sábado, 18 de janeiro de 2025

O PRINCÍPIO MOTOR DA VONTADE. Suma de Teologia de São Tomás de Aquino, volume 2

1. A vontade é movida pela inteligência? - 2. Pelo apetite sensível? - 3. Ele se move sozinho? - 4. É movido por um princípio externo? - 5. Por um corpo celeste? - 6. Somente por Deus como princípio externo?

 

ARTIGO 1: A vontade é movida pela inteligência?


Objeções:

1.
Parece que não. Para S. Agostinho, nas palavras do Salmo (119, 20): “A minha alma se consome em desejar os teus julgamentos” faz este comentário: “A inteligência voa para a frente, e a afetividade só vem com atraso ou não segue; conhecimento do bem, e não gostamos de agir." Ora, este não seria o caso se a vontade fosse movida pela inteligência, porque o movimento do móbile segue o movimento do motor. A inteligência, portanto, não move a vontade.

2 . O papel da inteligência para com a vontade é mostrar-lhe o que é desejável, como faz a imaginação para o apetite sensitivo. Mas a imaginação, ao exercer esta função, não move o apetite sensitivo; acontece até que nos comportamos em relação ao que imaginamos como em relação aos objetos pintados que não nos comovem, como observa Aristóteles. Logo, a inteligência também não move a vontade.

3 . Não se pode ser motor e movido ao mesmo tempo em relação ao mesmo ser; mas a vontade move a inteligência, porque agimos com inteligência quando queremos. Logo, a inteligência não move a vontade.


Contudo:

Aristóteles diz: “Se o objeto de desejo apreendido pela inteligência é um motor imóvel, a vontade é um motor movido”.

Conclusão:

Um ser precisa ser movido por outro na medida em que for capaz de diversas coisas; pois o que está em potência só pode ser reduzido a agir por um ser em ato, isto é, a mover-se. Ora, há duas maneiras de uma faculdade da alma ser assim capaz de várias coisas: no que diz respeito ao fato de agir ou não agir, e no que diz respeito ao fato de fazer isto ou aquilo. O mesmo acontece com a visão: às vezes ela vê em ação, e às vezes não vê; às vezes ela vê branco e às vezes ela vê preto. A faculdade necessita, portanto, de um motor para dois fins: para o exercício ou uso do ato, e para a determinação do mesmo. O primeiro desses motores está do lado do sujeito, que ora está ativo, ora não; a segunda fica do lado do objeto, de onde provém a especificação do ato.

O movimento do próprio sujeito vem de um agente. E como agente apenas exerce a sua atividade para um fim, como demonstrámos. o próprio princípio deste movimento vem do fim. É por isso que a arte que se preocupa com o fim move pelo seu comando aquela que diz respeito apenas aos meios, como para Aristóteles, “a arte da navegação comanda a da construção naval”. - Mas o bem em geral, que tem direito a um fim, é objeto da vontade. E é por isso que, neste aspecto, a vontade move os outros poderes para as suas ações; na verdade, nós os usamos quando queremos. Pois os fins e perfeições de todas as outras potências são entendidos sob o objeto da vontade, como bens particulares. Ora, uma arte ou um poder que tem um fim universal determina sempre a atividade de uma arte ou de um poder que tem um fim particular incluído nesse fim universal. É assim que um chefe de exército responsável pelo bem comum, ou seja, pela ordem de todo o exército, move sob o seu comando um dos tribunos que é responsável por apenas um batalhão.

Pelo contrário, o objeto move-se determinando o ato, à maneira do princípio formal do qual a acção, nas coisas naturais, recebe a sua especificação, como por exemplo a acção do aquecimento é especificada pelo calor. Agora, na vanguarda destes princípios formais, devemos colocar o ser universal e a verdade, o objeto da inteligência. É portanto segundo este tipo de movimento que a inteligência move a vontade, isto é, apresentando-lhe o seu objeto.

Soluções:

1 . Não podemos concluir deste texto que a inteligência não move a vontade, mas que não a move de forma necessária.

2. Assim como a imagem de um objeto só pode mover o apetite sensível se esse objeto for considerado adequado ou prejudicial, assim o conhecimento da verdade só pode ser motivador na medida em que aparece sob a razão como bom e desejável. Portanto, não é o intelecto especulativo que se move, mas o intelecto prático, observa Aristóteles.

3 . A vontade move a inteligência no que diz respeito ao exercício do ato, porque a própria verdade, que é a perfeição da inteligência, está contida no bem universal como um certo bem particular. Mas quanto à determinação do ato, que vem do objeto, é a inteligência que move a vontade. Pois o próprio bem é apreendido sob uma certa razão particular entendida sob a razão universal da verdade. Fica claro, portanto, que aqui não é o mesmo ser quem é o motor e se move na mesma relação.

ARTIGO 2: A vontade é movida pelo apetite sensitivo?

Objeção:

1.
Parece que isto é impossível, porque Santo Agostinho afirma que “o motor e o agente prevalecem por excelência sobre o paciente”. Ora, o apetite sensitivo é inferior à vontade, que é um apetite intelectual, assim como o sentido é inferior ao intelecto. O apetite sensível, portanto, não move a vontade.

2 . Nenhuma virtude particular pode produzir um efeito universal. Ora, o apetite sensitivo é uma virtude particular, porque segue a apreensão particular do sentido. Não pode, portanto, ser a causa do movimento da vontade que é universal, como se segue à apreensão universal do intelecto.

3. Aristóteles demonstrou que um motor não é movido por aquele que move, de modo que existe movimento recíproco. Ora, a vontade move o apetite sensitivo na medida em que este obedece à razão. O apetite sensível não pode, portanto, mover a vontade.

Porém:

segundo S. Tiago (1, 14) “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e seduz”. Ora, este não seria o caso se o apetite sensível, sede da concupiscência, não impulsionasse a vontade. Logo, o apetite sensível move a vontade.

Conclusão:

Estabelecemos que tudo o que pode ser apreendido como bom e adequado move a vontade como objeto. Ora, que uma coisa seja vista desta forma pode ser devido a duas causas: a condição daquilo que é proposto e a condição daquele a quem essa coisa é proposta. O que é adequado implica de fato relação e, como tal, depende dos dois extremos. Assim, o gosto, dependendo de ter uma disposição diferente, não percebe uma coisa como adequada ou não da mesma maneira. Foi isso que fez Aristóteles dizer que “cada um julga o fim segundo o que ele mesmo é”.

Ora, é óbvio que as disposições de um homem se modificam de acordo com a paixão sofrida pelo seu apetite sensível. Um homem apanhado por uma paixão julga que algo lhe convém, ao passo que pensaria o contrário se fosse estranho a essa paixão. Portanto, o que parece bom para o homem irado não parece bom para o homem quieto. É assim que, do ponto de vista do objeto, o apetite sensitivo move a vontade.

Soluções:

1
. Nada impede que aquilo que é em si mesmo e em termos absolutos superior seja em certos aspectos mais fraco. Assim, considerada de forma absoluta, a vontade prevalece sobre o apetite sensível, mas no homem dominado pela paixão é este apetite que prevalece.

2 . As ações e escolhas dos homens dizem respeito a coisas individuais. Sendo um poder especial,o apetite sensitivo tem, portanto, uma eficácia muito especial em influenciar os homens nos seus julgamentos sobre tais coisas.

3. A razão, que inclui a vontade, observa Aristóteles, move por seu comando o irascível e o concupiscível, não “despoticamente” como o escravo é movido por seu senhor, mas “segundo um poder real e político”, ao mesmo tempo. em que os homens livres são liderados pelo seu governante, mantendo a capacidade de agir na direção oposta. É por isso que o concupiscível e o irascível têm o poder de agir contra a vontade. E assim nada impede que a vontade às vezes seja movida por eles.

ARTIGO 3: A vontade se move sozinha?

Objeções:

1 .
Parece que não. Todo motor, de fato, como tal, está em ação; pelo contrário, o que é movido é potencialmente, porque “o movimento é o ato daquilo que existe potencialmente como tal”. Mas a mesma coisa não pode estar potencialmente e realmente na mesma relação. Portanto, nada se move por si mesmo, e é impossível que a vontade se mova por si mesma.

2 . Um celular se move quando seu motor está presente. Mas a vontade está sempre presente consigo mesma. Portanto, se ele se movesse, ainda estaria em movimento, o que é obviamente falso.

3 . Dissemos que a vontade é movida pela inteligência. Portanto, se ele se move sozinho, segue-se que a mesma coisa é movida ao mesmo tempo por dois motores, o que parece contraditório. Portanto a vontade não se move sozinha.

Porém:

a vontade é dona do seu agir e dela depende querer e não querer. Este não seria o caso se ela não tivesse a capacidade de se mover. Então ele se move sozinho.

Conclusão:

Estabelecemos - que pertence à vontade mover as outras potências em virtude do fim que é o seu próprio objeto. Mas o fim, já foi dito, desempenha em relação aos objetos do apetite o mesmo papel que um princípio desempenha em relação aos inteligíveis. Ora, é claro que a inteligência, por conhecer um princípio, reduz-se ao poder de agir para conhecer a conclusão; e assim ele se move. Da mesma forma a vontade, porque deseja o fim, move-se para querer os meios.

Soluções:

1
. Não é na mesma relação que a vontade se move e é movida, nem por conseguinte que está em ato e em potência. Mas na medida em que deseja o fim em ato, fica reduzido ao poder de agir em relação aos meios, para desejá-los em ato.

2 . Como potência, a vontade está sempre presente consigo mesma; mas o ato pelo qual ela deseja um determinado fim nem sempre está dentro dela. Ora, é por esse ato que ele se move. Não podemos, portanto, concluir que ele sempre se move sozinho.

3 . Não é da mesma forma que a vontade é movida pela inteligência e por si mesma. Pela inteligência ele se move em função do objeto; por si só é movido quanto ao exercício do ato, em razão do fim.

ARTIGO 4: A vontade é movida por um princípio externo?

Objeção:

1 .
Não, ao que parece, porque o movimento da vontade é voluntário; agora pertence ao que é voluntário quanto ao que é natural proceder de um princípio interior; o movimento da vontade não pode, portanto, vir de fora.

2 . Vimos que a vontade não pode sofrer violência; mas precisamente “aquilo cujo princípio está fora” é violento. Logo, a vontade não pode ser movida por um princípio externo.

3 . O que é suficientemente movido por um único motor não precisa ser movido por outro. Mas a vontade é suficiente para se mover. Portanto, não é movido de fora.

Contudo:

a vontade, como dissemos, é movida pelo seu objeto; agora esta pode ser uma realidade externa oferecida aos sentidos; portanto, a vontade pode ser movida por um princípio externo.

Conclusão:

Ao ser movida pelo seu objeto, a vontade é claramente movida por um princípio externo. Mas, em relação à moção para o exercício do ato, ainda é preciso admitir que a vontade é movida por um princípio externo. - Na verdade, tudo o que é agente ora em ato, ora em potencial, precisa de um motor para se mover. Agora é óbvio que a vontade começa a querer alguma coisa, pois antes ela não queria. É necessário, portanto, que algo a empurre ao querer. Para dizer a verdade, como acabamos de mostrar, é ele mesmo quem se move quando, porque quer um fim, decide querer os meios que a ele conduzem. Mas só pode fazê-lo através da deliberação. Por exemplo, se alguém quer ser curado, começa a pensar como isso pode ser feito, e passa a pensar que será através dos cuidados de um médico, e é isso que ele quer. Mas como ele nem sempre queria curar, ele teve que começar a querer curar, e isso exigiu um impulso. E no caso em que a própria vontade tenha sido a causa deste movimento, só poderia ter sido através da mediação de uma deliberação, ela mesma pressupondo uma vontade anterior. No entanto, não podemos voltar ao infinito desta forma. É necessário, portanto, reconhecer que a vontade avança para o seu primeiro movimento sob o instinto de um motor externo, o que é a conclusão de Aristóteles.

Soluções:

1
. Pertence à própria noção de voluntário que o princípio seja interior; mas daí não se segue que este princípio interior seja um primeiro princípio não movido por outro. Além disso, o movimento voluntário pode muito bem ter o seu próximo princípio no interior; no entanto, tem o seu primeiro princípio no exterior. É como o movimento natural cujo primeiro princípio está fora: é o que move a natureza.

2 . Não basta, para podermos falar de violência, que o princípio seja externo, mas devemos acrescentar esta condição: “que o paciente não preste de forma alguma a sua assistência”. Isto não acontece com a vontade quando ela é movida por um agente externo, porque é de fato a vontade que quer, enquanto é movida por outro. Tal movimento seria violento se fosse contrário ao movimento da vontade. Isso não pode existir neste caso, porque então o mesmo iria ou não querer.

3 . A vontade é suficiente para mover-se para um determinado fim e na sua ordem, mas não pode mover-se em todos os aspectos, como foi demonstrado. Portanto, precisa ser movido por outro como o motor principal.

ARTIGO 5: A vontade é movida por um corpo celeste?

Objeção:

1
. Parece que sim. Pois todos os movimentos variados e multiformes podem ser reduzidos ao movimento uniforme como sua causa, um movimento que é o do céu, como prova Aristóteles. Mas os movimentos humanos são variados e multiformes, pois começam depois de não terem existido. Portanto, eles são reduzidos como causa ao movimento do céu, que é por natureza uniforme.

2 . “Os corpos inferiores”, diz Santo Agostinho, “são movidos pelos corpos superiores”. Mas os movimentos do corpo humano que dependem da vontade não poderiam ser causados pelo movimento do céu, se a vontade também não fosse movida pelo céu. Então o céu move a vontade humana.

3 . Ao observar os corpos celestes, os astrólogos fazem previsões precisas sobre as futuras ações humanas que dependem da vontade. Ora, este não seria o caso se os corpos não pudessem mover a vontade do homem. Portanto a vontade humana é movida pelos corpos celestes.

Porém:

S. João Damasceno afirma que “os corpos celestes não são as causas das nossas ações”. Mas seriam se a vontade, o princípio das ações humanas, fosse movida por eles. Logo, a vontade não é movida pelos corpos celestes.

Conclusão:

Do ponto de vista do seu movimento por um objeto externo, é manifesto que a vontade pode ser movida pelos corpos celestes; e isto no que diz respeito aos corpos externos - que, oferecidos aos sentidos,move a vontade - e os próprios órgãos dos poderes sensíveis dependem dos movimentos dos corpos celestes.

Mas, quanto ao modo como a vontade é movida por um agente externo para o exercício do ato, alguns têm afirmado que os corpos celestes atuam diretamente sobre a vontade humana. Mas isso é impossível, porque “a vontade está na razão”, segundo Aristóteles. Ora, a razão é um poder da alma que não está ligado a um órgão corporal. Portanto, a própria vontade é um poder absolutamente imaterial e incorpóreo. Ora, é óbvio que um corpo não pode agir sobre uma realidade incorpórea; antes ocorre o contrário, pelo fato de que as realidades incorpóreas e imateriais têm uma virtude mais formal e mais universal do que qualquer realidade corpórea. É portanto impossível que os corpos celestes atuem diretamente sobre a inteligência ou a vontade. É por isso que a opinião daqueles para quem “a vontade dos homens é tal como o Pai dos deuses e dos homens a faz” (ou seja, Júpiter, que representa aos seus olhos todo o céu), esta opinião é atribuída por Aristóteles para aqueles que afirmavam que a inteligência não difere dos sentidos. De fato, todas as faculdades sensíveis, por serem atos de órgãos corporais, podem receber por acidente o movimento dos corpos celestes, quando estes movem os órgãos corporais dos quais as faculdades são atos.

Porém, como se disse que o apetite intelectivo é de certa forma movido pelo apetite sensitivo, há indiretamente um impacto dos movimentos dos corpos celestes sobre a vontade, na medida em que esta pode ser movida pelas paixões. do apetite sensível.

Soluções:

1 .
Os movimentos multiformes da vontade humana podem ser reduzidos a uma determinada causa uniforme, mas que é superior à inteligência e à vontade. Ora, isso não pode ser dito de um corpo, mas apenas de uma substância imaterial. Assim, não é necessário que os movimentos da vontade sejam reduzidos ao movimento do céu como sua causa.

2 . Os movimentos do corpo humano podem ser atribuídos como causa aos movimentos do corpo celeste de três maneiras: na medida em que a própria disposição dos órgãos é adaptada às operações dos corpos celestes; na medida em que o apetite sensitivo também é acionado pela impressão desses corpos; finalmente, na medida em que os corpos externos se movem de acordo com o movimento dos corpos celestes, a partir do qual a vontade começa a querer ou não querer alguma coisa: é assim que quando chega o frio começamos a fazer fogo. Mas este movimento da vontade vem do objeto apresentado externamente, e não de um impulso interno.

3. O apetite sensível é o ato de um órgão corporal, como já dissemos. Além disso, nada impede que alguns sejam inclinados à ira, à concupiscência ou a alguma outra paixão deste tipo através da influência dos corpos celestes, como o são devido à sua aparência natural. Mas muitos homens obedecem às suas paixões, às quais só as pessoas sábias resistem. É por isso que na maioria das vezes verificamos o que é previsto a partir da observação das estrelas sobre as ações humanas. Mas, diz Ptolomeu, “o sábio reina sobre os outros” porque, ao resistir às suas paixões, neutraliza as influências dos corpos celestes pelo seu livre arbítrio e de forma alguma sujeito aos movimentos do céu; tornou-se um desses corpos celestes.

Ou devemos reconhecer com Santo Agostinho que “quando os astrólogos dizem a verdade, o fazem em virtude de uma inspiração oculta que a mente humana recebe sem se dar conta".

ARTIGO 6: A vontade é movida somente por Deus como um princípio externo?

Objeções:

1 .
Parece que Deus não é o único a mover a vontade como se fosse por um princípio externo. Na verdade, é natural que um inferior seja movido pelo seu superior, como os corpos inferiores são movidos pelos corpos celestes. Mas a vontade do homem tem alguém que, depois de Deus, é superior a ela, e esse é o anjo. Portanto, também pode ser movido por ele como um princípio externo.

2 . O ato da vontade segue o ato da inteligência. Mas, segundo Dionísio, a inteligência do homem não é acionada apenas por Deus, mas também pelas iluminações do anjo. Isto, portanto, também se aplica à força de vontade.

3 . Deus só pode ser a causa das coisas boas, pois Gênesis (1, 31) diz: “Deus viu tudo o que havia feito e era muito bom”. Portanto, se a vontade do homem fosse movida apenas por Deus, nunca estaria inclinada ao mal, ao passo que, segundo a expressão de Santo Agostinho, é ao mesmo tempo “aquilo pelo qual se peca e pelo qual se leva uma vida justa”.

Contudo:

O Apóstolo declarou (Fl 2,13): “É Deus quem opera em nós o querer e o efetuar”.

Conclusão:

O movimento da vontade vem de dentro, como o movimento natural. Agora, embora um ser possa mover uma realidade natural sem ser a causa da sua natureza, no entanto, para causar um movimento natural, ele deve de alguma forma ser a causa da própria natureza. Na verdade, a pedra é movida para cima por um homem que não causa a natureza da pedra, mas este movimento não é natural para a pedra, porque o seu movimento natural é causado apenas pelo autor da natureza. É por isso que Aristóteles diz que o engendramento move localmente corpos pesados e leves. Assim, o homem, que possui vontade, pode às vezes ser movido por um ser que não é a sua causa; mas é impossível que o seu movimento voluntário tenha como princípio um ser externo que não seja a causa da sua vontade.

Mas nada pode ser a causa da vontade, exceto Deus. E isso é duplamente óbvio. Em primeiro lugar porque a vontade é uma potência da alma razoável, que, como foi dito na primeira parte, só é causada pela criação somente de Deus. Em segundo lugar, porque a vontade está ordenada ao bem universal. Isto significa que ninguém além de Deus, o bem universal, pode ser a causa da vontade. Todos os outros bens são apenas participados e, portanto, apenas um bem particular; mas uma causa particular não dá uma inclinação universal. Assim, a matéria prima, potencialmente em todas as formas, não pode ser o efeito de nenhum agente específico.

Soluções:

1
. O anjo não é superior ao homem no sentido de que ele é a causa de sua vontade, assim como os corpos celestes são as causas das formas naturais, que são seguidas pelos movimentos dos corpos naturais.

2 . O intelecto humano é movido pelo anjo, por parte do objeto que se propõe ao seu conhecimento, em virtude de uma iluminação angélica. E é desta forma que a vontade também pode ser movida por uma criatura externa, como foi dito.

3 . Deus move a vontade do homem como o motor universal em direção ao objeto universal da vontade que é bom. Sem este movimento universal o homem não pode querer alguma coisa. Mas através da sua razão ele determina querer isto ou aquilo, o bem verdadeiro ou o bem aparente. Contudo, Deus às vezes move algumas pessoas de uma maneira especial a quererem algo bom com determinação; assim também aqueles a quem ele move pela graça, como será dito mais tarde.

 

Fonte - gloria.tv

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