domingo, 7 de julho de 2024

“Cuidado com os falsos profetas”

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Novamente o Evangelho do Sétimo Domingo depois de Pentecostes (Mt 7, 15-21) é retirado do Sermão da Montanha e, neste caso, contém duas recomendações que se ordenam a um objetivo final: levar-nos a cumprir a vontade de Deus como caminho para alcançar a salvação eterna; isto é, ser cidadãos daquele Reino de Deus cuja doutrina moral é promulgada por Cristo, o legislador. Essas recomendações são:

1.- Fugir daqueles que tentam nos arrastar pelo caminho do erro e da impiedade: «Cuidado com os falsos profetas; Aproximam-se disfarçados de cordeiros, mas por dentro são lobos vorazes» (v. 15).

2.- Procure fazer boas obras, colocar em prática a vontade de Deus, merecendo assim pertencer ao Reino (Não basta, como acreditavam os escribas e fariseus, ser membros do povo eleito): Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus» (v. 21).

Vejamos cuidadosamente essas duas exortações.

I. "Cuidado com os falsos profetas."

Normalmente chamamos de profeta alguém que adivinha e prevê o futuro, o que vai acontecer. Mas esse não é o conceito essencial. No sentido bíblico , profeta é aquele que fala em nome de Deus. De onde se distinguem dois tipos de profetas: os verdadeiros, os enviados por Deus; e os falsos, aqueles que não têm missão divina e falam as próprias palavras.

No Antigo Testamento são frequentes as acusações contra maus juízes e falsos profetas, que eram os principais causadores da corrupção do povo e a característica dos falsos profetas era anunciar coisas agradáveis. É por isso que eles foram acreditados e aplaudidos [1]. Jesus nos dá critérios para que possamos discernir e rejeitar os falsos profetas e nos avisa que eles sempre estarão lá, mesmo no tempo de sua Igreja e em particular antes de sua segunda vinda, quando muitos falsos profetas aparecerão e a descrença será geral e. zombaria [2].

O perigo para a missão profética que a Igreja recebeu como continuadora da missão de Cristo e na qual cada um dos seus membros participa segundo a sua condição é o de tentar lisonjear o mundo, dizendo-lhe o que gosta de ouvir para poder trate-o assim para evitar aquela rejeição que causa a Palavra de Deus e aqueles que a proclamam fielmente. Precisamente por caridade, a Igreja deve oferecer a mensagem da revelação divina que mais do que satisfaz as aspirações legítimas dos homens, embora também confronte as suas inclinações tortuosas [3].

II.Aquele que faz a vontade do Pai entrará no reino dos céus.

Para conhecer e cumprir a vontade de Deus temos que ouvir a sua Palavra. Como diz São Paulo: «Em muitas ocasiões e de muitas maneiras Deus falou antigamente aos pais através dos profetas. Nesta última etapa, Ele nos falou por meio do Filho…” (Hb 1, 1-2). Este “Deus que fala conosco” é a Revelação divina, propriamente chamada de Palavra de Deus e que se desenvolveu em diferentes etapas ao longo do Antigo e do Novo Testamento. A Revelação é, portanto, uma manifestação gradual dos mistérios de Deus que revela gradualmente o seu ser íntimo e a sua vontade em vista da salvação eterna de todos os homens.

Deus falou no AT pela boca dos profetas em muitas ocasiões, ou seja, nas diferentes etapas da história do povo escolhido e de muitas maneiras, ou seja, através de visões, palavras, ações e acontecimentos históricos. Ora, no NT, Jesus é o profeta por excelência porque aperfeiçoa e completa a revelação divina que está contida nos livros da Sagrada Escritura e nas Tradições não escritas que os Apóstolos receberam de Cristo ou do Espírito Santo e que nós transmitido para nós [4]. Por isso diz São João da Cruz, comentando o texto da Hb que citamos:

«Porque ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho – que é uma Palavra sua, que não tem outra –, ele nos falou tudo juntos e uma vez por todas esta única Palavra, e não tem mais nada a dizer [… ] Em que o Apóstolo faz entender que Deus agora ficou como que mudo, e não tem mais nada a falar, porque o que Ele falou antes em partes aos profetas Ele já falou Nele todo, dando-nos o todo, que é Seu Filho [5].

Uma forma concreta desta escuta da Palavra de Deus com simplicidade e coração aberto à vontade divina é quando ela é lida e meditada para se tornar oração [6], por exemplo com a leitura frequente do santo Evangelho que nos leva a reconhecer a vontade de Deus em meio às ocupações e acontecimentos de cada dia, vendo Cristo como o Deus encarnado, conhecendo-o cada vez melhor para imitá-lo, reproduzindo em nós a sua vida divina.

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A Virgem Maria é o modelo de quem ouve a Palavra de Deus e a cumpre (Lc 11, 28). Portanto, aprendamos com Ela a reconhecer em Cristo a revelação perfeita de Deus e deixemos que ela seja o guia da nossa conduta.


[1] Cf. John STRAUBINGER, A Bíblia Sagrada, em: Mi 2, 11. «Ai se todos falarem bem de você! Assim fizeram vossos pais com os falsos profetas» (Lc 6, 26).

[2] Ibidem, em: Lc 17, 24. «Muitos falsos profetas aparecerão e enganarão muitas pessoas, 12e, à medida que a maldade aumentar, o amor esfriará entre a maioria» (Mt 24, 11-12).

[3] Cf. Salvador MUÑOZ IGLESIAS, Ano Litúrgico. Ciclo B, Madrid: Editorial de Espiritualidade, 2005, 207-208.

[4] Bíblia Sagrada, vol. 10, Epístola aos Hebreus, Pamplona: EUNSA, 1987, 79-81.

[5] Suba ao Monte Carmelo II, 22, 3-4.

[6] Cf. CÁTIC 1177.

 

Fonte - adelantelafe

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