A Associação Internacional de Exorcistas (IAE) emitiu um memorando interno alertando fortemente contra o uso do livro "Os Seis Portões do Inimigo". "Experiência de um Exorcista", obra do padre espanhol Javier Luzón Peña, publicada em 2017 pela Altolacruz e amplamente divulgada entre fiéis e agentes pastorais.
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Ela mistura elementos verdadeiros com declarações estranhas ou contrárias à fé. |
O texto, que se apresenta como um manual baseado na experiência pessoal do autor, obteve ampla difusão entre fiéis e agentes pastorais interessados no ministério do exorcismo. Entretanto, de acordo com a IEA, ele contém inúmeras declarações doutrinárias e práticas que se desviam seriamente dos ensinamentos e tradições da Igreja Católica.
Críticas à base doutrinária e à práxis proposta
O documento do IEA, destinado ao uso privado e interno de seus membros, enfatiza que muitas das ideias centrais do livro são baseadas na experiência pessoal do autor, sem uma base clara na Revelação ou no Magistério. A nota questiona diretamente se essa experiência pode ser estabelecida como um critério de autoridade teológica e pastoral.
Os "seis portões" do inimigo
Um dos temas centrais do livro é a afirmação de que os demônios entram nos seres humanos por seis "portas": pecado, ocultismo, ressentimento, maldições, feridas maternas e laços ancestrais. A IEA responde que essa classificação não tem respaldo no ritual de exorcismo nem na doutrina católica, e que pode levar a interpretações supersticiosas, focando na ação do diabo em vez da graça de Deus.
Comunicação com os mortos e mediunidade
Outro dos pontos mais sérios é a afirmação do autor sobre uma suposta comunicação sobrenatural entre os vivos e os mortos. Luzón sustenta que almas do purgatório, bebês abortados e até almas condenadas podem se manifestar em pessoas possuídas ou influenciar os vivos. A IEA nega categoricamente essa doutrina, citando o Catecismo da Igreja Católica e ressaltando que, após a morte, não há possibilidade de mudança do destino eterno da alma, nem há interações como as descritas pelo autor.
Cura intergeracional e laços ancestrais
O livro propõe práticas de cura da "árvore genealógica" por meio de orações para libertar ancestrais ou cortar laços espirituais com eles. A IEA denuncia que essas ideias provêm de doutrinas sincréticas e influências orientais que são incompatíveis com a fé cristã. Tanto a Conferência Episcopal Espanhola (2024) como as da França, Polônia e Coreia do Sul alertaram para o grave risco doutrinal, psicológico e espiritual que esta prática acarreta, especialmente pela sua capacidade de isentar o indivíduo da sua responsabilidade moral, fomentando uma visão fatalista e exteriorista do pecado.
Classificações demoníacas, rituais não aprovados e linguagem esotérica
O autor também apresenta uma hierarquia demoníaca com nomes e funções não reconhecidos pela Igreja, bem como métodos de "exorcismo" de objetos, pessoas e até espíritos, que incluem expressões como "esferizar", "encerrar com o Sangue de Cristo", "extrair punhais espiritualmente" ou "costurar bem-aventuranças em pijamas". A IEA esclarece que esses procedimentos não fazem parte do Ritual de Exorcismo aprovado pela Santa Sé e que seu uso pode fomentar pensamentos mágicos e supersticiosos.
Exclusão dos possuídos da liturgia e proibições indevidas
O livro também desaconselha pessoas possuídas a participarem de celebrações litúrgicas ou orações comunitárias, o que contradiz a experiência de muitos exorcistas e a doutrina sacramental da Igreja. Luzón também alerta contra a imposição de mãos por leigos ou padres que levam uma "vida dupla", argumentando que isso pode transmitir "influências negativas", uma ideia que não tem base nos ensinamentos da Igreja.
Um guia não recomendado
A conclusão da IEA é clara: Os Seis Portões do Inimigo não é um texto recomendado para o treinamento de exorcistas ou para a orientação de crentes que possam estar sob influência demoníaca. A obra, eles alegam, mistura elementos verdadeiros com declarações estranhas ou contrárias à fé católica, o que pode desorientar os fiéis e causar danos espirituais consideráveis.
Um apelo à prudência doutrinal e pastoral
A AIE conclui sua nota exortando os exorcistas e agentes pastorais a evitarem a difusão de doutrinas não endossadas pela Igreja e a permanecerem fiéis ao Ritual dos Exorcismos e aos ensinamentos do Magistério. Diante de fenômenos espirituais complexos, lembre-se de que a prudência, o discernimento eclesial e o seguimento dos canais aprovados pela Igreja são essenciais para evitar enganar as almas e evitar o risco da superstição.
Fonte - infocatolica
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