quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Vós não sois do Mundo

 O poder que Jesus dá aos apóstolos
 


Por Gabriel Mesquita


Desde a segunda metade do século passado, a posição visível da Igreja (ou melhor, dos homens que a compõem) sofreu uma mudança como nunca antes ocorrera na história eclesiástica. Anteriormente, era sempre destacado que o católico não podia (ou não deveria) comportar-se como os demais ou assumir a mentalidade mundana. Infelizmente, diante da grande crise que assaltou a Igreja, essa noção não é clara mesmo para católicos praticantes.

 Antes de tudo, convém explicar qual é o sentido de mundo com o qual não nos devemos conformar. Evidente, o mundo que Nosso Senhor repreende não é o Universo criado por Deus, sobre o qual está escrito que é muito bom (Gn 1,31). O mundo reprovável é a sociedade humana constituída contra Deus, sua Lei e sua Palavra. Isso não significa que tudo que uma sociedade não-cristã produz seja repreensível. Por exemplo, muitos conceitos jurídicos e administrativos da civilização romana, na qual a Igreja surgiu, foram aproveitados posteriormente. Contudo, apesar de muitos aspectos apreciáveis no Império Romano, isso não levou os primeiros cristãos a se conformarem com o paganismo e corrupções romanas como nos revela o lindo testemunho cristão da Carta a Diogneto do século II:

Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes (...). Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles e cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. (Carta a Diogneto, capítulo V)

Há ainda um outro problema na adaptação ao mundo pregada dentro da Igreja nas últimas décadas, em relação a outra que poderia ser feita a sociedades de outros tempos. A diferença que agrava a situação é que a mentalidade moderna não é apenas não-cristã, mas é uma negação dos princípios católicos, contra aos quais a modernidade se insurge desde seu surgimento. Não é possível para um filósofo ou teólogo católico hodierno se utilizar de filosofias modernas como o kantismo e marxismo e muito menos das pós-modernas pois elas se contrapõem em sua base intelectual e moral ao que ensina a Santa Igreja. Não poderia haver momento pior para se abandonar os alertas contra as perversidades do mundo.

Veja-se, por exemplo, como até a metade do século XX os religiosos ensinavam os fiéis a não se envolverem com o Carnaval e a reparem contra os pecados públicos cometidos naqueles dias. Hoje, nesse período em que Nosso Senhor é muito mais ofendido do que antigamente, não há advertência contra os males do Carnaval e muitos católicos, inclusive sacerdotes, participam de lugares que nenhuma pessoa poderia ir, dado o caráter orgíaco do evento.

Nós, porém, devemos sempre termos em mente que nós somos do pequeno rebanho de Nosso Senhor e que não somos do mundo, apesar de nele estarmos. Devemos, portanto, guardar o Amor a Deus, desagravar as ofensas que os homens fazem a Deus, particularmente em períodos como o Carnaval, e rezar pela conversão dos pecadores como Nossa Senhora nos lembrou em Fátima.

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