Por favor, tenhamos a alegria de nos olharmos com o olhar de Jesus; e nesta vida, sempre que necessário, com o olhar esperançoso de São Dimas.
Por Jaume Melcior Servat
Dentro da Paixão - e depois do Senhor e de Sua Santíssima Mãe - a pessoa que sempre mais amei, e a ela dediquei todos os meus sentimentos e devoções, é sem dúvida São Dimas. É o bom ladrão, que me dá um exemplo permanente de como devo confessar. E acho que devemos dar uma olhada mais profunda nisso do que normalmente é feito.
Na vida de um cristão, as duas visões que o título deste escrito diz são essenciais. Na Cruz não há outras possibilidades além dessas duas. Alguns me dirão que me esqueço de Nossa Senhora. Eles estão errados. O olhar da nossa Mãe limita-se a olhar-nos com os olhos do seu Divino Filho. Portanto, é um olhar que, desde a sua liberdade mais profunda, deseja olhar com os olhos do Salvador.
Outros me dirão que esqueço o ladrão da esquerda. Segundo o evangelho apócrifo de Nicodemos, ele se chamava Gestas. Pode ser. É por isso que vou chamá-lo oficiosamente assim nesta reflexão. Gestas não pode ser considerado um "olhar", porque precisamente porque não soube olhar frente a frente com o único que o poderia salvar, e não o fez, examinando a sua alma e deixando-se purificar, evitou o encontro com Cristo. Gestas, preferiu tentar a sua salvação, “olhando” com os olhos de quem condenava Jesus. Ele zombou e insultou o Senhor. E... o que ele ganhou com isso? Torne seu pecado pior e feche-se para sua única opção verdadeira de viver. A sua atitude não o derrubou da cruz, tornou-o mais amargo, sofreu mais e entregou-se ao desespero. Então Gestas, não olhou. Ele evitou o olhar do Salvador. E ele perdeu o que o San Dimas ganhou.
São Dimas fez um verdadeiro ato de justiça, reconheceu a verdade, recriminando a atitude de Gestas, reconhecendo também a injusta condenação de Jesus. Ele reconheceu seu crime, seu pecado. E é aí que os dois olhos se encontram... os de Jesus, que, respeitando a liberdade de todos, espera pacientemente. E quando da boca de São Dimas nasce: "Senhor, lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino" (Lc 23, 42-43) o Senhor não tem tempo para lhe dizer: "Em verdade te digo, hoje estarás com me no Paraíso" (Lc 23, 43). O Senhor tem pressa em receber a alma contrita do amigo, que se deixa salvar e socorrer. Esta cena dá tanto conforto, tanto!...
Se queremos ser verdadeiramente felizes devemos olhar com estes dois olhares. Só existe uma criatura que nunca precisou olhar com o olhar de San Dimas. A Virgem; que era sempre agradável e puro, tudo para Deus. Por isso só cabe nele o olhar de Jesus. Devemos acolher a fragilidade, os pecados e as fraquezas dos outros, e as nossas, com o olhar de Jesus. Reconhecer diante dEle a verdade, para sermos curados do mal que nos aflige. E, acima de tudo, não remexa no passado, uma vez que você se permitiu ser salvo. Diante de Deus, voltamos a ser belas almas. Desde a morte de Jesus na cruz, através do Batismo, o Pai vê em cada um de nós o seu próprio Filho, somos outros Cristos. É por isso que devemos tratar uns aos outros com muito cuidado. Nós valemos demais. Por mais males, não é compreensível que não demos aos outros a oportunidade de pedir perdão, reiniciar. Não há espaço para atitudes mesquinhas diante de uma alma que nos pede perdão, quando nós o pedimos ao Senhor e ele no-lo dá constantemente. Que ridículo e incoerente, quando optamos por não falar uns com os outros, ou fazer contas dos males que os outros nos infligem. Esquecendo o mal que tantas vezes causamos. Ou o perdão que o Senhor nos concedeu em várias ocasiões.
Certamente é possível restituir o mal feito com abundância do bem. Não estou falando de falsas misericórdias, tão em voga hoje. Falo de restituição, com muita generosidade em abundância de bem. Mas, ao mesmo tempo, o mais sagrado é ser muito, muito generoso no perdão. Quanto mais nos custa, mais amor, mais prova de santidade. Quanto mais generoso no perdão, mais boa medida de Santidade o Senhor aplicará a nós. Não procuremos um "suficiente" nos bens eternos. Quem procura bastante, tem muitos números para suspense. Quem busca o excelente, é muito difícil falhar...
Por isso, é preciso olhar para nós também, com o olhar de São Dimas. Não mergulhe no pecado, peça perdão humildemente, para acessar novamente a graça de um céu, que já na terra, podemos começar a vislumbrar. O que significa viver novamente em Comunhão, restaurando os laços de amor. Acredite, não estou brincando, se isso acontecer, o amor pelo amigo ainda é muito maior do que antes do término. O prêmio da generosidade é uma amizade inquebrantável. Bem, humildade, Deus paga com grandes benefícios já nesta vida. E se o olhar de Cristo brilha acima do orgulho, naquela amizade Ele brilha. E enquanto for, é inquebrável, com tons de amizade eterna.
Vale a pena olhar para os que nos rodeiam com os olhos de Jesus. Vale a pena sermos humildes, e nos olharmos com o olhar de São Dimas. Um segredo… se você se confessar muito, mesmo pelas menores coisas, será inundado por esses olhares. Sem descer da cruz, o Senhor reinará em cada um de nós, e não poderemos negar a ninguém, o que Ele constantemente nos oferece sem pedir mais explicações, do que o remédio da verdade, que coça, justamente porque verdadeiramente curas. Como disse Bento XVI: «A cruz nos lembra que não há amor verdadeiro sem sofrimento, não há dom da vida sem dor». O caminho do perdão sincero e generoso fere demais o nosso orgulho. Mas quem se humilha será exaltado, como nos recorda o Senhor no Evangelho de São Lucas.
Você acabou de passar uma Santa Quaresma, e se luta para viver esta reflexão, desejo-lhe uma Páscoa tão feliz quanto você conseguiu vivê-la em sua vida. E rezemos por aqueles que não perdoam nem pedem perdão, porque mesmo que não percebam, precisam desta mesma felicidade... desta mesma paz de espírito. Por favor, tenhamos a alegria de nos olharmos com o olhar de Jesus; e nesta vida, sempre que necessário, com o olhar esperançoso de São Dimas.
Fonte - infocatolica
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