segunda-feira, 8 de julho de 2024

Papa Francisco e São Pedro Damião

https://adelantelafe.com/wp-content/uploads/2018/11/pedrodamiano.jpg
São Pedro Damião

 

Por Roberto de Mattei

 

As palavras sobre a homossexualidade nos seminários que o Papa Francisco proferiu durante a assembleia geral da Conferência Episcopal Italiana, realizada a portas fechadas no dia 20 de maio, foram objeto de comentários de todos os meios de comunicação. Palavras que surpreenderam não só pela linguagem, pelo menos vulgar, usada pelo Pontífice, mas também porque as piadas que ele fez pareciam indicar uma mudança de rumo em relação ao "quem sou eu para julgar" no início de seu pontificado.

Segundo uma reconstrução razoável do blog Messainlatino, a intenção do Papa era bloquear, ou pelo menos impedir, um texto da Conferência Episcopal Italiana que, em contravenção às normas vigentes, permitiria o livre acesso aos seminários e ordens sagradas para pessoas com homossexualidade. tendências. Num artigo no Libero de 29 de maio, Antonio Socci observou uma notável retração da linha imposta pelo Cardeal Zuppi à conferência episcopal que ele preside. O contraste também seria político, porque, às vésperas das eleições europeias, Zuppi teria se posicionado à esquerda, enquanto o Papa simpatizaria com Georgia Meloni. O teólogo progressista Vito Mancuso escreveu que o pontificado de Francisco é caracterizado por grandes promessas e poucos resultados. “Faz lembrar Pio IX, que começou com grandes esperanças e terminou com a maior intransigência (...) A impressão que dá é a de um lento declínio” (...).

No blog Il Cammino dei Tre Sentieri do último dia 30 de maio, Corrado Gnerre toma as contradições do pontificado como ponto de partida para convidar à reflexão sobre o mistério do primado petrino e, portanto, sobre a realidade de que a Igreja é sempre governada por Jesus Cristo, que nunca permitirá que você vire na tempestade.

Podemos acrescentar que são muitas as tempestades que a Igreja tem enfrentado ao longo da sua história. Por exemplo, no século XI, quando a corrupção era generalizada até na própria hierarquia eclesiástica, mas a Providência deu origem a um movimento de cristãos íntegros e fervorosos que se esforçaram para reformar os costumes e a sã doutrina. Entre eles encontramos São Pedro Damião (1007-1072), abade do mosteiro de Fonte Avellana e autor em 1049 do Liber ghomorrianus, obra na qual não hesitou em desvendar os escândalos eclesiásticos do seu tempo, denunciando o vício com enérgica e às vezes linguagem grosseira contra a natureza, o “câncer da infecção sodomítica” que, segundo São Pedro Damião, causava estragos “como uma fera sanguinária no rebanho de Cristo”.

A referida obra foi republicada [em italiano] pela Edizioni Fiducia, e recomendo a sua leitura, justamente pela sua relevância.

São Pedro Damião está convencido de que o mais grave de todos os pecados é a sodomia, termo que engloba todos os atos contra a natureza, que têm como objetivo a satisfação do prazer sexual, separando-o da procriação. Para ele, os culpados de sodomia deveriam ser inexorável e definitivamente privados de cargos, títulos e dignidades eclesiásticas. Seria preferível – afirma – que a sociedade ficasse sem padres ou as dioceses sem bispos do que ser pastoreada por sodomitas. A sodomia é pior que a blasfêmia, porque se opõe à própria ordem da criação, e é ainda pior que o acasalamento do homem com os animais, pois no caso da bestialidade só se condena uma alma, enquanto o sodomita faz com que seja condenada outra pessoa. “Se este vício tremendamente ignominioso e abominável não for imediatamente detido com mão firme”, diz ele, “a espada da ira de Deus cairá sobre nós, levando muitos à perdição”.

Em 1057, o Papa Estêvão IX nomeou São Pedro Damião Cardeal Bispo de Óstia, e o monge de Fonte Avellana, consciente dos seus novos deveres como príncipe da Igreja, dirigiu as seguintes palavras aos cardeais: “Todos vós tendes diante dos vossos olhos a decadência de um mundo que corre para a ruína, deslizando por uma ladeira em direção ao Inferno. (…) A disciplina, guardiã titular da ordem eclesiástica, desapareceu; O sacerdócio é profanado e escandaliza o povo. O direito canônico é violado, e o ministério sacerdotal deixou de estar ao serviço de Deus para se dedicar a prazeres indizíveis (...) Haverá algum lugar onde não se vejam assaltos, roubos, perjúrios, dissipações, sacrilégios...?

São Pedro Damião morreu em Faenza na noite de 22 para 23 de fevereiro de 1072. Seu corpo foi sepultado próximo à escadaria do presbitério, mas ao longo dos séculos foi movido diversas vezes e atualmente seus restos mortais repousam na catedral de Faenza em um capela que lhe é dedicada. Desde o momento de sua morte ele foi venerado universalmente como um santo. Leão XII homenageou-o proclamando-o doutor da Igreja (Constituição Providentissimus Deus de 1º de outubro de 1828).

Quase mil anos se passaram e a Igreja continua a constituir um mistério, pois tem Jesus Cristo como Fundador, bem como a natureza divina e a natureza humana intimamente ligadas entre si. Mas, ao contrário de Jesus Cristo, que não só é perfeito na sua divindade, mas também na sua humanidade, a Igreja, santa e imaculada, é constituída por homens sujeitos ao pecado. Embora a Igreja não seja pecadora, nela coexistem santos e pecadores. Há momentos na sua história em que está impregnada de santidade, e momentos em que o abandono dos seus membros a mergulha nas trevas e dá a impressão de que Deus a abandonou. Mas Ele nunca a abandona. A Igreja não morre; Ela supera as provas mais difíceis e avança invicta na história rumo à Parousia, o triunfo final na Terra e no Céu, quando se une definitivamente ao seu divino Esposo.

(Traduzido por Bruno de la Imaculada)

 

Fonte - adelantelafe

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...