domingo, 1 de dezembro de 2024

Katolisch.de analisa as semelhanças e diferenças entre o Sínodo alemão e o Sínodo sobre sinodalidade

Katolisch.de, o portal digital oficial da Conferência Episcopal Alemã, publicou um estudo sobre as semelhanças e diferenças entre o Caminho Sinodal Alemão e o recentemente concluído Sínodo sobre Sinodalidade. Concordam na participação dos leigos, na prevenção dos abusos e na sinodalidade, mas diferem na eleição dos bispos, nas funções litúrgicas, nos ministérios das mulheres e nas estruturas deliberativas.

Katolisch.de analisa as semelhanças e diferenças entre o Sínodo alemão e o Sínodo sobre sinodalidade


Desde que o Papa Francisco lançou o processo sinodal global em 2019 com o objetivo de promover uma Igreja mais participativa e corresponsável, o contraste com as propostas do Caminho Sinodal Alemão tem sido tema de debate. Entre 2020 e 2023, o Caminho Sinodal Alemão realizou cinco assembleias em Frankfurt e aprovou 15 documentos que supostamente procuram resolver a crise de confiança que se seguiu aos escândalos de abusos sexuais, bem como promover reformas estruturais na Igreja.

Em Outubro de 2023, a publicação do documento final do Sínodo sobre a sinodalidade marcou o caminho a seguir, com um apelo explícito às Igrejas locais para implementarem as suas orientações. “O documento final faz parte do magistério ordinário do Sucessor de Pedro e, como tal, peço que seja aceite”, afirmou o Papa Francisco numa nota oficial, exortando as Igrejas locais a aplicarem “em diferentes contextos as indicações vinculativas do documento."

Leigos na eleição dos bispos

Tanto o Caminho Sinodal Alemão como o Sínodo Mundial destacam a necessidade de uma maior participação dos leigos na governação eclesial. Na Alemanha, um dos primeiros textos aprovados propunha que os capítulos catedrais preparassem, juntamente com um grupo de leigos eleitos, listas de candidatos ao episcopado que seriam enviadas a Roma. No entanto, esta proposta tem enfrentado resistência no Vaticano, que reafirma que a eleição dos bispos é prerrogativa do Papa, de acordo com os regulamentos canónicos em vigor.

O documento final do Sínodo Mundial aborda esta questão de forma mais geral, observando: “O serviço do bispo é um serviço na, com e para a comunidade. Por isso, a assembleia sinodal deseja que o Povo de Deus tenha mais voz na eleição dos bispos” (n. 70). Contudo, não estabelece medidas concretas, destacando a exceção que o modelo alemão representa no contexto universal.

Papéis leigos na liturgia e na pregação

O Caminho Sinodal Alemão também promoveu um papel mais ativo para os leigos, incluindo as mulheres, na pregação litúrgica. A sua proposta contempla que os pastores possam autorizar homilias na Eucaristia para leigos devidamente formados, sempre com aprovação do Vaticano. Este texto defende que “aproveitar a riqueza das competências e do carisma existentes contribuiria para a qualidade da proclamação e ofereceria diversas perspectivas às comunidades”.

No documento do Sínodo Mundial, este aspecto é abordado de forma mais implícita. No n.º 27 propõe-se uma reflexão sobre como as celebrações litúrgicas podem expressar melhor a sinodalidade, incluindo estudos sobre a pregação e a sua relação com a catequese numa perspectiva mística. Embora as homilias dos leigos não sejam mencionadas diretamente, todos os fiéis são encorajados a anunciar o Evangelho “em qualquer lugar e tempo, segundo os seus carismas” (n. 32).

Prevenção de abuso sexual e gerenciamento de casos

O escândalo dos abusos sexuais tem sido um tema central no Caminho Sinodal Alemão, que inclui nos seus documentos medidas específicas de prevenção e punição. Estas incluem a adoção de códigos de conduta, a criação de comités de supervisão e a exigência de relatórios de avaliação por peritos em casos de clérigos acusados.

O documento do Sínodo de Roma também aborda amplamente a crise dos abusos, reconhecendo o seu impacto devastador nas vítimas e na credibilidade da Igreja. Sublinha a necessidade de formar adequadamente aqueles que trabalham com menores e adultos vulneráveis, promover uma “cultura de proteção” e garantir que as instituições eclesiásticas cumpram as normas éticas e legais. «Embora já tenham sido tomadas medidas para prevenir abusos, é necessário reforçar este compromisso com formação específica e contínua» (n.º 150).

Mulheres e ministérios eclesiais

Um dos pontos mais debatidos durante o Caminho Sinodal Alemão foi a possibilidade de abrir o diaconado às mulheres. O respectivo documento exorta os bispos alemães a promoverem um diálogo global sobre esta questão e a aprofundarem a investigação teológica sobre o assunto. Além disso, defende a revisão do carácter vinculativo da carta “Ordinatio Sacerdotalis” (1994) de São João Paulo II, que proíbe a ordenação sacerdotal de mulheres.

Neste sentido, vale lembrar que a Ordinatio Sacerdotalis fecha qualquer possibilidade futura de ordenação sacerdotal de mulheres (ed: ver ponto 4), e a Doutrina da Fé advertiu que tal ensinamento faz parte do magistério infalível da Igreja. Portanto, embora não possua a categoria de dogma, pertence ao depósito da fé e é tão irreformável como todos os dogmas. O Cardeal Ladaria, sendo prefeito do referido dicastério (anteriormente uma congregação), ratificou e explicou em maio de 2018 o alcance da carta apostólica de São João Paulo II

Por sua vez, o documento do Sínodo Mundial dedica menos atenção a esta questão, embora reconheça a necessidade de um discernimento contínuo: «A questão do acesso das mulheres ao diaconado permanece em aberto. Este discernimento deve continuar” (n. 60). No entanto, sublinha que “o que vem do Espírito Santo não pode ser detido”, referindo-se ao crescente papel feminino na vida eclesial.

A tensão sobre o “Conselho Sinodal”

Uma das maiores controvérsias tem sido a proposta alemã de um “Conselho Sinodal” com funções deliberativas. Este órgão, concebido como um espaço para decidir sobre questões de grande relevância, foi rejeitado pelo Vaticano , que insiste que não pode competir com a autoridade da Conferência Episcopal.

O documento do Sínodo Mundial, por outro lado, defende o fortalecimento dos conselhos pastorais já existentes e a realização de sínodos diocesanos periódicos, enfatizando que a tomada de decisão final corresponde à hierarquia eclesiástica. “Numa Igreja sinodal, a autoridade do bispo, do colégio dos bispos e do Papa é essencial para garantir a unidade na diversidade” (n. 92).

Reformas e futuro sinodal

O documento final do Sínodo Mundial destaca a importância da transparência e da responsabilização para promover a credibilidade da Igreja. Propõe avaliações periódicas das ações pastorais, econômicas e éticas, adaptando as boas práticas da sociedade civil. Por sua vez, o Caminho Sinodal Alemão contempla mecanismos específicos, como relatórios de desempenho dos bispos e consulta ao Povo de Deus sobre a confiança nos seus líderes.

Embora existam claras convergências em alguns princípios, as diferenças na profundidade e na aplicação das propostas refletem os diferentes contextos eclesiais. 


Fonte - infocatolica

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