quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Burke: “Podemos sofrer, mas devemos permanecer na Igreja”

O Cardeal Raymond Burke expressou mais uma vez a sua preocupação pela crise de fé que afeta a Igreja e a sociedade. Numa extensa entrevista com Michael Haynes, o cardeal abordou as causas e possíveis soluções para a perda da vida devocional e sacramental, sublinhando que a resposta à crise envolve um regresso à tradição e ao ensinamento perene da Igreja.

Burke: “Podemos sofrer, mas devemos permanecer na Igreja”
Cardeal Burke

 

Na entrevista, o cardeal aborda a Novena de nove meses em homenagem a Santa Maria de Guadalupe, convocada por ele no ano passado, da qual participaram pelo menos 190 mil pessoas. “Muitos fiéis compreenderam a importância desta oração e a realizaram todos os dias, mesmo que não estivessem inscritos”, destaca o cardeal. Ele observou que esta resposta demonstra a sede espiritual que persiste entre os crentes, apesar da secularização generalizada. «A consagração a Nossa Senhora não pode ser um ato específico; “É um compromisso de vida”, diz ele.

A importância da devoção na Nova Evangelização

Burke enfatiza que a devoção à Virgem e aos santos é essencial para a evangelização moderna, pois nos leva diretamente a Cristo. “Sem devoção, a fé se torna uma simples ideia ou ideologia, que não inspira nem transforma as pessoas”, ressalta. Ele lamenta a perda da vida devocional após o Concílio Vaticano II e defende a sua restauração para fortalecer a fé dos crentes.

Segundo o cardeal, a renovação da devoção também tem implicações sociais. “Uma sociedade que rejeita a vida de oração torna-se hostil à própria vida, ao casamento e à liberdade religiosa”, alerta. Destaca a importância da adoração eucarística e da confissão regular como meio de fortalecer a identidade católica.

A crise na Igreja e o Sínodo sobre a Sinodalidade

Em relação aos debates recentes no Sínodo sobre a Sinodalidade, Burke critica a ambiguidade de alguns dos seus documentos. “A questão do diaconado feminino não está em aberto”, afirma enfaticamente, lembrando que a Igreja sempre ensinou que o sacramento da ordem está reservado aos homens.

Alerta também para os perigos do termo “sinodalidade”, uma vez que carece de uma definição precisa e tem sido utilizado para promover agendas nem sempre alinhadas com a tradição católica. “Os fiéis devem ser cautelosos em relação a esta ideia”, diz ele, pedindo aos católicos que rezem pelos seus bispos para que permaneçam fiéis à doutrina da Igreja.

Burke expressa preocupação com a falta de clareza nas mensagens eclesiais, destacando que a confusão doutrinária pode levar os fiéis à desorientação espiritual. Ele insiste que a Igreja deve concentrar-se no ensinamento autêntico de Cristo e não em correntes passageiras de pensamento.

Restrições à Missa Tradicional

Burke expressa preocupação com as restrições impostas à Missa Tradicional em Latim seguindo o motu proprio Traditionis Custodes. “É uma situação injusta e dolorosa para muitos fiéis”, diz ele. Ele questiona a ideia de que existe uma “nova teologia” da Eucaristia ou do sacerdócio que justifica tais restrições e afirma que a Missa Tradicional continua a ser uma fonte válida de espiritualidade para muitos católicos.

Além disso, sublinha que o ataque à liturgia tradicional não é apenas uma questão disciplinar, mas reflete uma crise mais profunda dentro da Igreja. “Os ataques à Missa Tradicional sempre foram uma tática daqueles que procuram corroer a fé”, diz ele. Segundo Burke, restringir o acesso à liturgia tradicional significa privar muitos fiéis de uma fonte de força espiritual.

Um apelo à fidelidade em tempos de crise

Quanto à crise de liderança na Igreja, Burke reconhece que muitos fiéis estão desorientados e tentados a abandonar a instituição. No entanto, sublinha que a resposta não é separar-se em grupos cismáticos, mas permanecer fiel a Cristo dentro da Igreja. «Podemos sofrer, mas devemos permanecer na Igreja. A resposta é combater o bom combate da fé”, diz ele, citando São Paulo.

Também faz referência a figuras históricas como Santo Atanásio, que sofreu perseguições por defender a fé, e incentiva os católicos a permanecerem firmes mesmo em tempos de provação. Burke enfatiza a necessidade de bispos e padres serem corajosos na sua defesa da doutrina católica, mesmo que isso signifique ir contra a corrente.

Finalmente, o cardeal sublinha a urgência de uma reforma autêntica baseada na conversão pessoal, na catequese sólida e no fortalecimento da disciplina eclesiástica. “Só uma renovação da fé pode restaurar a vitalidade e a missão da Igreja no mundo”, conclui.

A importância da oração e da ação

Burke conclui a entrevista enfatizando que a fé católica requer não apenas compreensão teórica, mas também uma vida de oração e ação. Convida os fiéis a aprofundar a sua relação com Deus através da leitura das Escrituras, da prática da oração diária e da participação na vida sacramental. “A mudança começa em cada um de nós”, diz ele, apelando à renovação espiritual individual e comunitária.

O cardeal destaca também o papel crucial da família na transmissão da fé. Ele destaca que a formação religiosa no lar é fundamental para a construção de uma Igreja forte e comprometida com a verdade. “Os pais têm a grande responsabilidade de educar os filhos na verdadeira fé”, diz ele.

Finalmente, Burke encoraja os fiéis a não desanimarem face aos desafios atuais, mas a confiarem na providência de Deus e a permanecerem firmes na sua fé. “A história da Igreja está cheia de momentos de crise, mas a fidelidade a Cristo sempre prevaleceu”, conclui com esperança.

Entrevista completa em inglês

Primeira parte
Segunda e última parte

 

Fonte - infocatolica

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