quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Um ano de Fiducia Supplicans: Confusão e divisão na Igreja após a controversa declaração do Vaticano

Em 18 de dezembro de 2023, a Santa Sé emitiu a declaração Fiducia Supplicans, assinada pelo Cardeal Victor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé e pelo Papa Francisco.

Victor Manuel Fernández (tradução)
Cardeal Victor Manuel Fernandes


Este documento do Vaticano autorizou as já famosas bênçãos "pastorais" para casais e casais do mesmo sexo em uma situação irregular. Hoje, um ano depois, o documento continua a ser objeto de intenso debate na Igreja, gerando confusão entre os fiéis e aprofundando a divisão entre pastores e comunidades eclesiais.

Desde o seu anúncio, Fiducia Supplicans desencadeou reações díspares. O documento justificava a possibilidade de bênçãos pastorais em casos específicos, desde que não fossem interpretadas como comparáveis ao casamento sacramental. No entanto, para muitos bispos e cardeais, esta iniciativa representou uma reviravolta ambígua e desconcertante na doutrina católica.

Um dos que levantou a voz foi o Cardeal Gerhard Moller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que descreveu a medida como “ologicamente errada” e advertiu sobre as possíveis consequências de relações indiretamente legitimantes que a Igreja considera objetivamente desordenadamente. Além disso, o cardeal Robert Sarah lamentou o que ele descreveu como uma tentativa de confortar a doutrina da Igreja às modas culturais - e descreveu o documento de "heresia que mina seriamente a Igreja".

Divisão no episcopado global

A divisão tornou-se evidente entre as conferências episcopais. Enquanto na Alemanha a medida foi recebida com entusiasmo por setores progressistas, liderada por representantes da Via Sinodal Alemã, outros episcopados, como os da Polônia e bispos do norte da Europa, emitiram duras críticas. A Conferência Episcopal Polonesa afirmou que as bênçãos das uniões homossexuais contradizem o ensinamento do Evangelho e a tradição apostólica, pedindo a preservação da unidade doutrinal da Igreja.

Na América hispânica, a resposta foi mais cautelosa. A Conferência Episcopal do México expressou sua profunda preocupação com o impacto pastoral e doutrinário da declaração, enquanto no Brasil houve uma mistura de silêncio e apoio entre alguns bispos, o que mostrou polarização interna.

Fé confusa e pastores divididos

A ambiguidade e a contradição do documento causaram confusão entre os fiéis, especialmente nas paróquias onde as posturas dos pastores são contraditórias. Alguns sacerdotes se recusaram a realizar bênçãos, argumentando que isso obscureceu o ensinamento moral da Igreja, enquanto outros adotaram a declaração como um mandato para tornar a flexibilidade pastoral mais flexível. Como resultado deste documento, vimos James Martin abençoar dois homens gays pela mão e padres na Espanha celebram pseudo-teias homossexuais que ele media.

O Cardeal Fernández defendeu a declaração em várias ocasiões, argumentando que ela não muda a doutrina, mas procura responder pastoralmente às complexas realidades das pessoas. No entanto, suas explicações têm sido vistas como insuficientes por muitos fiéis e clérigos, que exigem maior clareza e fidelidade ao ensinamento perene da Igreja.

Reações às Conferências Episcopais Africanas

As conferências episcopais na África foram as que levaram à oposição unânime às bênçãos dos casais do mesmo sexo propostas em Fiducia Supplicans, com exceção dos países do norte da África que mais têm bispos de origem europeia. O cardeal Fridolin Ambongo, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), disse que as bênçãos extraliúrgicas propostas não podem ser realizadas na África sem se expor a escândalos. Os bispos africanos consideram que essas práticas são contrárias à lei de Deus e à cultura africana.

Esta posição reflete a firmeza dos bispos africanos na manutenção do ensinamento tradicional da Igreja sobre o casamento e a sexualidade, resistindo à pressão para adaptar a doutrina às tendências contemporâneas que consideram incompatíveis com a fé e a moral cristãs.

Esclarecimentos posteriores do Cardeal Fernández

Após a publicação de “Fiducia Supplicans”, o Cardeal Victor Manuel Fernández teve que oferecer vários esclarecimentos para explicar o escopo do documento. Em declarações à InfoVaticana, Fernández enfatizou que a união não é abençoada, mas simplesmente as pessoas que a solicitaram juntos, enfatizando que essas bênçãos não devem ser interpretadas como uma aprovação de relações contrárias à doutrina da Igreja.

Além disso, em uma nota esclarecedora emitida em janeiro de 2024, o Dicastério para a Doutrina da Fé reiterou que essas bênçãos são - sem uma forma litúrgica - e não aprovam ou justificam a situação em que essas pessoas se encontram. Fernández insistiu que essas expressões de proximidade pastoral não devem ser vistas como uma ratificação de estilos de vida que a Igreja não pode abençoar.

Em abril deste ano, o cardeal argentino confirmou a este médium que Fiducia supplicas veio à tona para que as bênçãos irregulares não fossem o tema do Sínodo.

Quebrando em diálogo com as Igrejas coptas e ortodoxas

Além do impacto interno, Fiducia Supplics estragou o diálogo ecumênico, particularmente com as Igrejas Copta e Ortodoxa. Ambas as tradições têm mantido uma posição firme sobre os ensinamentos sobre o casamento e a sexualidade, considerando-os imutáveis. Após a publicação da declaração, vários líderes ortodoxos expressaram preocupação com a remoção da Igreja Católica dos fundamentos bíblicos, o que, segundo eles, dificulta os esforços para alcançar a plena unidade com base em princípios doutrinários comuns.

O copta Teodoro II Papa expressou sua "tríade", pelo que ele considerava uma decisão unilateral - que afeta a fé comum das Igrejas Apostólicas. O próprio cardeal Fernández teve que encontrá-lo em maio deste ano para tentar reconstruir as relações. Da mesma forma, o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla emitiu uma declaração enfatizando que as adaptações pastorais que contradizem a verdade revelada não podem ser aceitas no âmbito do diálogo ecumênico. Estas reações demonstram o desafio de manter o equilíbrio entre pastoreio e fidelidade doutrinal no contexto do ecumenismo.

 

Fonte - infovaticana

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