Por Padre José Maria Iraburu
–E como lhe ocorre falar conosco sobre modéstia agora?
–Tenho várias razões para isso, e todas elas são válidas. De
fato, ao mesmo tempo em que louvarei a modéstia, tratarei da imodéstia
hoje difundida entre o povo cristão como mais um sinal de apostasia, que
exige conversão e reforma; e destacarei o lamentável silenciamento
atual do Evangelho da modéstia, um silenciamento que também exige
reforma. OK?
A castidade é uma virtude que, sob o movimento da caridade, guia e modera santamente o impulso reprodutivo humano, tanto em seus aspectos físicos quanto emocionais. Implica, portanto, liberdade, autocontrole e respeito à pessoa, assim como caridade e respeito ao próximo, que não é visto como objeto, mas como pessoa. A castidade é uma grande virtude, incluída na temperança, e é, portanto, na pessoa uma força espiritual (virtus), uma boa inclinação, uma facilidade para o bem da própria honestidade e, consequentemente, uma repugnância à impudência e à luxúria que lhe são contrárias.
E a modéstia é um aspecto da castidade. Enquanto a castidade modera o mesmo impulso reprodutivo, a modéstia regula a aparência, os gestos, a vestimenta, as conversas, os espetáculos e a mídia, ou seja, todo um conjunto de circunstâncias mais ou menos relacionadas a esse impulso sexual.
É por isso que Santo Tomás diz que “a modéstia se ordena à castidade, mas não como uma virtude distinta dela, mas como uma circunstância especial. Na verdade, na linguagem comum, um é tomado indistintamente pelo outro» ( STh II-II, 151,4). E Pio XII ensina que o sentido da modéstia consiste "na tendência inata e mais ou menos consciente de cada um de defender o seu bem físico da concupiscência indiscriminada dos outros, para o reservar, com prudente seleção das circunstâncias, para os sábios fins do Criador, que Ele mesmo colocou sob o escudo da castidade e da modéstia" ( Discurso 8-XI-1957). João Paulo II, em sua notável série de discursos sobre o Amor Humano no Plano Divino, deixou-nos textos preciosos sobre a modéstia, especialmente nos discursos proferidos entre 16-04-1980 e 6-05-1981.
A maioria dos leitores deste blog provavelmente tem alguma ideia de castidade. Mas talvez muitos deles, por outro lado, quase nunca tenham recebido o Evangelho da modéstia. Eles vivem na Babilônia, ou se preferir, em Corinto, e às vezes não percebem as enormes doses de descaramento que vêm assumindo sem maiores problemas de consciência. E isso, quer saibam ou não, acreditem ou não, gostem ou não, tem consequências terríveis para eles e para os outros.
A estranha doutrina da modéstia, pouco conhecida e apreciada no mundo pagão, chega ao conhecimento do povo através da Revelação bíblica, em relação ao pecado original. A Bíblia, de fato, apresenta a vergonha da própria nudez como um sentimento originário de Adão e Eva, como uma atitude cuja bondade é confirmada por Deus, que “fez roupas para eles e os vestiu” (Gn 3,7.21). Permanecer quase despido em público é algo contrário à vontade de Deus, é algo perverso. Esta tem sido a fé constante de Israel e da Igreja de Cristo.
Certas modas de vestuário, certos espetáculos, certas praias e piscinas, onde o véu do corpo humano desejado por Deus é quase totalmente eliminado, são inaceitáveis para os cristãos, que só os aceitam quando se envergonham de sua fé e caem em apostasia explícita ou implícita. São costumes mundanos, pagãos, certamente contrários, como provaremos com a ajuda de Deus, aos antigos ensinamentos dos Padres e à tradição cristã, que superou a falta de vergonha dos pagãos.
A nudez total ou parcial – relativamente normal no mundo greco-romano, em banhos, teatros, ginásios, jogos atléticos e orgias – foi e sempre foi rejeitada pela Igreja em todos os lugares. Retornar a ela não indica nenhum progresso – recuperar a naturalidade da nudez, removendo assim sua falsa malícia, etc. – mas sim uma degradação. É um mal, porque “o mal é a privação de um bem devido”, neste caso a vestimenta ( STh I,48,3).
É indecente que homens e mulheres apareçam seminus em público. Embora esse costume seja hoje moralmente aceito pela grande maioria, incluindo os cristãos, ele continua sendo mundano e anticristão. Jesus, Maria e José não aceitariam de forma alguma tal uso, não importa quão difundido fosse em sua terra. E os santos também não. Nem os melhores fiéis cristãos o aceitam hoje, na vida religiosa ou leiga.
Ocasião próxima do pecado. É praticamente impossível que alguém assuma, em si mesmo ou na contemplação dos outros, um grau tão alto de nudez – sem o pecado da impureza, ou pelo menos sem o perigo iminente, próprio ou alheio, de incorrer nele, segundo o que disse Cristo: "Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo impuro, já cometeu adultério com ela em seu coração" (Mt 5,28), e – sem o pecado da vaidade positiva, orgulho da própria beleza, ou negativo, dor pela própria feiura, o que dá no mesmo.
Por outro lado, mesmo que uma pessoa estivesse isenta das tentações mencionadas - algo difícil de acreditar, pelo menos se sua constituição psicossomática for normal - em todo caso ela prejudica o bem espiritual comum ao sustentar ativamente com sua conduta um mau hábito, que certamente é para a maioria de seus semelhantes uma ocasião de muitas tentações, e que, dessacralizando a intimidade pessoal, desvaloriza o corpo, e consequentemente a própria pessoa, oferecendo sua visão a qualquer um.
É o suficiente por hoje.
(E alguns acharão que esse pouco já é demais.)
Fonte - infocatolica
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