companheiros de viagem. Analogamente à subida de Jesus e dos seus discípulos ao Monte Tabor, podemos afirmar que o nosso caminho quaresmal é “sinodal”, porque percorremos juntos o mesmo caminho, discípulos do único Mestre. Sabemos, de fato, que Ele mesmo é O Caminho e, por isso, tanto no itinerário litúrgico como no do Sínodo, a Igreja não faz senão entrar cada vez mais plena e profundamente no mistério de Cristo Salvador.

E chegamos ao clímax. O Evangelho diz que Jesus "transfigurou-se na presença deles: o seu rosto brilhou como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz" (Mt 17.2). Aqui está o "cúmulo", a meta do caminho. No final da subida, enquanto estavam no cume da montanha com Jesus, os três discípulos obtiveram a graça de vê-lo na sua glória, resplandecente de luz sobrenatural. Uma luz que não vinha de fora, mas irradiava Dele mesmo. A beleza divina dessa visão foi incomparavelmente maior do que qualquer esforço que os discípulos pudessem fazer para escalar o Tabor. Como em qualquer excursão de montanha exigente, ao subir é necessário manter os olhos fixos no caminho; mas o maravilhoso panorama que se revela no final surpreende e faz valer a pena. Também o processo sinodal muitas vezes parece um caminho árduo, que às vezes pode ser desanimador. Mas o que nos espera no final é sem dúvida algo maravilhoso e surpreendente.

A experiência dos discípulos no monte Tabor foi ainda mais enriquecida quando, juntamente com Jesus transfigurado, apareceram Moisés e Elias, que personificam respectivamente a Lei e os Profetas (cf. Mt 17,3). A novidade de Cristo é o cumprimento da antiga Aliança e das promessas; é inseparável da história de Deus com o seu povo e revela o seu significado profundo. Da mesma forma, o caminho sinodal está enraizado na tradição da Igreja e, ao mesmo tempo, aberto à novidade. A tradição é fonte de inspiração para procurar novos caminhos, evitando as tentações opostas da imobilidade e da experimentação improvisada.

O caminho ascético quaresmal, como o sinodal, tem como meta uma transfiguração pessoal e eclesial. Uma transformação que, em ambos os casos, encontra seu modelo no de Jesus e se realiza pela graça de seu mistério pascal. Para que esta transfiguração aconteça em nós este ano, gostaria de propor dois "caminhos" a seguir para ascender com Jesus e alcançar a meta com Ele.

A primeira refere-se ao imperativo que Deus Pai dirigiu aos discípulos no Tabor, enquanto contemplavam Jesus transfigurado. A voz que se ouviu da nuvem disse: "Escutem-no" (Mt 17.5). Portanto, a primeira indicação é muito clara: ouvir Jesus. A Quaresma é um tempo de graça na medida em que escutamos Aquele que nos fala. E como ele fala conosco? Acima de tudo, na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na liturgia. Não vamos deixar isso cair em ouvidos surdos. Se nem sempre podemos participar da Missa, vamos meditar nas leituras bíblicas de cada dia, mesmo com a ajuda da internet. Além de falar conosco nas escrituras, o Senhor o faz por meio de nossos irmãos e irmãs, especialmente no rosto e nas histórias daqueles que precisam de ajuda. Mas gostaria de acrescentar também outro aspecto, muito importante no processo sinodal: a escuta de Cristo envolve também a escuta dos irmãos e irmãs na Igreja; aquela escuta recíproca que em algumas fases é o objetivo principal, e que, em todo caso.

Ao ouvirem a voz do Pai, «os discípulos caíram com o rosto em terra, cheios de medo. Jesus aproximou-se deles e, tocando-os, disse: "Levantai-vos, não tenhais medo." Quando levantaram os olhos, não viram ninguém senão somente Jesus" (Mt. 17,6-8). Eis a segunda indicação para esta Quaresma: não vos refugieis numa religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de experiências sugestivas, por medo de enfrentar a realidade com as suas fadigas quotidianas, as suas dificuldades e as suas contradições. A luz que Jesus mostra aos discípulos é uma antevisão da glória pascal e para ela devemos caminhar, seguindo "só a Ele". A Quaresma é voltada para a Páscoa. A “aposentadoria” não é um fim em si mesma, mas nos prepara para viver a paixão e a cruz com fé, esperança e amor, para chegar à ressurreição. Da mesma forma, o caminho sinodal não deve nos fazer acreditar na ilusão de que chegamos quando Deus nos concede a graça de algumas experiências fortes de comunhão. Também aí o Senhor nos repete: «Levanta-te, não tenhas medo».

Queridos irmãos e irmãs, que o Espírito Santo nos encoraje nesta Quaresma a subir com Jesus, para que experimentemos o seu esplendor divino e assim, fortalecidos na fé, continuemos juntos no caminho com Ele, glória do seu povo e luz da nações.

Roma, São João de Latrão, 25 de janeiro de 2023, Festa da Conversão de São Paulo

PAPA FRANCISCO

 

Fonte -infovaticana

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