A grande compatibilidade entre estes contornos poderia sugerir o maior segredo detrás da obra mais enigmática de Da Vinci? As implicações do Sudário de Turim com a obra de Da Vinci também têm sido objeto para algumas das descobertas de Átila Soares. Acima: o contorno do “Senhor Morto" presente na "Última Ceia".
![]() |
Acima: o contorno do “Senhor Morto"
presente na "Última Ceia" (IMAGEM: "O Cristo Morto", barroco brasileiro -
Museu de Arte Sacra, Belém - WikiCommons - Átila Soares / Antônio
Sales). |
Por Átila Soares
Após revelar como seria o verdadeiro rosto da Virgem Maria a partir do Santo Sudário, o designer e especialista em História e Arqueologia, natural de Niterói (rj), Brasil, Átila Soares da Costa Filho, revela um surpreendente (novo) achado. Também relacionado à relíquia, assim como ao maior gênio da História, desta vez, o feito foi sobre nada mais nada menos que a célebre “Última Ceia”. Segundo Átila, o mural executado por Leonardo em 1498 para o refeitório da Igreja de Santa Maria delle Grazie (Milão) também poderá guardar um elemento oculto reafirmando uma proximidade entre o artista e o maior tesouro da cristandade de todos os tempos, o Santo Sudário — o tecido de linho que teria envolvido o corpo de Jesus, após a morte, e gravado sua imagem durante a ressurreição.
Esse elemento seria a indicação do próprio corpo do Cristo morto formado pelo grupo dos 13 personagens à mesa. O efeito visual fica mais evidente através de um embaçamento neste conjunto que une Jesus aos apóstolos, onde poderemos notar uma figura humanóide deitada sobre a mesa — exatamente nos mesmos moldes do homem estampado no Sudário.
Razões para que o pesquisador defenda esta nova visão sobre a “Ceia” não faltam: segundo o próprio, para começar, já existe a identificação do rosto do Sudário nesta mesma pintura, na coluna à esquerda, acima e entre as cabeças de São Bartolomeu e São Tiago, o Menor.
Este recurso talvez servisse, também, para se indicar em qual lado da mesa estaria a cabeça do corpo “codificado”. Mais um fator é a suspeita de décadas sobre a toalha que cobre a mesa na pintura ser, na verdade, a Sagrada Mortalha. Esta é uma tese defendida pela arqueóloga e crítica de arte Yasmin von Hohenstaufen, assim como pelo recém-falecido médico e autor Gabriele Montera. Este último chegou a apresentar uma compatibilidade virtualmente precisa de dimensões entre o verdadeiro Sudário e a toalha sobre a mesa na obra-prima de da Vinci — o que também explicaria a estranha desproporcionalidade do móvel (inadmissível para alguém como Leonardo) com a quantidade de “acomodados” a se ajustarem. Outro ponto é que Átila também já havia descoberto em 2021 um corpo similar num desenho atribuído a Leonardo, o “Cristo de Lecco”, pertencente a uma coleção privada.
Na sequência, estranhando a toalha não apresentar nenhuma das marcas da paixão, o brasileiro deduziu que estas deveriam estar na composição, em algum outro lugar. E foi aí que se deu conta de que o corpo poderia, simplesmente, estar em repouso sobre a própria toalha/mortalha. E, se as desconfianças estiverem corretas, para Átila, nada mais coerente que o corpo espectral do Messias fazer parte e ser apresentado de maneira sutil e poética por sobre a própria mortalha: «A imagem fala por si: a formação dos personagens na “Última Ceia” possui um nível de compatibilidade altíssimo com o que deva ter sido o corpo estampado no Sudário. Mesmo considerando que as reconstituições artístico-forenses tragam pequenas variações, entre si (principalmente nos pés), o aspeto geral permite indicar uma imensa similaridade com a icónica pintura de da Vinci — o que sugere fortemente que, não só o artista tinha conhecimento do Santo Sudário, como nutria grande interesse sobre o mesmo». E continua: «Em sendo, mesmo, algo intencional da parte de Leonardo, tal prática de ocultar referências em suas criações é um fato já bem considerado no meio académico, sobretudo pelas palavras do próprio artista no “Tratado da Pintura” (1632). Dizia ele: “Não deveríamos desprezar quem olha atentamente para as manchas da parede, os carvões no fogo, as nuvens, a correnteza da água ou coisas similares que, se bem considerados, proporcionarão encontrar criações extraordinárias a despertar o espírito do pintor para novas e diversas composições: de batalhas, de animais e homens, paisagens, demónios e outras coisas fantásticas”».
Para o pensativo — e nada convencional — Leonardo, certamente tudo valeria como um exercício de percepções ou de raciocínio. Um jogo com grande potencial de tornar qualquer pintura mais rica e interessante. Então, nada mais leonardiano como o que aqui se sugere, explica o pesquisador.
Prof. Átila Soares da Costa Filho é bacharel em Desenho Industrial (PUC-RIO) e pós-graduado em Arte e Tecnologia, História da Arte, Arquitetura, Arqueologia e Patrimônio, História da América, Filosofia e Sociologia, Paleontologia e Cultura, História e Antropologia. É membro do Conselho Científico na Mona Lisa Foundation (Zurique), na Fondazione Leonardo da Vinci (Milão), no projeto L'Invisibile nell'Arte c/o Comitê Nacional para a Valorização do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Roma), no Centro Studi Leonardeschi (Varese, Itália) e na revista internacional técnico-histórica, Conservation Science in Cultural Heritage, publicada pelo Departamento do Patrimônio Cultural da Universidade de Bolonha.
Artigo publicado no L'Osservatore Romano em língua portuguesa
Fonte - vaticannews
Nenhum comentário:
Postar um comentário